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29/Mai/2023

Lácteos: importações preocupando os produtores

Este ano, as compras brasileiras de leite, creme de leite e laticínios (exceto manteiga e queijo) da Argentina e Uruguai em relação ao mesmo período do ano passado saltaram em 286,4% em valor, chegando a US$ 263,2 milhões, e 230,6% em volume, atingindo 69,9 mil toneladas. Em sentido contrário, as exportações do país caíram 37,2% em receita, chegando a US$ 25,4 milhões, e 30,7% em volume. O Rio Grande do Sul é o terceiro Estado que mais importou, aplicando US$ 34,1 milhões, com variação de 230,7% sobre o período de janeiro a abril de 2022. Os dados deste ano ampliam as preocupações dos produtores. Segundo a Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), o setor está apreensivo com a inundação de leite de fora do País. A entidade solicita alguma medida protetiva. O Sindicato da Indústria de Laticínios do RS (Sindilat) diz que o preço da matéria-prima pago aos produtores do Estado é acima do valor de mercado do Mercosul e que Argentina e Uruguai têm políticas públicas de apoio ao segmento.

O governo argentino aprovou subsídios aos produtores no final do ano passado e o Uruguai concedeu linhas de crédito com prazo de até 13 anos para produtores e indústria. A preocupação é que o País não tem uma política de Estado para fazer frente a isso. As vantagens de Uruguai e Argentina são de escala e não se limitam aos incentivos que permitem baixar os custos de produção. Argentina e Uruguai produzem em média de 1 milhão de litros/ano, enquanto no Rio Grande do Sul a média mais alta chega a pouco mais de 100 mil litros/ano. Outro fator destacado no atual cenário é o mercado mundial desaquecido, principalmente pela China, que é o grande comprador. A única alternativa seria o governo equiparar o benefício que a Argentina está concedendo, em torno de R$ 340 milhões, e estender as linhas de crédito para fazer frente a isso, já que colocar um sistema de cotas é mais difícil pela questão do Mercosul. A importação crescente de lácteos foi debatida pela Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e Derivados, da Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi).

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag-RS) alertava para a competição desigual entre os produtores brasileiros, uruguaios e argentinos. O impacto na cadeia produtiva é muito ruim, vai sobrar leite no mercado interno e o preço certamente irá despencar. O segmento leiteiro enfrenta uma tendência de redução de produtores desde 2015, conforme relatório da Emater-RS de 2021. Naquele período, mais de 44 mil agricultores abandonaram a atividade leiteira em razão da perda de competitividade, sem perspectivas de retorno, e houve redução do rebanho leiteiro no Estado. O setor está sem preço de referência desde janeiro. A Associação dos Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando) lembrou que o setor produtivo vem enfrentando dificuldades para pagar pelo serviço de cálculo do preço de referência do leite, feito pela Universidade de Passo Fundo (UPF) e cobrou a liberação de recursos do Fundo de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Leite do Rio Grande do Sul (Fundoleite). Os valores de referência não são divulgados desde janeiro, quando ocorreu a última reunião do Conselho Paritário Produtores/Indústrias de Leite do Estado do Rio Grande do Sul (Conseleite/RS).

Não tem havido as reuniões de Conseleite para dar o preço de referência, porque o elo produtor ficou com uma dívida para fazer este cálculo. O setor não tem acesso aos valores do fundo. O setor questiona qual a finalidade do Fundoleite se não pode ajudar nem mesmo nesta questão tão básica. A dívida será paga, mas o setor quer que essa questão de acesso ao fundo seja desburocratizada. A Secretaria da Agricultura, Pecuária, Produção Sustentável e Irrigação (Seapi) informou que o governo está trabalhando para que a liberação desses recursos seja o mais rápido possível, assunto que vem sendo discutido há algum tempo sabendo da importância do setor produtivo. Conforme a Seapi, são cerca de R$ 20 milhões no Fundoleite. O processo de liberação dos recursos do Fundoleite tem evoluído, mas há observâncias administrativas e jurídicas que precisam ser superadas. Igualmente questões desse tipo precisam ser observadas para a contratação da projeção do Valor de Referência do Leite, que está tramitando para a realização de procedimento licitatório junto à Celic. Fonte: Correio do Povo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.