04/Sep/2023
Em teleconferências recentes sobre os resultados do segundo trimestre de 2023, executivos das três maiores companhias de carnes do Brasil, JBS, Marfrig e Minerva, citaram perspectivas otimistas de recuperação das vendas tanto no mercado doméstico como no externo, o que poderia elevar os preços pagos pela carne dentro e fora do Brasil e ajudar no lucro. No cenário local, foram mencionados argumentos como programas de transferência de renda, redução do desemprego e queda da inflação. Do lado da exportação, a expectativa é de que os chineses importem volumes de carne maiores nos próximos meses como preparação para o Ano-Novo chinês, no início de 2024. Ao fim de agosto, entretanto, estes fatores ainda não se traduziam em preços e volumes significativamente maiores. A Scot Consultoria observa que o consumo doméstico continua bastante retraído, quadro que se refletiu em queda dos preços dos principais cortes de carnes na última semana. Embora o nível de emprego tenha melhorado, teve até deflação (em junho), ou seja, sinais de que o consumo deve melhorar, mas isso não está ocorrendo na velocidade e intensidade necessárias.
Se o consumo da carne estivesse realmente forte, o preço da carne estaria aumentando, mas não está. Nem o Dia dos Pais ajudou no escoamento da carne. O preço afugenta o consumidor. De acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), o valor médio da carcaça casada bovina (junção do traseiro, dianteiro e da ponta de agulha) até 22 de agosto estava em R$ 16,50 por Kg, 7,9% abaixo de janeiro de 2023 e preço 11% inferior ao de agosto de 2022, em termos reais (as médias mensais foram deflacionadas pelo IGP-DI). É também a menor média mensal desde setembro de 2019, quando a carcaça casada foi negociada a R$ 15,93 por Kg, em termos reais, no atacado de São Paulo. O forte recuo foi atribuído ao fraco consumo brasileiro de carne bovina somado ao aumento da oferta de bois disponíveis para o abate. O BB Investimentos e o Santander, a ampla oferta de carne de frango no mercado brasileiro tem jogado os preços da proteína para baixo, o que a torna mais vantajosa ao consumidor do que a carne bovina e limita uma reação dos preços desta última.
Preços em baixa da carne bovina podem atrair o consumo, em especial no último trimestre, sazonalmente mais forte por causa das festas de fim de ano. Se o boi gordo estivesse caindo (como está desde o início do ano) mas o preço do frango subindo, seria possível dizer que isso daria sustentação ao preço da carne bovina, mas o preço do frango não está subindo. A StoneX lembra que o preço da carcaça casada do boi, ou seja, do boi inteiro, vem diminuindo nas últimas semanas, um sinal de demanda doméstica fraca. A grande maioria dos frigoríficos também está distante das compras há semanas, o que é uma reação ao consumo doméstico mais fraco. Neste momento, os preços da carne bovina no mercado doméstico não estão em recuperação. O que se vê são sinais de consumo fraco e uma queda gradual dos preços da carcaça casada no atacado de São Paulo. Quanto ao mercado externo, todas as atenções se voltam à demanda chinesa, de longe o maior importador de carne bovina do Brasil, com mais de 60% das exportações do País.
Depois de um primeiro semestre de vendas comprometidas por um auto embargo temporário das vendas externas do Brasil ao país, em virtude da detecção de um caso atípico de ‘vaca louca’ no Pará no começo do ano, o mercado vem monitorando semanalmente dados de exportações brasileiras aos chineses, em busca de sinais de recuperação tanto de volumes como de preços. Espera-se um aumento mais acentuado das vendas ao país em setembro, outubro e novembro, período em que a China vai às compras para se preparar para o Ano-Novo. A Scot Consultoria diz que o Brasil é o fornecedor global de carne bovina com maior competitividade no momento para aproveitar o retorno das compras chinesas. Nos Estados Unidos, a oferta é restrita e assim deve permanecer ao menos pelo próximo ano, o que manterá em patamares elevados os preços da proteína norte-americana. A Argentina, importante exportador de carne bovina para o mundo, lida com a desvalorização da moeda local e a instabilidade econômica.
Há cerca de 15 dias, chegou a circular na imprensa a notícia de que o país suspenderia por 15 dias suas exportações de carne bovina, após uma forte desvalorização do peso em decorrência da vitória, na eleição primária, do candidato à Presidência de extrema direita, Javier Milei. A notícia, contudo, foi negada pela Secretaria de Agricultura, Pecuária e Pescas. Os únicos países que estão aumentando suas exportações em 2023 são Brasil, Austrália e México, que vende bastante para os Estados Unidos. O Brasil é o maior exportador (no momento). Já o esperado aumento dos preços pagos pelos chineses pela carne brasileira precisa se confirmar. O Santander comenta que algumas indústrias vêm reportando contratos com preços mais altos, mas as estatísticas até agora não mostram isso. Em julho, o Brasil exportou 160,79 mil toneladas de carne bovina fresca, refrigerada ou congelada, 3,8% menos do que em julho de 2022, enquanto o preço médio pago pelo produto caiu 27,6% na mesma base de comparação, de US$ 6.549,90 por tonelada há um ano para US$ 4.740,30 por tonelada em julho/2023, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (Secex).
Em agosto, até a terceira semana do mês, o País havia exportado uma média diária de 8.903 toneladas, 0,8% acima da média diária de agosto do ano passado, com preço médio da carne no acumulado de três semanas de US$ 4.513,00 por tonelada, 26,4% mais baixo de um ano atrás (US$ 6.132,00 por tonelada). Mesmo que o Brasil venda muito mais para a China no segundo semestre, está vendendo mais barato, o que tende a trazer menos renda para quem faz a venda, pontua a StoneX. Hoje, não há fundamentos nos mercados interno e externo para afirmar que o momento é de recuperação nos preços. De volume, há tendência de alta, mas de preços, não. Negociadores chineses estão cientes da realidade atual do mercado pecuário brasileiro, de grande oferta de bois terminados, indústrias estocadas e preços em baixa. Os players acompanham o mercado, não é segredo que o Brasil está em ano de elevada oferta e os compradores podem aproveitar esse momento para jogar o preço para baixo. A China entendeu como funciona o mercado brasileiro, sabe que há superprodução agora e que por isso pode pagar menos pela carne brasileira. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.