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11/Aug/2023

Minerva Foods divulga resultados do 2º trimestre

A Minerva Foods registrou lucro líquido de R$ 120,7 milhões no segundo trimestre de 2023, valor que representa uma queda de 71,6% em relação aos R$ 424,7 milhões contabilizados em igual período de 2022. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) atingiu R$ 711,2 milhões no trimestre encerrado em junho, 8,6% abaixo dos R$ 778 milhões apurados no segundo trimestre do ano passado. A margem Ebitda ficou em 9,8%, ante 9,2% no segundo trimestre de 2022. A receita líquida no período de abril a junho somou R$ 7,276 bilhões, recuo de 14,1% em comparação ao período correspondente de 2022. A receita bruta da companhia somou R$ 7,759 bilhões no segundo trimestre, queda de 13,4% na comparação anual, mas avanço de 13,9% ante o primeiro trimestre deste ano. A receita bruta com o mercado externo atingiu R$ 5,108 bilhões, redução de 19,8% ante igual intervalo de 2022, porém avanço de 19,9% em relação ao primeiro trimestre de 2023. Com o mercado interno, a receita bruta alcançou R$ 2,650 bilhões, 2,1% maior do que há um ano e 4% superior à receita bruta apurada entre janeiro e março deste ano.

O segundo trimestre se deu ainda sofrendo de ressaca do fechamento do Brasil (das vendas de carne bovina do País) para a China, mesmo assim a Minerva teve uma diversificação grande de destinos para suas exportações, ocupamos espaço em outros mercados, o que permitiu que nós atingíssemos resultados positivos com um cenário complexo. Além disso, o mercado interno foi razoável, o Brasil teve destaque no total das vendas, então mostra o trabalho de diversificação de canais, somado com a gestão de risco. Entre os principais mercados que substituíram parcialmente as vendas para a China foram as Américas e o Oriente Médio. A queda na receita líquida no segundo trimestre refletiu a queda dos preços dos insumos e do preço da carne. Mas, a despeito a queda do preço da carne, houve redução do preço do insumo mais do que proporcional por causa das ferramentas de gestão de risco da empresa que permitiram gerar uma margem melhor. O lucro líquido menor na comparação anual decorre de efeitos não recorrentes que se refletiram no segundo trimestre do ano passado, relacionados principalmente à variação cambial, que fizeram com que o lucro líquido daquele período fosse maior que o esperado.

Se considerar uma base (de dados de lucro líquido) recorrente, fizemos um lucro líquido (no segundo trimestre de 2023) totalmente dentro do que era esperado. Destaque para o fato de que, nos últimos doze meses encerrados no fim do segundo trimestre, a margem Ebitda ficou em torno de 9%, o que mostra que os instrumentos de gestão de risco desenvolvidos pela empresa se mostram cada vez mais eficientes diante da volatilidade do mercado de commodities. O preço do gado caiu 30% a 35% de um ano para cá, isso teve impacto obviamente em preços de carne bovina no mercado interno e externo, mesmo assim os instrumentos de gestão funcionaram muito bem e ajudaram a manter a margem bastante saudável. Ressalta-se que, apesar das quedas verificadas na comparação anual, houve recuperação de diversos indicadores em relação ao primeiro trimestre do ano, atribuída, entre outros fatores, ao retorno das compras chinesas após o registro de um caso atípico de “vaca louca” no Pará no início do ano, que levou a uma interrupção das exportações brasileiras à China.

A receita líquida da companhia no segundo trimestre foi 14% maior do que no primeiro trimestre deste ano, enquanto o lucro líquido aumentou 5,9% na mesma base de comparação. O Ebitda também cresceu, 33,7%, enquanto a margem Ebitda no primeiro trimestre era de 8,3%. Os preços no mercado externo no segundo trimestre caíram quase 20% em dólar contra o segundo trimestre do ano passado, mas contra o primeiro trimestre deste ano teve crescimento de 20%. Então, tem crescimento do preço em dólar no primeiro trimestre, crescimento de volume contra o primeiro trimestre no mercado externo de 12%, isso já mostra uma retomada importante de China e uma penetração ainda maior em outros mercados de exportação. A Minerva Foods contabilizou 314,1 mil toneladas de carne vendidas no segundo trimestre, 2,4% abaixo de igual período do ano passado, mas 9% acima do volume do primeiro trimestre deste ano.

A Minerva Foods reforçou que as exportações continuam como um dos principais vetores comerciais da companhia, representando 65% da receita bruta em 12 meses encerrados no segundo trimestre de 2023. No segundo trimestre, as exportações representaram 68% da receita bruta. A empresa segue na liderança das exportações de carne bovina a partir da América do Sul, com cerca de 20%. As exportações a partir do Brasil representaram 66% da receita bruta no trimestre do País. Considerando a América do Sul sem Brasil, as exportações representaram 71% da receita bruta na região; na Austrália, 68% da receita bruta do país veio das vendas externas de carne. O Brasil foi a origem de 47% da receita bruta da companhia no segundo trimestre, seguido de Paraguai (16%) e Argentina (12%). Sobre o mercado interno, os estoques de carne bovina, formados no primeiro trimestre com a interrupção temporária de exportações do Brasil à China em virtude de um caso atípico de “vaca louca” no Pará no início do ano, devem ser pressionados à medida que a demanda interna pelo produto se acelerar ao longo do segundo semestre.

A expectativa é de que a alavancagem da companhia (relação entre dívida líquida e Ebitda) retorne aos níveis de antes da interrupção dos embarques de carne bovina brasileira à China. A suspensão ocorreu no primeiro trimestre em virtude de um caso atípico de “vaca louca” identificado no Pará. Ao fim do segundo trimestre de 2023, a Minerva tinha uma alavancagem de 2,7 vezes. No primeiro trimestre, fechou com 2,6 vezes, mas no término de 2022 a alavancagem era de 2,15 vezes. O cenário é positivo, com a China que representa 40% da exportação retomando a demanda. A expectativa é de melhoras subsequentes até o fim do ano, isso se traduz em melhor Ebitda e geração de caixa, que por sua vez vai se traduzir em retorno da alavancagem aos níveis antes do embargo da China. A antecipação do dividendo é uma confiança no cenário benigno que está previsto para o fim do ano (previsão de pagamento de R$ 114 milhões ou R$ 0,19 por ação em dividendos, a ser desembolsado no fim de agosto).

A Minerva Foods desembolsou em torno de R$ 60 milhões para expansão de operações no segundo trimestre de 2023, entre as quais na unidade de Palmeiras de Goiás (GO). Houve também investimento na instalação de uma nova linha de beef jerky (semelhante à carne seca, bastante demandado na América do Norte), para private Label (outras marcas). Ao fim de junho, aproximadamente 54% da dívida da companhia estava indexada à variação do dólar, mas ressaltou que a empresa "hedgeada" (usa instrumentos de hegde) no mínimo 30% da exposição cambial de longo prazo. Ao fim do segundo trimestre de 2023, a Minerva contabilizava uma dívida líquida de R$ 7,696 bilhões e alavancagem de (dívida líquida/Ebitda dos 12 meses encerrado no segundo trimestre) de 2,7 vezes. A queda dos preços do boi no mercado interno e a valorização do Real ante o dólar no primeiro semestre surpreenderam a diretoria da Minerva Foods e devem impedir que a companhia atinja um crescimento de receita de dois dígitos ao fim de 2023, como aventado no fim do ano passado.

Mas, o desempenho da receita da empresa tende a ser mais positivo do que no primeiro semestre. Nos últimos 12 meses encerrados no segundo trimestre, os volumes vendidos aumentaram 3,9% ante igual período de 2022, mas a receita caiu 4,7% refletindo a redução dos preços. Teve uma queda importante de preços que não estava no script, porque a empresa não esperava que o gado ia cair 35%. Em alguma medida, a redução do preço do gado, falando do mercado brasileiro, acaba reduzindo nominalmente as receitas, a despeito do crescimento de volume. Também não era esperada a apreciação do Real ante o dólar, na proporção em que ocorreu, no primeiro semestre, o que resultou em uma queda das receitas da companhia na moeda brasileira. O fato positivo é que os volumes vendidos estão crescendo 4% no LTM (período de 12 meses encerrado no segundo trimestre) ante LTM anterior e neste trimestre os volumes cresceram 9% em relação ao primeiro trimestre. Também está havendo recuperação de preços da carne, que deve continuar acontecendo com mais força no terceiro trimestre.

Colocando tudo isso na conta, é difícil projetar um crescimento de dois dígitos da receita para 2023, acima de 10% no ano ante ano passado. Mas, considerando os dados do desempenho de crescimento de volume, dinâmica de preços da carne a partir do segundo semestre, dinâmica de preços de câmbio e de boi, dá para chegar em crescimento de receita, mas talvez não nos dois dígitos. Porém, muito mais positiva do que foi no primeiro semestre, que realmente tem uma queda de 4% a 5% na receita nominal. O otimismo na recuperação da demanda chinesa e nos preços pagos pela carne bovina se sustenta na demanda crescente da classe média chinesa, especialmente dos jovens. A empresa vem observando o maior interesse tanto em restaurantes e redes de food service (bifes e hambúrgueres) como de redes varejistas de regiões mais desenvolvidas do país, que têm dado mais espaço à carne bovina. Todos os problemas sanitários, frango com gripe aviária e suínos com PSA (peste suína africana), abalaram a imagem dessas proteínas, especialmente junto à população mais jovem da China.

A carne bovina se tornou um produto aspiracional, especialmente para a classe média e população mais jovem. A ocidentalização dos hábitos e uma prática que começou na pandemia de o varejo ter carne para chineses prepararem dentro de casa, mostra uma tendência muito grande. Sobre o preço do boi gordo no segundo semestre, tomando por base a curva futura dos preços da arroba, apostar numa estabilidade do preço do gado não está fora do que deve ocorrer nos próximos seis meses. Tendo em vista o bom desempenho das vendas e a boa capacidade de compra da companhia (com preços de boi próximos da estabilidade), a expectativa é de que a margem bruta (relação entre lucro bruto e receita) continue em patamares bastante favoráveis. Isso vai acabar gerando margens Ebitda favoráveis. No segundo trimestre de 2023, a margem Ebitda da Minerva Foods foi de 9,8%, ante 9,2% um ano antes.

As vendas no Oriente Médio de carne de cordeiro produzida pela Minerva Foods na Austrália vêm surpreendendo positivamente a companhia. A empresa ‘plugou’ o cordeiro na estrutura comercial do Oriente Médio e isso permitiu explorar mercados até então fora do radar das operações. A companhia decidiu centralizar, no começo do ano, estruturas internacionais em Dubai, o que permitiu vender cortes antes vendidos na China para outros mercados. Também houve a aquisição, no fim de 2022, da ALC (Australia Lamb Company). Uma grande surpresa positiva foi a performance no Oriente Médio com cordeiro. Era esperado, mas a empresa foi positivamente surpreendida com o quanto o Oriente Médio estava pouco explorado pela estrutura anterior. Ao mesmo tempo, alavancou vendas de cordeiros em alguns mercados para ter mais oferta carne, como por exemplo nos Estados Unidos e no Japão.

O cordeiro já tinha uma boa performance nestes países e a Minerva alavancou novos potenciais clientes para essa carne, fazendo a venda combinada. A América do Sul também vem conquistando mais espaço no mercado internacional de carnes, em virtude de, na região, haver dois modelos de produção, a pasto e com grãos em confinamento ou semiconfinamento. Os preços dos grãos estão se estabilizando em patamar mais alto. Portanto, tem aumentado o spread (diferença) entre o custo de produzir na América do Sul e na América do Norte, onde predomina o sistema de confinamento. Então a América do Sul é o grande vetor de fornecimento de carne bovina. A retomada dos abates ao longo do ano (aumento de 22,1% em volume no segundo trimestre de 2023 em comparação ao primeiro trimestre) levam a crer que no terceiro e quarto trimestres deste ano a companhia deve operar com utilização elevada de sua capacidade produtiva, no mesmo patamar ou até superior à do segundo trimestre.

Há uma grande disponibilidade de animais para abate, por causa do ciclo pecuário. A empresa tem buscado maior desintermediação na relação com pecuaristas em toda a América do Sul. A Minerva também tem buscado, fora do Brasil, inovar em garantia de preços futuros e no financiamento de produtores. A estratégia de originação é buscar a desintermediação e analisar os custos de confinamento, permitindo a trava da margem dos produtores e dando estabilidade no fornecimento. A estratégia é cada vez mais global. Na América do Sul, a ideia é levar os instrumentos mais avançados para outros países, o que incrementa a parceria da empresa com os produtores. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.