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27/Jun/2023

Leite: Brasil eleva importação do Mercosul em 2023

As importações brasileiras de leite são provenientes basicamente do Mercosul (Argentina e Uruguai), em função da TEC (Tarifa Externa Comum) de 28% sobre os lácteos provenientes de outras origens, a TEC os torna pouco competitivos no mercado brasileiro. O que determina a competitividade do leite do Mercosul no mercado brasileiro basicamente é a relação entre os preços de leite no mercado interno e nos países de origem (Argentina e Uruguai). Toda vez que os preços de leite ao produtor em dólares no Brasil sobem em relação aos do Mercosul, há uma tendência clara de subida dos volumes importados, e o inverso também é verdade. Especialmente se o preço interno, em dólares, fica 20% acima (ou mais) do leite dos países vizinhos, há entrada relevante de leite. Importante notar que, em função do prazo entre contratação das importações e a chegada efetiva do produto no mercado brasileiro (algo entre 30 e 60 dias, dependendo da operação e do momento de mercado) há um efeito “inercial” dos volumes importados.

Isso significa que uma decisão sobre importação tomada agora, terá impacto no volume de leite importado 30 ou 60 dias depois. Pode acontecer, então, de mesmo em um momento em que os preços internos estão baixos, observar um volume importado de leite crescendo: a decisão de compra deste leite ocorreu 30 ou 60 dias antes, provavelmente em um momento em que esta queda de preços internos não estava ocorrendo. Com a disparidade de preços no Mercosul, as únicas formas de segurar as importações são através de medidas de proteção ou se não houver produção exportável suficiente nos países vizinhos. Considerando a primeira opção, medidas de proteção vindas do governo parecem complicadas no contexto atual, já que taxações ferem o acordo do Mercosul (que mercantiliza não apenas leite, mas uma série de outros produtos), com consequências maiores. A possibilidade de acordos entre os países, como por exemplo limitar as quantidades importadas como foi feito no passado com a Argentina, parece menos provável hoje.

Uma das questões envolvidas é que o governo brasileiro tem o interesse de manter boa relação com os países vizinhos, dentro do plano de ser um pivô político local relevante. Vale lembrar também que o governo tem hoje como prioridade reduzir os juros, e a redução continuada da inflação é peça-chave. Medidas que podem elevar a inflação (como dificultar a entrada de leite mais barato) tendem a encontrar resistência. Também, a relação do governo com o agro tem tido suas dificuldades, ainda que o leite, por envolver um número grande de pequenos produtores familiares, possa ser encarado com outros olhos. Além disso, se os efeitos de redução dos preços de leite chegarem no Brasil ao ponto de gerar uma crise sistêmica na produção (além da já existente), comprometendo o abastecimento futuro, essa situação pode mudar. Diante disso, as entidades setoriais têm se mobilizado e, no passado, conseguiram sucesso nesse sentido.

A outra forma de evitar o crescimento do leite importado se dá caso os volumes disponíveis nos países vizinhos atinjam um limite. No caso do Uruguai, a produção é de cerca de 2,1 bilhões de litros por ano, enquanto o consumo é de 996 milhões, restando 1,1 bilhão de exportáveis (o Uruguai produz relativamente pouco leite, mas a população é pequena, então grande parte é exportável). Deste volume exportável, cerca de 437 milhões entram no Brasil anualmente, que responde por 40% das exportações uruguaias. Em tese, haveria ainda 656 milhões de litro que poderiam deixar de ser embarcados para outros países, mas provavelmente há contratos já feitos. Também, o Uruguai vive um dilema: por um lado, as exportações para o Brasil são muito atrativas por pagarem um preço maior do que para outros destinos, em função da reserva de mercado garantida pela TEC de 28%. Há ainda a expectativa de aumento da oferta no Uruguai nos próximos meses, em função da safra e das boas condições econômicas da atividade nesse momento.

No caso da Argentina, as contas são um pouco diferentes. A produção é bem maior (11,6 bilhões por ano), mas 75% ficam no país, restando 2,9 bilhões exportáveis. Destes, o Brasil recebe 39%, também em tese havendo espaço para aumento, considerando também as mesmas ressalvas feitas para o caso uruguaio. O que agrava o problema é que a demanda brasileira não cresce. Já houve momentos assim no passado, entre 2005 e 2013, mas com o crescimento de 5% a 7% ao ano no consumo, a entrada de leite importado acabava se acomodando, sendo insuficiente para gerar problemas. Agora, é diferente. A outra forma de reduzir o ímpeto importador é reduzindo as diferenças de preços, principalmente pela correção de preços no Brasil que, para os derivados lácteos, já começou a acontecer. Não é a maneira desejada, obviamente, mas é como funcionam os mercados. Por exemplo, a muçarela importada da Argentina já é pouco competitiva com a nacional, e o leite em pó integral caminha na mesma direção. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.