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10/Jul/2023

Leite: impactos do El Niño na produção brasileira

Nos últimos três anos a produção de alimentos no Brasil e no mundo foi fortemente impactada pelo fenômeno climático La Niña, que alterou a temperatura média de diferentes regiões e modificou o regime de chuvas, tendo impacto direto na agricultura e na pecuária. No Brasil, La Niña significou fortes secas na Região Sul do País, impactando a produção de leite no Rio Grande do Sul, em Santa Catarina e no Paraná. Porém, o ano de 2023 está sendo marcado por uma transição entre fenômenos climáticos, mais especificamente de La Niña para El Niño. Portanto, o momento atual é de atenção para esse fenômeno, entendendo seus impactos na produção de leite. O El Niño é caracterizado por um aquecimento acima do normal na região equatorial do Oceano Pacífico, enquanto o La Niña é justamente o contrário, sendo caracterizado por um resfriamento na mesma região.

O último ano em que o El Niño ocorreu de forma intensa foi 2016, e não coincidentemente esse ano foi o mais quente de toda a história até o momento, justamente por conta do acontecimento do fenômeno climático somado ao aquecimento global. Em 2023, o El Niño tem maior probabilidade de início a partir dos meses de junho e agosto, afetando assim as produções agrícolas de verão no Brasil, como a produção do milho silagem para 2023. Dessa forma, os impactos na produção de leite tendem a ser mais evidenciados a partir do próximo ano. Os impactos do fenômeno são diferentes em cada região brasileira: enquanto na Região Sul o El Niño causa um volume de chuvas acima do normal e um aumento da temperatura média, na Região Nordeste o fenômeno gera uma menor precipitação. O fenômeno tende a manter o volume de chuvas dentro do esperado nas Regiões Sudeste e Centro-Oeste, onde também há possibilidade de aumento da temperatura média.

Entretanto, todas essas variações ocorrerão de acordo com a intensidade que o El Niño chegará esse ano, podendo gerar impactos mais negativos ou até mesmo positivos na produção de leite no Brasil. A Região Sul do Brasil (que enfrentou adversidades com a seca em decorrência do La Niña, nos últimos anos) pode passar por uma fase mais positiva e úmida com a chegada do El Niño. Um El Niño mais brando pode gerar um regime de chuvas que será positivo para alguns cultivos, como as pastagens de verão (com impacto ainda este ano), que tendem a se beneficiar em função de um clima entre ameno e quente e uma maior umidade. Caso o El Niño ocorra em forte intensidade, dentro da Região Sul, onde é gerado um maior volume pluviométrico, poderão ocorrer problemas de inundação e encharcamento do solo, prejudicando o crescimento das plantas e sua produtividade, além do potencial problema para captação de leite.

Além disso, o excedente de chuvas pode gerar a necessidade do aumento do uso de fertilizantes e levar ao aumento da incidência de doenças e pragas nas lavouras, ocasionando piora da qualidade e da produtividade das culturas, além do aumento de custo com pesticidas, consequentemente aumentando o custo de alimentação para os produtores de leite. Somado a esses fatores, o excesso de chuvas também pode resultar em problemas além da nutrição na pecuária, como maior incidência de parasitas e problemas logísticos. Na Região Nordeste, os impactos estão relacionados à seca. Da mesma forma que pode ocorrer na Região Sul do Brasil, há possibilidade de ter um aumento no custo de produção para o produtor, por conta da maior necessidade de uso de fertilizantes e pesticidas.

Entretanto, o maior impacto está na diminuição da disponibilidade de pastagens e de volumosos aos animais, aumentando o custo de produção e diminuindo a quantidade e qualidade de leite produzido. Um ponto em comum entre todas as regiões brasileiras durante a ocorrência do El Niño é o aumento da temperatura média, que acontece devido a um aumento da temperatura do ar. Essa temperatura elevada também pode afetar a produção agrícola, diminuindo a qualidade e a quantidade dos produtos cultivados, ou seja, sendo mais um ponto de possibilidade de aumento dos custos de produção. Além disso, há também a possibilidade de um impacto direto nas vacas leiteiras, por conta do estresse térmico que pode ser gerado, sendo que vacas em desconforto térmico tendem a produzir menos leite quando comparadas à produção de uma vaca alocada em um ambiente confortável.

Apesar de todas as possibilidades de impacto na produção de leite a partir da ocorrência do El Niño, como citado anteriormente, os impactos vão variar de acordo com a intensidade que o fenômeno climático acontecerá. Frente a essas mudanças, um planejamento bem-feito e a execução de um bom manejo voltado para as especificidades dessa época também podem auxiliar a diminuir esses impactos, como por exemplo a antecipação de negociações de insumos, tanto para a agricultura quanto para a pecuária. Portanto, os próximos passos devem ser voltados para o acompanhamento constante desse fenômeno climático, para assim ser possível tomar decisões assertivas. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.