02/Nov/2022
A pecuária, uma parte importante do agronegócio, sempre teve em seu DNA a busca por inovação, mesmo em ritmo não tão frenético que a agricultura de ciclo anual e por isso mais imediatista nas tomadas de decisões. A inovação da pecuária é uma das grandes forças motrizes do setor para a criação de soluções para problemas como produtividade, redução de emissões e maior conectividade nas fazendas. Desde a década de 1960, com o rápido avanço das tecnologias no mundo, mesmo que ainda de modo analógico, o setor passou por grandes mudanças em sua forma de criar e selecionar animais de melhor genética. Não por acaso o Brasil se tornou dono do segundo maior rebanho comercial de bovinos e maior exportador global de carne bovina, e no leite está entre os três maiores do mundo, com cerca de 34 bilhões de litros anuais.
Hoje, os setores da produção de carne e leite vivem o momento da pecuária 4.0, já de olho em um futuro não muito distante que é a ampliação desse conceito para a pecuária 5.0. A história da pecuária 4.0 é concomitante a uma revolução que se iniciou há cerca de 11 anos. Em 2011, o governo alemão criou um projeto de modernização para impulsionar a informatização dos processos industriais e a integração de dados. Naquele momento, a Alemanha cunhou o termo indústria 4.0 para designar uma produção mais ligada a tecnologias como IoT (internet das coisas), M2M (machine-to-machine) e outras. Assim como na agricultura, que embarcou no conceito para solucionar problemas como produtividade, assertividade, sustentabilidade e conexão, a pecuária passou a investir e desenvolver novas tecnologias que poderiam consertar questões similares, aliando ao negócio a sustentabilidade e o bem-estar animal.
Nos últimos anos, observa-se um aumento nos sistemas baseados em tecnologia de precisão sendo projetados e desenvolvidos especificamente para os produtores de bezerros, afirma um estudo publicado pela Universidade de Nebraska-Lincoln, localizada em uma das principais regiões pecuaristas dos Estados Unidos, maior produtor do mundo e responsável pela produção de aproximadamente 31,2 milhões de cabeça de gado em 2021. Compreender o mercado atual, tecnologias ou empresas específicas e o risco do investimento é importante para avaliar qual tecnologia é adequada para suas necessidades. Desde o século passado, a pecuária é conhecida por utilizar tecnologias como inseminação artificial, testes de progênie e outras que auxiliavam o produtor a ter mais assertividade em sua produção. Mas, no contexto da pecuária 4.0, cada vez mais novos itens e sistemas têm facilitado a vida do pecuarista e trazido precisão às fazendas. Algumas delas são:
- Softwares para controle de manejo: Já existem no mercado brasileira diferentes agtechs que oferecem softwares deste tipo. A ideia é que informações como extrato do rebanho, produtividade e análises zootécnicas fiquem reunidas em um único lugar com gráficos e relatórios para facilitar a decisão do pecuarista.
- Telemetria: Esta tecnologia ajuda o produtor a otimizar a alimentação dos animais da propriedade ao indicar as melhores áreas de pasto. A telemetria também transmite dados que informam como o solo pode ser melhorado para que a pastagem seja produzida na quantidade ideal.
- Drones: Com câmeras de boa qualidade e pequeno porte, os drones também ganharam espaço na pecuária 4.0. São utilizados para o monitoramento do rebanho, facilitando a identificação de fugas e falhas na cerca que podem trazer prejuízos ao produtor.
- Sensores IoT: Utilizados em colares inteligentes, os sensores IoT ajudam a medir e registrar informações ligadas à saúde dos animais da propriedade. Alguns colares já indicam dados como período de ovulação, comportamento do animal e incidência de alguma doença. Essas informações podem ajudar a reduzir o gasto com mão de obra e facilitar a manutenção do bem-estar animal nas fazendas.
Seja para a pecuária de corte ou a leiteira, a adoção das tecnologias 4.0 em busca de uma fazenda sustentável tem trazido uma série de benefícios em produtividade e/ou rentabilidade para as fazendas. Os resultados podem variar de acordo com questões de produção além da implementação das novas ferramentas, mas alguns levantamentos realizados recentemente já reforçam que as máquinas digitais vieram para ficar e trazem algum tipo de retorno. Para a pecuária leiteira, o mais recente Índice Ideagri do Leite Brasileiro, estudo publicado em meados de 2021 que entrevistou 1.144 propriedades, mostrou que os rebanhos que funcionam com software de gestão e outras tecnologias tiveram um incremento de 11,1% desde 2018, elevando a produtividade à média de 29,81 quilos de leite produzidos por vaca diariamente.
A produção de carne também é beneficiada pela implementação do 4.0 e pode trazer resultados diretos para a rentabilidade. Um estudo realizado neste ano pela Embrapa Pecuária Sul (RS) indicou que a pecuária de corte que utiliza ferramentas de precisão, aliada à produção de soja e azevém, impulsionou os resultados financeiros de pecuaristas em cerca de 24%. Considerando o mais recente levantamento do Instituto de Métricas Agropecuárias, realizado em 2020 com cerca de 447 fazendas, a rentabilidade mínima da atividade seria de R$ 600,00 por hectare. Ou seja, a utilização de drones, sensores e softwares em sistemas de produção integrados poderiam impulsionar o resultado de fazendas de corte a pelo menos R$ 840,00 por hectare. Fonte: Forbes. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.