ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

07/Mar/2023

Gripe Aviária: quais seriam os impactos no Brasil?

Até duas semanas atrás, os registros da chegada da gripe aviária H5N1 à América do Sul eram registrados lado de lá da Cordilheira dos Andes e da Floresta Amazônica. Mas, essas barreiras naturais contra a disseminação do vírus por aves migratórias já não contam. O H5N1 desembarcou em países bem mais próximos do Brasil do que Chile, Equador e Peru. No dia 15 de fevereiro, Argentina e Uruguai decretaram emergência nacional de saúde após a confirmação de casos da doença em aves silvestres e de criações domésticas. Desde então, a situação piorou na Argentina, que já contabiliza 25 focos e na semana passada confirmou a presença do vírus numa granja comercial no município de Mainque, na província de Rio Negro. Até aqui, não há comprovação científica de que a doença seja contagiosa entre humanos, apesar da alta letalidade nos casos de contato próximo e sem proteção com aves infectadas. De imediato, a Argentina perdeu temporariamente o status de área livre da doença e suspendeu de forma voluntária as exportações de produtos avícolas.

A luta, agora, é para extirpar rapidamente o foco, com sacrifício de todas as aves do lote e de 10 Km de distância. Em paralelo, uma corrida para negociar a reabertura das exportações e recuperar a condição de área livre. Ainda que os protocolos de enfrentamento da doença sejam os mesmos, o impacto econômico da gripe aviária na Argentina não se compara ao dano potencial ao Brasil. Enquanto a Argentina exporta 190 mil toneladas de frango por ano, o Brasil embarca o dobro disso por mês. É o maior exportador global, com 33% de todo o comércio entre países, alcançando receita de US$ 9,76 bilhões. Somadas as exportações de ovos, os valores sobem para US$ 13 bilhões. São 4 milhões de empregos diretos e indiretos. Uma vantagem relativa do Brasil em relação à doença é que ela chegou primeiro aos principais competidores, no Hemisfério Norte. Os Estados Unidos, segundo maior exportador global, conseguiram controlar os focos e convivem com o vírus, sem perder os clientes internacionais. É o que o Brasil também espera fazer. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o Brasil trabalha há mais de três anos nos mercados que são clientes.

De 150 países, pode haver problema em 10 ou 15, caso haja um foco da doença em granja comercial. Mas, a maioria, como a China e os países da Europa, já impõem restrições apenas num raio de 10 Km de um foco. No restante dos países, só quando ocorre em aves silvestres ou de fundo de quintal, não para o comércio. Prova disso é que o Japão continua importando da Europa e dos Estados Unidos, que registram vários focos da doença. Ainda que os efeitos possam ser atenuados por medidas sanitárias rigorosas e novos arranjos comerciais, no curtíssimo prazo há quem veja o potencial de danos semelhantes ao de uma Operação Carne Fraca ou paralisação de caminhoneiros. Se o setor ficar três dias sem exportar já é o caos. Isso ocorreu na Operação Carne Fraca, pois não há grande capacidade de estocagem nos frigoríficos e não dá para deixar nas câmaras frias esperando a retomada da exportação. Diferente do gado de corte, que pode aguardar no pasto, não é possível manter os frangos nos aviários indefinidamente. O giro dos lotes é quase mensal. Não adianta dizer que vai guardar o produto, porque não tem estocagem, não tem onde guardar.

Na região em que acontecer o foco tem que parar de alojar imediatamente, tirar os ovos das máquinas e tentar vender no mercado interno. Só que o preço vai cair bastante. Por outro lado, um plano de contingência deve ter rápida adesão dos clientes internacionais, porque eles vão ficar sem opção, não vão ter onde buscar o produto. Na avaliação da ABPA, o mundo já aprendeu a conviver com a gripe aviária. O problema é morrer muitas aves e não ter comida. Não ter nem carne nem ovo. Mas, o Brasil está preparado para, se houver um foco, debelar imediatamente. Pelas regras da Organização Mundial de Saúde Animal (OMSA), teoricamente, um país que nunca teve Influenza Aviária pode recuperar o status de área livre em 28 dias, caso adote todas as medidas para eliminar o vírus (sacrifício do lote de aves infectadas, desinfecção do estabelecimento e sacrifício preventivo de criações num raio próximo). As negociações de comércio, contudo, ocorrem de forma bilateral. Fonte: Gazeta do Povo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.