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27/Fev/2023

EUA: setor avícola em guerra contra a Gripe Aviária

Depois de perder 8 milhões de galinhas poedeiras para a gripe aviária em 2015, a Versova Management investiu dezenas de milhões de dólares em sistemas de laser, canhões de som e chuveiros de desinfecção para proteger suas granjas contra o vírus disseminado por aves selvagens. No entanto, a Versova perdeu mais de 2 milhões de galinhas no último surto, revelando os limites das dispendiosas proteções da indústria. "Estamos travando uma batalha épica", disse J.T. Dean, presidente da Versova, uma das cinco maiores produtoras de ovos dos Estados Unidos. "Não podemos errar." A gripe aviária tem taxa de mortalidade de quase 100% em galinhas, de acordo com os centros de Controle e Prevenção de Doenças. Ela é tão contagiosa que até mesmo uma rajada de vento pode levar excrementos de pássaros selvagens para o ventilador do celeiro e espalhar o vírus. As fazendas avícolas costumam destruir bandos inteiros quando um único caso é encontrado, para tentar evitar maior propagação.

Desde fevereiro do ano passado, a gripe aviária causou a morte de cerca de 58 milhões de aves criadas em fazendas nos Estados Unidos, o surto mais mortal já registrado. Isto elevou o preço do peru para recordes durante o feriado de Ação de Graças. Semanas depois, os preços dos ovos atingiram seu pico. Os surtos de gripe aviária têm representado risco para os negócios de frango, peru e ovos. No passado, porém, os surtos diminuíam após alguns meses, reduzindo os picos de preços. Alguns funcionários do governo, cientistas e executivos da indústria avícola agora dizem que a gripe aviária provavelmente permanecerá, com possibilidade de manutenção dos preços de ovos e perus elevados no futuro próximo. A perda de bandos avícolas para a gripe aviária coincidiu com um amplo aumento no custo de mão-de-obra, energia e ração animal, fazendo com que os preços ficassem mais altos nos supermercados.

Mais de 43 milhões de galinhas poedeiras morreram no ano passado, o que representou cerca de três quartos do número total de aves perdidas. Os estoques de ovos dos Estados Unidos ficaram 29% menores na última semana de dezembro do que no início de 2022, de acordo com o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Esse déficit elevou os preços no atacado dos ovos grandes no Meio Oeste do país para o recorde de US$ 5,46 por dúzia em dezembro, segundo a empresa de pesquisa Urner Barry. Produtores menores, que estão enfrentando custos crescentes e ameaça de novos surtos, hesitam em reabastecer as fazendas com capacidade total, prejudicando assim a oferta. Grandes produtoras de ovos, incluindo a Versova e a Cal-Maine, processadora de ovos e a gigante da agricultura Cargill, além da empresa familiar Hickman's Egg Ranch, estão aumentando suas proteções para tentar limitar as perdas.

O vírus pode se espalhar para aves comerciais por trabalhadores que pisam em fezes de pássaros selvagens fora do celeiro, espalhando o vírus dentro do local a cada passo dado. Abutres, patos selvagens ou pragas que se infiltram nos celeiros também podem espalhar o vírus da gripe por meio do muco ou da saliva. As fazendas de poedeiras já contam com procedimentos de lavagem e desinfecção dos caminhões que transportam ração para as galinhas. Elas melhoraram a ventilação dos celeiros e exigem que os trabalhadores usem macacões e botas para cobrir os sapatos. Algumas fazendas estão chegando a ponto de instalar alarmes de detecção de movimento, conhecidos como canhões de som, e sistemas de laser iluminados para espantar pássaros selvagens sem machucá-los. Os trabalhadores instalaram redes sobre as lagoas e outros locais nos quais aves selvagens se reúnem.

Os casos de gripe aviária em bandos comerciais diminuíram em janeiro, com menos de 500 mil mortes de aves naquele mês, em comparação com mais de 5 milhões em dezembro, mostram os dados do USDA. Mas, funcionários da agência disseram que o vírus provavelmente ressurgirá na primavera, quando as aves selvagens migram pelos Estados Unidos. Segundo a Hickman's Egg Ranch, a ameaça de infecção continuada existe. É preciso pensar em uma maneira de lidar com isso. A Versova, com sede em Sioux Center, Iowa, disse ter cerca de 17 milhões de galinhas poedeiras, o que a torna uma das maiores empresas processadoras de ovos do mundo. A empresa está atualizando suas instalações agrícolas para se proteger contra surtos. Complexos de celeiros estão sendo construídos com barreiras protetoras e entradas que se assemelham a fossos de castelos. Os trabalhadores rurais que entram nas instalações da Versova são obrigados a primeiro se despir e tomar banho em baias privadas com portas magnéticas que se fecham automaticamente. Eles vestem roupas recém-lavadas antes de entrar nos celeiros.

Durante o surto de gripe aviária em 2015, apenas uma das instalações da Versova estava equipada com chuveiros e outras medidas de biossegurança. Desde então, a empresa fez melhorias em 10 de suas 13 instalações. A empresa também contratou veterinários e mudou as práticas de limpeza de derramamentos de ração para manter afastados os pássaros selvagens. Instalou mecanismos vibratórios nos recipientes com ração para galinhas para evitar entupimentos sem manuseio pelos funcionários. Mesmo essas precauções não foram capazes de eliminar os surtos. As galinhas poedeiras são mais suscetíveis a contrair a gripe aviária porque são mantidas em produção por até um ano, aumentando o risco de infecção em comparação com os frangos de corte, que são criados para carne e abatidos dentro de 6 a 10 semanas. A partir desta primavera, a Versova trabalhará com os serviços de vida selvagem do USDA para limpar a área ao redor dos celeiros e torná-la menos atraente para as aves selvagens.

O projeto é semelhante à parceria do USDA com aeroportos para a liberação de pistas. As equipes cortarão a vegetação e colocarão barreiras, além de capturar e remanejar certas espécies de pássaros. Em outubro, os trabalhadores de uma das instalações reformadas da Versova no norte de Iowa notaram um aumento no número de aves mortas em um dos celeiros. A empresa chamou funcionários veterinários do estado para coletar a saliva das aves para um teste. O teste deu positivo e as aves da fazenda, 1 milhão no total, foram mortas. Os trabalhadores limparam as aves mortas e desinfetaram cada centímetro das instalações. Os celeiros foram aquecidos a mais de 100 graus por vários dias para ajudar a eliminar o vírus. Após o surto de 2015, a Versova levou um ano para reabastecer as granjas. Desta vez, as instalações de Iowa reabriram em fevereiro após o surto de outubro. Os funcionários já tinham experiência. Todos os materiais estavam prontos (equipamento de limpeza, lavadoras de alta pressão, fita adesiva, plástico e lona).

A indústria de ovos como um todo também está se recuperando de surtos de gripe aviária mais rapidamente do que há oito anos, cerca de três a seis meses para a maioria das fazendas, em comparação com seis a nove meses antes, de acordo com o American Egg Board, que representa os produtores e ovos. A Hickman's Egg Ranch afirmou que sua maior instalação abriga cerca de 4 milhões de galinhas livres de gaiolas, são muitas galinhas em um único local. Isso não será feito de novo. As novas instalações serão menores, abrigando cerca de 1 milhão de aves cada, e mais espaçadas devido à ameaça de surtos contínuos. Em dezembro, trabalhadores de uma das fazendas de Hickman no Colorado encontraram pássaros mortos em um dos celeiros. Depois que os resultados do teste deram positivo para a gripe aviária, todas as 300 mil aves da fazenda foram asfixiadas individualmente com dióxido de carbono.

A suspeita é de que um trabalhador tenha espalhado o vírus inadvertidamente, possivelmente pelas botas ou roupas. Para enfatizar a vigilância contra a transmissão, a empresa exige que as pessoas que entram em seus escritórios corporativos no Arizona passem por um tapete de cloro seco para desinfetar os sapatos. O surto anterior em grande escala nos Estados Unidos durou de dezembro de 2014 a junho de 2015, e matou mais de 50 milhões de frangos e perus. Funcionários do governo atribuíram o alto número de vítimas à propagação do vírus de fazenda em fazenda. No surto atual, as aves selvagens portadoras do vírus são responsáveis por 84% dos casos, disse o USDA. Patos selvagens, que incluem o pato-real e o pintail do norte, transportaram o vírus para criadouros de aves selvagens, ajudando a espalhar a gripe aviária em todo o país.

Em seu último relatório, a Cal-Maine, maior produtora de ovos dos Estados Unidos, afirmou em dezembro que não teve um único caso de gripe aviária, e que estava trabalhando para mitigar o risco de surtos. A empresa não revelou como manteve seus bandos seguros e se recusou a comentar. A Merck e outros fabricantes de medicamentos têm vacinas contra a gripe aviária, mas elas talvez não valham o custo e o esforço para usá-las. Os trabalhadores rurais teriam de aplicar injeções, e provavelmente mais de uma, em milhões de galinhas que geralmente produzem ovos por não mais do que um ano. O uso de vacinas também pode atrapalhar o comércio. Outros países teriam de aprovar ovos e proteínas de aves vacinadas. Os Estados Unidos são o segundo maior exportador mundial de carne de aves. A situação parece bastante complicada de se resolver. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.