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15/Mar/2023

Leite: impacto da Covid-19 nos custos de produção

O leite é um alimento consumido mundialmente devido ao seu elevado valor nutricional, sendo um alimento rico em potássio, cálcio dentre outros nutrientes, além de ser fator fundamental para renda de pequenos, médios e grandes produtores. No Brasil, além da importância nutricional, o leite tem um forte impacto na economia. Quando se trata do agronegócio, o leite fica atrás somente do arroz, café e soja. A cadeia leiteira possui também elevado impacto social, ao estar associada diretamente aos pequenos produtores rurais, responsáveis por 85% da produção nacional. Entretanto, os desafios para quem atua nesta cadeia não são poucos e comumente são debatidos, passando desde a desigualdade no sistema tributário e de incentivo fiscal com a falta de padronização e fiscalização, problemas com o transporte desse alimento que ocasionam perdas na qualidade do produto até a chegada no consumidor final, o preço dos insumos, preço pago, atualização das leis de vigilância sanitária e instabilidade do mercado.

Isso tudo sem contar com os custos de medicamentos, vacinas, suplementos, manutenção de espaço, equipamentos para ordenha e muitos outros. Diante de todos esses fatores, de 2020 a 2022 um cenário pandêmico não somente causou um colapso no sistema de saúde, como mudou toda a estrutura no que se diz respeito a aquisição de produtos, alimentação e matéria-prima. Na cadeia leiteira, a alimentação das vacas (formado pelos concentrados e volumosos) é o maior investimento que o agricultor precisa fazer, representando cerca de 45% a 55% dos custos em sistemas de produção, em sua maioria, semi-intensivos. Os materiais volumosos são as silagens, o capim verde picado e o feno com concentrados energéticos e proteicos. Nos concentrados, encontram-se entre os principais alimentos do gado leiteiro o milho e a soja, e estes compõem a base energética e proteica das rações dos animais. Estes alimentos são commodities, com isso seu valor aquisitivo tem total dependência do mercado de exportações.

A pandemia de Covid-19 impactou diretamente nas exportações dos países, gerando instabilidades e influenciando pontualmente no preço dos grãos, o que interfere diretamente nos custos da alimentação animal. Um estudo busca avaliar o impacto da pandemia da Covid-19 sobre os principais insumos de alimentação de vacas leiteiras. O trabalho foi desenvolvido pelo levantamento dos preços pagos sobre os principais insumos que compõem o custo de alimentação das vacas leiteiras. Realizou-se o levantamento histórico dos preços dos alimentos concentrados, sendo os grãos de milho, de soja e de sorgo granífero no período antes da pandemia Covid-19, definido um período de cinco anos anteriores (2015-2019), e o levantamento de dados históricos durante o período pandêmico (março de 2020 a outubro de 2022). A opção por criar uma margem de cinco anos antes do período da pandemia se mostrou necessária para obter dados precisos do mercado de exportações, com os preços que atuavam no mercado antes da influência da pandemia.

Os dados foram levantados em bases de dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) e do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea). O estudo da cadeia produtiva leiteira foi realizado a fim de conhecer e entender todo o processo de produção agrícola que ocorre no setor à montante da fazenda (antes da porteira), na fazenda (dentro da porteira) e no setor à jusante da fazenda (depois da porteira). O setor à montante da fazenda (antes da porteira) se dá em todos os insumos utilizados na criação do gado leiteiro bem como na compra do alimento do animal. Quando se está na fazenda (dentro da porteira) se tem toda a mão de obra utilizada nesta cultura, bem como o manejo do animal e a sua criação e tiragem do leite. Por fim, o setor à jusante da fazenda (depois da porteira) é onde ocorre a venda do leite retirado, a comercialização do produto. A inflação está presente em todos os setores (antes, dentro e depois) da porteira.

A inflação é calculada de acordo com o índice de preços, conhecidos como índices de inflações. A pandemia de Covid-19 aumentou a inflação de diversos países, e o Brasil foi muito atingido. Para se obter um cenário real da influência da pandemia nos preços dos insumos alimentares para bovinos leiteiros, realizou-se a deflação dos preços, a fim de remover o aumento excessivo sobre os preços dos itens e conseguir analisar perfeitamente o cenário. Foi necessário deflacionar o produto em todo o período em que foram avaliados os preços, para retirar as influências, e entender realmente qual foi o real impacto. Os insumos alimentares obtiveram uma grande variação, com tendência de crescimento no período pandêmico. Com a pandemia, os preços das commodities analisadas aumentaram consideravelmente, prejudicando a compra dos insumos alimentares de vacas leiteiras, dificultando o manejo e criação para o produtor, tais efeitos foram espelhados no preço do leite para o consumidor final.

A análise do mercado demonstra também que este aumento não foi só no período inicial, mesmo com a flexibilização das restrições posteriores, os preços se estenderam ao partir do anúncio da Organização Mundial da Saúde (OMS) da pandemia, acarretando uma nova realidade de preços dos insumos, que mesmo tirando a influência da inflação, demonstraram que não haverá uma tendência de queda nos preços dos produtos a partir deste período. Com isso, quando feita a comparação dos preços dos insumos alimentares entre o período pré-pandêmico e durante a pandemia foi possível identificar um aumento considerável na cadeia de todos os grãos analisados, com a soja apresentando um aumento de 33,97%, o milho 42,24% e o sorgo granífero 52,38%.

Portanto, levando em conta que o maior custo para a produção leiteira é a alimentação, enxergar os preços com a nova realidade imposta na pandemia de Covid-19 dificulta consideravelmente a criação de vacas leiteiras, podendo proporcionar a evasão de produtores que não conseguem suportar essa nova realidade. O preço do leite pago ao produtor, mesmo com um relativo aumento, não apresentou crescimento suficiente para cobrir os custos elevados na pandemia, diminuindo a margem de lucro para os produtores. Uma alternativa para que os produtores consigam uma estabilidade nos preços pagos em insumos alimentares é assinar contratos que permitam fixar o preço do insumo, não dependendo da inflação mensal. Os produtores pequenos podem recorrer às associações ou cooperativas de leite, para que estas firmem parcerias com os vendedores dos insumos, a fim de manter o preço pago pela saca ou tonelada de alimento. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.