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31/Ago/2022

Frango: restrição na oferta de ovos férteis no País

Neste mês de agosto, empresas do porte de BRF e JBS/Seara alertaram sobre a oferta restrita, no mercado, de ovos férteis de galinhas para produção de frangos de corte. Segundo a BRF, a situação levará um tempo para se readequar. A falta de ovos para fecundação está afetando o mundo inteiro, o que não possibilita um avanço de alojamento de mais aves de corte e de produção. A questão diz respeito, entretanto, a um passo anterior na cadeia produtiva de aves: as galinhas matrizes, ou seja, as que produzem os ovos férteis que vão, por sua vez, virar os pintos de um dia e, em seguida, frangos de corte. As matrizes estão ficando cada vez menos produtivas, em função da pressão da seleção genética para que originem frangos mais pesados, com peito e coxas grandes e tempo de abate mais curto.

Isso em um cenário de forte demanda pela carne de frango brasileira, principalmente no exterior. Com menos ovos férteis e, consequentemente, menos pintinhos de um dia para serem alojados nas granjas, a reposição dos frangos já abatidos fica, no mínimo, mais cara. Porém, essa restrição atual não ameaça o abastecimento da cadeia produtiva. A Fundação Apinco de Apoio à Ciência e Tecnologia Avícolas (Facta) afirma que a menor produtividade das matrizes em ovos férteis só agrava o problema em um mercado global sedento por carne de frango. As matrizes menos produtivas são um problema mundial, consequência da mudança no segmento de genética avícola, que atua para elevar a produtividade do frango abatido. Há uma ênfase na seleção genética para o melhoramento das carcaças dos frangos. Se busca obter mais peito, mais coxa, uma ave mais pesada.

Quanto mais exigidas geneticamente as matrizes nesses quesitos, elas naturalmente rendem menos na postura. A JBS confirmou a melhoria em curso na genética avícola, que permite o aumento de competitividade do setor ao longo dos anos. No entanto, chama a atenção para fatores que podem prejudicar a cadeia durante esse melhoramento genético. Quando se faz evolução em um segmento, surgem desafios em outras áreas. Tem melhoria, mas que requer manejo muito mais apurado, detalhado e que tenha um aprendizado ao longo do tempo. A Globoaves, empresa do setor de avicultura no Brasil, explica que a alteração na genética das matrizes é uma busca do setor para promover o aumento na produtividade dos frangos.

A galinha, responsável pela produção de ovos férteis, acaba perdendo performance e produz menos ovos em razão da alteração em sua genética. O macho também recebe modificações genéticas para produzir frangos com mais peito, coxa e sobrecoxa. Conforme essas mudanças têm sido feitas, naturalmente há uma menor produção e fertilidade das matrizes, e isso no mundo todo. A Apinco projeta, inclusive, que a queda na produtividade de galinhas matrizes, responsáveis pela produção dos ovos férteis, poderá levar ao menor alojamento de pintos de um dia este ano em comparação com 2021. O encurtamento na oferta de ovos férteis no País se deve, além das matrizes menos produtivas, a uma forte demanda exportadora de carne de frango. Isso se reflete também no preço da ave de reposição.

Hoje, o preço do pintinho está em níveis históricos, por volta de R$ 2,70 a R$ 2,80 por unidade, ante R$ 1,80 e R$ 1,90 por unidade no ano passado. A alta de custos com ração, igualmente, fez a cadeia produtiva diminuir o alojamento de pintos de um dia em cerca de 20 milhões, de 570 milhões por mês para 550 milhões por mês. Tirar 20 milhões por mês de pintos de um dia cadeia produtiva é um volume muito grande. Além do melhoramento genético das matrizes, que, apesar de produzir frangos mais pesados, as torna menos produtivas em ovos, fatores externos contribuíram para a redução na oferta de ovos férteis. Entre eles, a gripe aviária, que segue incidindo em granjas do Hemisfério Norte. A doença reduziu o número de matrizes em importantes países produtores, o que também se reflete na disponibilidade de ovos férteis.

Além disso, a desestruturação na cadeia produtiva em países que têm a gripe aviária faz com que o mercado passe a buscar os ovos férteis em fornecedores cujos plantéis são livres da doença, caso do Brasil. Dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) mostram crescimento nas exportações de ovos férteis: alcançaram US$ 94,6 milhões entre janeiro e julho de 2022, valor 14,4% maior ante igual período de 2021, ou US$ 82,6 milhões. Na ponta produtora, o Sindicato das Indústrias de Produtos Avícolas do Estado do Paraná (Sindiavipar) apontou que tem sido recorrente, nas granjas, a falta de ovos férteis. O setor acaba tendo de produzir ovos férteis tanto para exportar quanto para o mercado interno. Entretanto, não vai faltar carne de frango para ambos, pois a produção da proteína está ajustada à demanda.

A perspectiva de que não falte carne de frango, no curto e médio prazo no País, também é confirmada pela Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Não há nada que indique que esse problema de oferta restrita de ovos férteis vá causar falta de carne de frango, até porque há uma elasticidade na cadeia produtiva, referência ao fato de que, como o frango tem ciclo curto, de cerca de 40 dias do nascimento ao abate, o setor se adequa de forma mais rápida a mudanças. Segundo o Sindiavipar, a previsão é de que o alojamento de matrizes mais robusto ocorra a partir de 2023. É bom salientar que a cadeia produtiva da avicultura no País está ajustada à capacidade de criação. Se for forçado um alojamento maior pode ocorrer, como já aconteceu com outros ciclos de produção, uma superoferta de carne de frango.

O mesmo cenário é visto pela Globoaves, que defende a capacidade de produção atual, já que essa falta de ovos férteis ajuda na regulagem da produção, em um momento em que o País está exportando 400 mil toneladas de carne de frango por mês. A normalização da disponibilidade de ovos férteis seria possível com mais alojamento de matrizes nas granjas. Para isso, é preciso ter mais granjas em condições de alojamento. Hoje, boa parte delas é 100% automatizada, com linhas mecânicas e coleta automática. Não se faz nada manual por causa dos custos. Então, o déficit de produção de ovos férteis não se resolve rápido. No ano de 2023 esse déficit vai seguir. Talvez no ano de 2024 se resolva, com o aumento de produção e com mais matrizes no campo. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.