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04/Sep/2023

Boi: preço em baixa eleva as margens de frigoríficos

A queda de mais de 33% do preço do boi gordo no Brasil no último ano e a perspectiva de que seguirá enfraquecido devem contribuir para que frigoríficos alcancem no segundo semestre, se não uma melhora, ao menos margens de lucro superiores às de 2022. O cenário de custos é um pouco mais positivo para a Minerva Foods, que não possui operações nos Estados Unidos nem sofre da alta da arroba naquele país, como JBS e Marfrig. Mas, ainda pairam dúvidas no mercado se fatores citados por frigoríficos no fim do segundo trimestre, como a recuperação da demanda e dos preços pagos pela China e a retomada do consumo doméstico de carne, vão se concretizar nos próximos trimestres e viabilizar melhores resultados para as empresas.

O ciclo pecuário atual no Brasil, de ampla oferta de gado e cotações do boi gordo em baixa, ajuda os frigoríficos e seu Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização), indicador que é base para outros dois monitorados de perto por investidores e analistas: a margem Ebitda (porcentual de Ebitda que uma empresa gera em relação à sua receita líquida) e a alavancagem (relação entre a dívida líquida da companhia e o Ebitda apurado nos últimos 12 meses). Contudo, apenas o boi barato no País não deve ser suficiente para frigoríficos apresentarem uma evolução das margens Ebitda, de acordo com o Santander. O Santander trabalha com perspectiva de aumento da alavancagem e queda das margens de JBS e Marfrig no segundo semestre, não apenas por causa da arroba em alta nos Estados Unidos, como também pela sazonal queda do consumo de carne bovina no mercado norte-americano. No caso de JBS e Marfrig, é uma questão de expectativa versus realidade.

Elas terão uma entrega de resultados um pouco melhor do que o mercado espera, mas a alavancagem deve subir, a margem cair, o que é normal, pelo impacto da indústria cíclica (nos Estados Unidos). No segundo trimestre de 2023, a margem Ebitda da JBS chegou a 5%, acima dos 2,5% do primeiro trimestre, mas bem abaixo dos 11,2% registrados no segundo trimestre de 2022. No caso da alavancagem da companhia, subiu de 1,64 vez no segundo trimestre do ano passado para 3,14 vezes no primeiro trimestre de 2023 e 3,87 vezes no segundo. A margem Ebitda da Marfrig também evoluiu entre o primeiro e o segundo trimestres deste ano, de 4,7% para 7,1% (era 11,5% ao fim do segundo trimestre de 2022), enquanto a alavancagem (considerando a dívida em reais) se manteve em 3,5 vezes no primeiro e segundo trimestres, acima das 2 vezes reportada ao fim de junho do ano passado. No segundo trimestre, houve melhora na margem e queda da alavancagem ante o primeiro porque, no verão, historicamente, o consumo aumenta nos Estados Unidos e os preços sobem de forma desproporcional ao custo.

Mas, no terceiro e quarto trimestres o consumo volta a cair, chega o inverno e o preço da arroba sobe. As operações como um todo de JBS e Marfrig tendem a ser afetadas pelos negócios nos Estados Unidos. A receita gerada pela unidade de negócios de carne bovina da JBS nos Estados Unidos (JBS Beef North America) em 2022, de aproximadamente R$ 114 bilhões, representou 30,4% da receita líquida global da companhia, de quase R$ 375 bilhões. No caso da Marfrig, a receita líquida da operação América do Norte no ano passado, de R$ 61,4 bilhões, correspondeu a 47% da receita líquida total obtida pela empresa, de R$ 130,6 bilhões. No caso da Minerva, até antes do anúncio de compra das 16 plantas da Marfrig na América do Sul por R$ 7,5 bilhões (R$ 1,5 bilhão já pago) havia a perspectiva de desalavancagem no terceiro e quarto trimestres, justamente porque a companhia se beneficia da queda da arroba no Brasil e, diferentemente de seus pares, não é afetada pela alta do gado nos Estados Unidos.

A aquisição dos ativos da Marfrig, entretanto, trouxe a perspectiva de aumento da alavancagem no curto prazo, para arcar com o pagamento das dívidas feitas para financiar os R$ 6 bilhões que deverão ser quitados no momento de conclusão da operação. A S&P Global Ratings, por exemplo, espera que a alavancagem da Minerva atinja um pico levemente acima de 3 vezes em 2024, com o fechamento da transação, para depois retornar rapidamente a 2,5 vezes em 2025. Sem considerar a operação de compra de ativos da Marfrig pela Minerva Foods, o BB Investimentos enxerga possibilidade de as margens Ebitda dos maiores frigoríficos do País melhorarem em razão da queda dos preços do boi gordo no Brasil. A tendência é de a alavancagem piorar, porque Ebitdas registrados no ano passado foram muito fortes, mais do que os apurados em 2023. Os Ebitdas melhores nos últimos 12 meses, por exemplo de Marfrig e JBS, estão sendo substituídos por outros mais fracos no cálculo da alavancagem, decorrentes de resultados mais fracos vindos da América do Norte. Mas, não é tão simples, porque alguns fatores que não são possíveis de estimar podem afetar o endividamento líquido da empresa, como marcação a mercado de dívida em dólar e aspectos relacionados a derivativos.

O Ebitda da América do Sul de empresas que atuam na América do Norte poderia surpreender positivamente (pelo custo em baixa no Brasil) e acabar compensando. O Santander trabalha com a perspectiva de quedas sequenciais de margem Ebitda no terceiro e quarto trimestres para JBS e Marfrig, e também na comparação com os trimestres equivalentes de 2022, mas aspectos que podem minimizar tais recuos. No caso da JBS, ajustes na área comercial e revisões de contratos. Já a concorrente Marfrig opera em uma região do Estado norte-americano do Kansas onde vende mais produtos premium que a média do mercado. Levantamento da Scot Consultoria mostra que, quando se considera somente a relação entre o valor pago por empresas pela arroba do boi gordo e os preços obtidos com a venda da carne (com ou sem osso), couro, sebo, miúdos, derivados e subprodutos, as margens de lucro dos frigoríficos vêm aumentando progressivamente ao longo do último ano.

Em 23 de agosto de 2022, quando o boi gordo valia R$ 292,89 por arroba, a margem em relação ao Equivalente Scot desossa (venda da carne sem osso, couro, sebo, miúdos, derivados e subprodutos) era de 12%. Em 24 de julho deste ano, com o boi gordo a R$ 240,10 por arroba, a margem foi a 20,8%. Em 21 de agosto, com o boi gordo cotado a R$ 210,15 por arroba, a margem chegou a 33,4%. Mesmo quando considerada a venda somente da carne do boi (48% de traseiro, 39% de dianteiro e 13% de ponta de agulha), o que é chamado de "equivalente físico", as margens vêm evoluindo. Eram negativas em 5,3% no dia 23 de agosto do ano passado, ainda eram negativas em 2,6% no dia 24 de julho, ficaram positivas em 3,4% em 9 de agosto e aumentaram para 8,1% em 21 de agosto. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.