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01/Sep/2023

"Carne” de laboratório: investimentos e polêmica

O avanço da tecnologia possibilita desenvolver o alimento a partir de células coletadas em biópsias. O que há dez anos parecia ser exclusividade das produções de ficção científica, hoje é uma indústria que recebe cada vez mais investimentos. A “carne” cultivada em laboratório, que não é vegana, nem vegetariana, mas também não envolve abates, gera curiosidade dos consumidores e ganha espaço no mercado, inclusive entre os brasileiros. Na prática, produzir carne em laboratório envolve colher e cultivar células de animais produtores de proteína, para obter um produto com as mesmas características físicas, nutricionais e palatáveis. O benefício, para os laboratórios, é evitar o abate e o sofrimento dos animais. O primeiro passo para criar carne cultivada é obter células de animais por meio de biópsias ou as extraindo de um ovo fertilizado. Essas células são colocadas em meios de cultura para estimular sua multiplicação em grande escala. O resultado, então, é um produto com aparência, cheiro, sabor e textura da carne, idêntica ao que consumimos diariamente.

A “carne” cultivada em laboratório vem sendo estudada e produzida por pelo menos 156 empresas ao redor do mundo. Segundo um relatório da ONG The Good Food Institute, no ano passado, as pesquisas custaram US$ 896 milhões, R$ 4,4 bilhões, em cotação atual. A Embrapa Suínos e Aves, sediada em Santa Catarina, divulgou em janeiro que está à frente de um estudo para desenvolver carne de frango cultivada em laboratório. A escolha se deu por ser uma proteína versátil, consumida em todo o País, e por haver um banco genético acessível. A técnica específica envolve o uso de estruturas tridimensionais de nanocelulose bacteriana que apresentam características semelhantes aos cortes descelularizados de peito de frango. Ou seja, possuem o mesmo tamanho e aparência, e por isso serão usadas como suporte ao cultivo das células. As células então são colocadas na celulose através da técnica de perfusão, semelhantemente ao utilizado para recelularização de órgãos. A instituição afirmou que os primeiros protótipos para análises sensoriais e nutricionais deve ficar pronto ainda em 2023. É um assunto discutido há algum tempo.

Mas, o ganho de escala está se dando agora porque a tecnologia está ficando mais viável, e, por isso, os investimentos no desenvolvimento dessas proteínas alternativas começam a acompanhar esse momento e estão cada vez maiores. O setor privado também entra na disputa. A brasileira JBS, considerada a maior empresa de alimentos do mundo, prevê um investimento de US$ 100 milhões, R$ 495 milhões, até 2025 para se tornar uma das maiores fabricantes de carne de laboratório no mundo. Parte deste investimento foi utilizado em 2022 na aquisição de 51% da empresa espanhola BioTech Foods, especializada no produto, e na construção da primeira fábrica em escala comercial. A projeção da JBS é produzir mais de 1 mil toneladas de carne cultivada ainda em 2024. E a companhia considera o Brasil um dos mercados-chave para o novo produto. Se por um lado o Brasil desponta na vanguarda das pesquisas, continua atrás em termos de regulação do setor, assim como a maioria dos outros países. Somente dois países já aprovaram a comercialização de carnes cultivadas em laboratório: Singapura e Estados Unidos.

Em junho deste ano, o Departamento de Agricultuta dos Estados Unidos (USDA) aprovou que duas empresas (Upside Foods e a Good Meat) produzam e vendam proteína de frango artificial. Outros países estão na vanguarda da proibição, como Itália e Uruguai. Na Itália, está em tramitação um projeto de Lei proposto pelo Executivo em março de 2023 visando proibir a comercialização de “alimentos artificiais”. A iniciativa faz parte de uma “declaração de guerra” da primeira-ministra Giorgia Meloni contra os alimentos sintéticos, que segundo ela seriam uma ameaça à tradição agrícola italiana. No Uruguai, país conhecido por sua potente pecuária, há um projeto de lei semelhante que foi apresentado em junho de 2023 e propõe a mudança de uma lei já existente que restringe a rotulagem desse tipo de alimento, proibindo o uso do termo “carne” ou qualquer representação que sugira se tratar de um produto de origem animal. O texto propõe a proibição da importação, fabricação e venda de produtos alimentícios que contenham células de cultivo animal produzidas em laboratório. Fonte: Globo Rural. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.