ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

23/Mai/2023

Lácteos: importações crescentes ameaçam o setor

De acordo com avaliação da Lactalis, líder do mercado nacional de lácteos, uma nova crise está batendo à porta do produtor brasileiro de leite. As importações de produtos do segmento estão crescendo devido à diferença de preços entre a matéria-prima local e a fornecida por Argentina e Uruguai, um movimento que deve pressionar as margens do setor a partir do mês que vem. O Brasil importou quase 70 mil toneladas de leite, creme de leite e laticínios (exceto manteiga ou queijo) no primeiro quadrimestre deste ano, de acordo com informações da plataforma ComexStat, do governo federal. O volume é mais que o triplo das importações do intervalo entre janeiro e abril do ano passado, que somaram 21 mil toneladas. Também cresceram as importações de manteigas e outras gorduras derivadas do leite, de 1,04 mil para 1,55 mil tonelada, e de queijo e coalhada, de 7,5 mil para 12,4 mil toneladas.

Se o consumo não começar a aumentar na mesma proporção, vai sobrar leite no mercado. O problema é que os consumidores não estão conseguindo pagar pelo produto acabado nos valores atuais. O leite que o Brasil importa de seus vizinhos sul-americanos é, tradicionalmente, 15% mais barato que o nacional, mas a escalada dos valores no Brasil fez a diferença percentual dobrar este ano. Dados do Observatório da Cadeia Láctea Argentina (Ocla) mostram que, enquanto o produto brasileiro foi vendido por cerca de US$ 0,55 em março, os produtos da Argentina e Uruguai tiveram médias de US$ 0,41 e US$ 0,42, respectivamente. Neste ano, a Argentina exportou 34,6 mil toneladas de leite, creme de leite e laticínios ao Brasil, mais que as 12,6 mil toneladas no mesmo quadrimestre de 2022. O Uruguai aumentou os envios de 5,8 mil para 28,7 mil toneladas entre janeiro e abril.

A Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite) afirma que as importações mensais não chegavam aos níveis deste ano desde 2016. O Uruguai nunca vendeu tanto leite para o Brasil como nos últimos dois meses. As importações de lácteos vêm aumentando progressivamente desde 2015, observa o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP. Em 2023, esse avanço está sendo mais significativo devido à redução da oferta interna de leite nos dois últimos anos, causada pela estiagem no Brasil e pela forte alta global das cotações dos grãos. Isso mudou a estrutura do setor, que não parece ter assimilado muito bem ainda. A indústria está enfrentando uma competição acirrada por fornecedores. Segundo a Abraleite, há cerca de 600 mil produtores profissionais, o que exclui quem produz para subsistência, e 80 mil produzem 50% do volume total.

O quadro atípico deste ano tem reflexos sobre o movimento dos preços: as cotações subiram em janeiro, período em que normalmente deveriam estar mais baixas, e há risco de os valores caírem nos próximos meses, quando geralmente subiriam, devido às importações. Observa-se uma reversão da tendência. A Lactalis afirma que aumentar a produtividade do rebanho e a qualidade do leite no Brasil, especialmente se comparado a outros grandes produtores globais, ainda é um desafio estrutural a ser vencido. Porém, é preciso dar condições para que o setor consiga chegar lá. O governo deveria interceder para impedir uma nova quebradeira do setor causada por recuos bruscos nos preços. Seria importante colocar um limite nas importações. O risco de um desequilíbrio com a intervenção estatal seria menor do que o de deixar o mercado como está. Mas, o governo provavelmente não vai conseguir restringir as importações. Essa medida implica muitas coisas, porque o Brasil também exporta produtos para a Argentina e Uruguai. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.