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12/Set/2022

Boi: preços em baixa desestimulam confinamento

A queda no preço do boi gordo nas últimas semanas, pressionada pelo fraco escoamento de carne bovina no mercado doméstico, mesmo com exportações em alta, é um dos fatores que devem limitar o segundo giro de confinamento de boiadas este ano. A tendência é de que a engorda de bois confinados neste segundo semestre fique próxima da estabilidade ou registre tímido aumento. A DSM aponta que, nos últimos dez anos, a média de crescimento anual de bois confinados foi de 5%, com exceção de 2020 e 2021, quando a atividade evoluiu menos, cerca de 4%. Para este ano, o aumento deve ser de apenas 2%, passando de 6,65 milhões para 6,80 milhões de bovinos. A DSM, multinacional de nutrição animal, realiza, entre seus clientes pecuaristas, um censo anual sobre a intenção de confinamento. A esta altura, os bois a serem engordados no cocho já estão alojados ou prestes a entrar no sistema. O confinador, porém, segue atento ao principal indicador para a atividade: o valor da arroba do boi gordo na B3, que aponta as cotações em contratos futuros de venda.

Embora o contrato com vencimento em outubro, o mais líquido, tenha se encerrado na quinta-feira (08/09) em alta expressiva de R$ 4,10 por arroba ante a terça-feira (06/09), a R$ 313,60 por arroba, a média negociada pelo vencimento nos últimos dias está aquém disso, em torno de R$ 307,00 por arroba. O setor de confinamento projetava, para este contrato, valores entre R$ 330,00 e R$ 350,00 por arroba, que seria um piso remuneratório para a atividade. Nem mesmo a queda nos preços do bezerro no segundo trimestre deste ano, que recuou 13,5% de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), além da entrada, em massa, no mercado, do milho 2ª safra de 2022 (principal insumo da operação, que passou o ano inteiro com cotações em alta) resultaram em reação positiva da cadeia pecuária para alojar mais bovinos neste segundo giro, em função do barateamento de custos. Os pecuaristas temem pelos riscos de se ter ou não, mais à frente, uma arroba que compense os custos da produção intensiva na hora da venda do boi gordo e optam por se abster da atividade.

O receio se dá, segundo a DSM, pelo fato de o criador que já possui boiada terminada, ainda do primeiro giro, estar com a rentabilidade baixa e, em alguns casos, negativa. Há um risco alto de se colocar o bovino no cocho neste segundo giro. A B3 não está sinalizando futuro animador, há um deságio grande para as regiões fora de São Paulo. Em Goiás, por exemplo, a referência para o boi gordo está em R$ 260,00 por arroba, enquanto uma diária no confinamento segue entre R$ 18,00 e R$ 20,00 por bovino. Desta forma, a arroba teria um custo de R$ 250,00 e R$ 260,00 (até a terminação do boi, em cerca de três meses). Por isso, não há estímulo para se ter um segundo giro "cheio". Os pecuaristas estão apreensivos com o preço do boi gordo, que segue pressionado pela fraca demanda no mercado interno. Há dois cenários neste momento: de um lado está o criador que se programou, comprando insumos antecipadamente, e que vai com certeza confinar no segundo giro este ano.

Do outro, está aquele que ficou em dúvida sobre alojar ou não o boi no cocho. Neste caso, o pecuarista preferiu não assumir o risco de as boiadas não ficarem tão remuneradoras e cancelou o confinamento este ano. O pecuarista que deixou para resolver agora, esperando primeiro o preço do boi para depois decidir, acabou perdendo o timing. A DSM afirma que o censo nos confinamentos realizado pela empresa tem indicado que a quantidade de boiadas em terminação intensiva está concentrada em grandes confinamentos. Hoje, aqueles que engordam mais de 10 mil bovinos são responsáveis por 50% do rebanho brasileiro confinado, enquanto os pequenos, que alojam menos de mil bovinos, são responsáveis por 5%. Em um passado recente, porém, os pequenos tinham grande participação na atividade, mas foram desistindo por causa do custo de produção proibitivo. Então, em número de confinamentos eles seguem sendo representativos, mas em quantidade de bois dão um número restrito.

Por isso, o sistema de engorda via boitel está tendo forte crescimento, trazendo uma mudança no perfil do segmento. O pequeno produtor, em vez de engordar os bois em estrutura própria, acaba transferindo seu bovino para os boitéis (sistema em que o pecuarista envia o boi magro para engorda em estruturas de terceiros e paga um "aluguel" por bovino alojado até a data do abate). Após o desconto dos custos, o lucro é repartido entre o dono do boitel e o pecuarista. Entre as razões para a transferência dos bovinos aos boitéis, estão a limitação da mão de obra, insumos mais baratos e a logística. O produtor que não acompanhou a evolução tecnológica ficou para trás. A Fazenda Santa Fé, localizada em Goiânia (GO), é uma das que realizam o planejamento apurado antes de decidir quantos bovinos engordar no cocho. Mesmo assim, retraiu a atividade este ano, informa o proprietário. No ano passado, a Santa Fé confinou 72 mil bovinos e, este ano, embora vá engordar um número levemente superior, 75 mil, tinha como previsão inicial 90 mil bois. A Fazenda está operando com 50% da capacidade neste segundo giro.

O mercado está retraído, com o pecuarista mais cauteloso em razão dos preços decepcionantes para a atividade. O mercado interno de carne bovina está travado. No que diz respeito a preços, a viabilidade do confinamento é definida por três fatores principais. O boi magro, que compõe cerca de 70% do custo do boi terminado em confinamento, o milho, cuja participação varia conforme a dieta, mas em geral é o principal componente, e o preço de venda, o boi gordo. Um ponto de otimismo vem em relação a este último item, na avaliação da Associação Nacional da Pecuária Intensiva (Assocon). A entidade vê espaço para que o boi gordo se fortaleça no fim do ano, com aumento no consumo de carne bovina pelo mercado interno, que pode ser motivada pelas eleições, pagamento do 13º salário e a Copa do Mundo. Pode haver uma alta nos preços do boi gordo no fim do ano. Até lá, porém, o confinamento passa a segundo plano, já que, com a volta das chuvas, o pecuarista opta por sistema de engorda mais barata, a pasto. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.