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04/Jul/2023

SC: produtores de leite estão abandonando atividade

Os produtores de leite de Santa Catarina estão abandonando a atividade em consequência da nova situação do mercado brasileiro, marcado pela excessiva importação de leite e pela queda persistente da remuneração. O novo quadro é tão grave que a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Santa Catarina (Faesc) teme o desaparecimento da agricultura familiar desse segmento da agropecuária no Estado. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e outras entidades do setor produtivo participaram recentemente de reunião com o ministro do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar, Paulo Teixeira, para discutir a importação de leite no País. O forte aumento da importação de leite em pó em 2023 gerou pânico no setor lácteo brasileiro em razão dos impactos na competividade do pequeno e médio produtor de leite. As importações brasileiras de lácteos de janeiro a maio de 2023 tiveram acréscimo de 212% em relação aos primeiros cinco meses de 2022.

Neste ano, o Brasil já importou principalmente da Argentina e do Uruguai 850 milhões de litros de leite, volume que, no ano passado, foi atingido só em setembro. O preço do leite no mercado mundial caiu e o Real teve uma relativa valorização frente ao dólar. A associação desses dois fatores estimulou as importações e o preço no mercado interno desabou. Em um primeiro momento, esse movimento é ótimo para o consumidor, que passa a ter produtos lácteos mais baratos. Mas, é péssimo para o País, porque pode levar à desorganização e inviabilidade da cadeia produtiva e a consequente expulsão dos pequenos produtores. A maciça presença de leite importado no mercado interno provocou queda geral de preços, aniquilando a rentabilidade dos criadores de gado leiteiro e das indústrias de captação, processamento e industrialização de leite. O setor está operando no ‘vermelho’ e a tendência é de nova queda de preços ao consumidor, com mais prejuízo para quem produz. A situação é grave e pode gerar uma nova onda de êxodo rural, como o País já viveu no passado.

A preocupação da Faesc é procedente em relação ao intenso abandono da atividade leiteira por produtores rurais. Na década de 1990, existiam 75.000 produtores de leite em Santa Catarina. A pandemia do novo coronavírus baixou esse contingente, em 2022, para menos de 30.000 produtores. A atual crise teria reduzido ainda mais a base produtiva de pecuária leiteira que estaria, hoje, com apenas 20.000 produtores de leite. Um fato parece comprovar essa avaliação. A captação de leite cru em Santa Catarina caiu mais de 30% neste ano. Os laticínios do Estado têm, no conjunto, capacidade instalada para processar 13 milhões de litros por dia, mas a captação de matéria-prima não passa de 7,5 milhões de litros/dia. Já tem indústria ociosa e migrando para outros Estados. O motivo dessa escassez não foi a seca ou o excesso de chuvas, foi a diminuição da população rural empregada nessa atividade. Esse fenômeno leva à mais concentração, favorecendo o surgimento de grandes e médias propriedades, com áreas mecanizadas onde o proprietário consegue plantar o pasto, fazer feno e manter baixos os custos de produção.

Regular a importação, criando gatilhos e barreiras para que seu exagero não destrua as cadeias produtivas organizadas existentes no Brasil é uma das soluções que a Faesc propõe em sintonia com a CNA. A entidade defende uma política de apoio ao setor que inclua medidas articuladas entre os governos da União e dos Estados para estimular, simultaneamente, a produção e o consumo, abrangendo a redução da tributação, EGF (empréstimos do Governo Federal) para o leite, combate às fraudes, criação de mercado futuro para as principais commodities lácteas, manutenção de medidas antidumping e consolidação da tarifa externa comum em 35% para leite em pó e queijo. Outras medidas incluem aquisição subsidiada de tanques de resfriamento e outros equipamentos para pequenos e médios produtores, o uso obrigatório de leite e derivados de origem nacional em programas sociais. Fonte: Sistema Faesc. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.