13/Jul/2023
A JBS, uma das maiores empresas de alimentos do mundo, quer listar suas ações nos Estados Unidos, um mercado que dá mais visibilidade a investidores internacionais e onde os concorrentes da companhia são negociados a valores muito maiores. O plano é fazer uma dupla listagem, com ações na Bolsa de Valores de Nova York (Nyse) e na B3, e vai ser proposto agora aos acionistas da empresa. A listagem na Bolsa de Nova York pode acontecer em dezembro, caso os próximos passos ocorram dentro do previsto. É um passo que tem condição de acelerar movimentos estratégicos da JBS. Tem poder transformacional e estratégico como teve a abertura de capital. Além de criar condições para a valorização da empresa, a dupla listagem deve ampliar a capacidade de financiamento da JBS a um menor custo. Nas captações, a empresa ganha mais flexibilidade e pode, por exemplo, fazer no futuro uma oferta subsequente de ações (follow-on) no Brasil e nos Estados Unidos, potencialmente acessando muito mais investidores.
No Brasil, a JBS abriu o capital na B3 em 2007, é negociada em 5,9 vezes, considerando o múltiplo medido pela relação entre o valor da companhia ('enterprise value' ou EV) e o Ebitda projetado, número monitorado de perto pelos analistas. Nos Estados Unidos, onde a empresa tem hoje boa parte dos seus negócios, os valores dos concorrentes são bem mais altos, o que animou a JBS a dar esse novo passo. A Pilgrim's Pride, empresa da qual a JBS detém 82% do capital, é negociada a um múltiplo de 9,3 vezes. A Tyson Foods, principal concorrente do grupo brasileiro nos Estados Unidos, mas sem ter a mesma diversificação geográfica, é negociada a 11,5 vezes. Outro exemplo é a Hornel, de alimentos preparados, negociada a 15,8 vezes. A concretização da dupla listagem é um projeto antigo da JBS. A nova tentativa deve ser feita por uma estrutura de incorporação de ações. A proposta é quem tiver ação da JBS listada na B3 entrega o papel e recebe em troca o BDR (Brazilian Depositary Receipts) da JBS com sede na Holanda (JBS N.V.), sociedade constituída dentro das leis do país. E é essa empresa holandesa que será listada na Nyse e na B3, via BDR. Todos os acionistas, seja controlador ou minoritário, terão tratamento igualitário.
Nesta quarta-feira (12/07), foi feito o pedido de registro na SEC, o órgão federal que regula o mercado de capitais nos Estados Unidos. A assembleia dos acionistas minoritários pode acontecer em 60 dias. A JBS tem um faturamento anual de R$ 375 bilhões, com operações industriais e escritórios comerciais em 24 países, mais de 330 mil clientes e exportação de produtos para mais de 190 países. No primeiro trimestre de 2023, teve prejuízo líquido de R$ 1,5 bilhão, ante um lucro líquido de R$ 5,142 bilhões em igual período de 2022. A receita líquida, de R$ 86,683 bilhões, foi 4,6% menor na comparação anual, enquanto o Ebitda ajustado (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) diminuiu 78,6%, para R$ 2,162 bilhões. A margem ficou em 2,5%. A dívida líquida em real aumentou 26% na mesma base de comparação, para R$ 83,746 bilhões. Após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, analistas passaram a apontar a possibilidade de reação de margens nos próximos períodos. O BTG Pactual avalia que os resultados provavelmente tinham atingido um piso e que as margens deveriam começar a se recuperar, sustentadas por tendências mais favoráveis no ciclo de proteína animal.
O Bradesco BBI elevou no fim de junho a classificação da companhia de neutro para outperform (equivalente a compra), com preço-alvo de R$ 30,00 (o que representa potencial de alta de 74% em relação ao valor da ação no dia 11 de julho) e pontuou que o pior já havia passado. O banco destacou que no primeiro trimestre a JBS entregou sua margem mais baixa em mais de uma década, ajudando a impulsionar uma venda acentuada (JBSS3 -25% vs. IBOV +7%), mas disse acreditar que a situação vai melhorar, pelo caráter cíclico do negócio. O negócio da JBS é cíclico, mas o mercado ainda não está vendo a provável recuperação da margem se materializar até 2025, impulsionada por El Niño e chuvas melhorando pastagens/fornecimento de grãos, cortando custos; a oferta de carne dos Estados Unidos, que diminuiu 24% após anos de expansão, e mudanças de gerenciamento ajudando a fechar a lacuna de desempenho/margem ante os pares. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.