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28/Jun/2023

Leite e os requisitos para entrar no mercado futuro

Se perguntarmos a diferentes indústrias lácteas no Brasil (segundo o IBGE, em sua Pesquisa Trimestral do Leite, são cerca de 1.800 indústrias com Inspeção federal, estadual ou Municipal), certamente a maioria delas também apontaria, como uma de suas principais dores, a previsibilidade de preços do seu principal item de custo (o leite cru) e dos preços dos derivados lácteos que vendem ao varejo e demais canais de distribuição. Nos contratos futuros, negociados em Bolsas de Mercadorias e Futuros como a brasileira B3 e as norte-americanas Bolsa de Chicago e Bolsa de Nova York, empresas e produtores rurais podem comprar ou vender contratos futuros de diferentes commodities agrícolas (milho, soja, açúcar, cacau, algodão em pluma entre outros) e, desta forma, fixar (ou garantir a fixação) do preço que receberão ou pagarão pela commodity agrícola que estão transacionando.

Ao mesmo tempo existe a figura do especulador, que entra e sai do mercado ao vislumbrar oportunidades de ganhos com as oscilações de preços (desta forma, o especulador traz liquidez aos contratos negociados nas Bolsas). Mas, se a ferramenta de “futuros” pode ser uma boa alternativa para um dos principais problemas de produtores e indústrias (prever e garantir preços futuros), quais os pré-requisitos que um mercado deve apresentar para que seja minimamente viável a criação de contratos futuros? O tamanho do mercado, medido pelo faturamento aproximado em bilhões de dólares ou Reais por ano pela cadeia produtiva, é proporcional ao interesse dos agentes em manter e negociar contratos nestes mercados. A cadeia láctea brasileira está em posicionada neste quesito.

Neste primeiro parâmetro, o leite não é tão grande em faturamento quanto o milho (que tem o maior número de contratos negociados na B3), mas é mais que o dobro do café (um dos mais antigos contratos da B3). O interesse na volatilidade vem, notadamente, dos especuladores, que entram e saem do mercado (comprando ou vendendo posições de futuros) mirando a volatilidade e buscando auferir lucros com ela. Para o especulador, quanto mais intensa a variação dos preços, maiores as oportunidades de participação e ganhos em um mercado. O especulador é extremamente benéfico a um mercado futuro, já que traz volume de negociações e liquidez, muito importantes para o amadurecimento de um mercado futuro e a consolidação de um novo contrato. Se o milho é a commodity com o maior número de contratos em aberto na B3, o leite UHT e a muçarela tem uma volatilidade de preços maior do que o cereal.

Para ter sucesso, um contrato futuro também deve ter muitos compradores e muitos vendedores, de forma a ter um funcionamento harmônico e sem riscos de maiores influências de atores com dominância de mercado. No caso do leite, considerando o número de produtores, são pelo menos 300 mil proprietários rurais que tem no leite uma renda mensal relevante (estimando um número com base em nossos levantamentos e tomando a referência inicial de 1,17 milhão do IBGE), 1.800 indústrias (número aproximado de informantes da Pesquisa Trimestral do Leite do IBGE) além de outras indústrias como indústrias alimentícias que usam derivados lácteos (chocolates, sorvetes, panificação etc.), nutrição animal, varejo, cadeias de restaurantes e lanchonetes (food service) entre outros tantos. É um mercado bastante fragmentado.

Os produtores de leite e indústrias de laticínios acompanham e utilizam os preços do UHT, do leite em pó industrial ou do fracionado para fazer seus negócios e compreender a dinâmica de preços dos derivados e da sua principal matéria-prima. Com um bom tamanho de mercado, volatilidade interessante, grande fragmentação e referências de preços bastante utilizadas pelos agentes de mercado, o leite e seus derivados aparentemente são bons candidatos a terem um contrato futuro na B3. Os passos agora provavelmente seriam uma discussão ampla e aberta com os diferentes integrantes do mercado (produtores de leite e indústrias), tentando trazer outros agentes de interesse como outras indústrias alimentícias e, se possível, as cadeias de varejo. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.