19/Mai/2023

O Brasil está tomando precauções extras para proteger a maior indústria de exportação de aves do mundo de um vírus altamente patogênico da gripe aviária que foi detectado esta semana entre aves selvagens no País depois de atingir nações vizinhas. Quase US$ 10 bilhões em exportações de frango estariam em risco se a gripe aviária H5N1 infectasse granjas comerciais no Brasil, que assumiu um papel crescente no fornecimento de aves e ovos para o mundo, já que os países importadores proíbem carne de frango e peru de países com o vírus. Na segunda-feira (15/05), o único laboratório credenciado pela Organização Mundial de Saúde Animal (WOAH) na América Latina confirmou a detecção do H5N1 em duas aves silvestres Thalasseus acuflavidus, ou garajaus-de-cabot, e um atobá-pardo (Sula leucogaster) capturados no estado do Espírito Santo.

Por protocolo, veterinários locais no Espírito Santo coletaram amostras das aves no local e as enviaram ao laboratório de referência em Campinas (SP). Toda a indústria está mobilizada para monitorar a situação identificada, afirmou a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Um caso de gripe aviária em uma granja geralmente resulta na morte de todo o rebanho e pode desencadear restrições comerciais de países importadores, enquanto a detecção entre aves selvagens não provoca proibições sob as diretrizes da OMSA. As autoridades brasileiras não esperam que os casos de aves selvagens tenham qualquer impacto comercial, e observaram que o Espírito Santo, na costa atlântica central do Brasil, não faz fronteira com nenhum dos principais Estados produtores de aves do País na Região Sul. Em outros países, os surtos de gripe aviária em aves selvagens têm sido frequentemente seguidos de transmissão para lotes comerciais.

Surtos de gripe aviária contribuíram para preços mais altos de aves e ovos, normalmente uma fonte acessível de proteína. O governo brasileiro elevou este ano os investimentos em 19 vezes para aumentar a capacidade de testes em sua rede de seis laboratórios federais e aumentou o orçamento geral de seus Serviços de Saúde e Inspeção Animal e Vegetal em cerca de 12%, para R$ 209 milhões (US$ 42 milhões). Para cada R$ 1,00 investido no laboratório federal de Campinas (SP), são evitados cerca de R$ 64,00 de perdas potenciais para a indústria da carne. O laboratório de referência da OMSA está em alerta máximo desde que mais de 75 surtos de gripe aviária altamente patogênica foram relatados em nove países da América Central e do Sul, muitos deles pela primeira vez. À medida que os avicultores aumentaram o monitoramento, o Brasil viu um aumento de seis vezes nas notificações de casos suspeitos até o início de maio.

Nas últimas semanas, o Brasil começou a usar drones para patrulhar áreas sensíveis como o Pantanal, a maior área úmida de água doce do mundo, e implementou uma proibição estrita de visitas a fazendas comerciais por pessoas não autorizadas. Após a confirmação de casos na Argentina e no Uruguai, o Brasil anunciou no final de março a suspensão de 90 dias de todos os eventos envolvendo a exposição de aves. O Ministério da Agricultura afirmou que mais testes podem ser necessários em um raio de 10 Km dos surtos no Espírito Santo, incluindo aves comerciais, e que manterá a vigilância de possíveis casos em aves selvagens em todo o País. A receita de exportação de frango do Brasil saltou mais de 27% em dólares no ano passado, uma vez que as empresas locais se beneficiaram do surto global da gripe aviária, que abriu novos mercados. A China e o Oriente Médio continuaram sendo grandes clientes.

A União Europeia, onde países como a França tiveram que abater milhões de aves para conter surtos, aumentou os volumes de importação do Brasil em cerca de 23%. Desde o início de 2022, as aves selvagens espalharam o vírus altamente infeccioso mais longe e mais amplamente em todo o mundo do que nunca. Embora os humanos possam contrair o H5N1, esses casos permanecem raros, e as autoridades globais de saúde afirmam que o risco para os humanos é baixo. Segundo a Universidade de São Paulo (USP), o vírus chegou à América do Sul por meio de aves migratórias. Normalmente, as aves só transmitem a gripe aviária por cerca de cinco dias. Mas, a presença do vírus em pequenos animais marinhos dos quais os pássaros se alimentam pode ter permitido sua disseminação mais ampla este ano. O vírus é extremamente capaz de apresentar mutações para aumentar seu potencial de sobrevivência como espécie. Fonte: Reuters. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.