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27/Jul/2022

Leite: os modelos para produção baseada em ILPF

Os sistemas de integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) têm predominado nos debates dos mais diversos fóruns sobre sustentabilidade na produção agropecuária. Sua capacidade em otimizar o uso da terra, proteger o solo, mitigar as emissões de gases de efeito estufa, aliadas à redução dos riscos e a diversificação da produção com efeitos comprovadamente significativos no aumento da rentabilidade são os fatores que tornam esses sistemas estratégicos para o desenvolvimento de uma agricultura rentável, moderna e ambientalmente equilibrada. De acordo com estudos da Embrapa, a área ocupada com tais sistemas deve atingir aproximadamente 30 milhões de hectares até 2030, mantendo-se o ritmo de adoção atual. Dentre as várias combinações possíveis, os sistemas de integração-lavoura-pecuária (ILP), sem o componente florestal, são os mais difundidos, abrangendo praticamente 85% da área de cultivo com o uso dos sistemas integrados.

As combinações envolvendo a presença do componente florestal aparecem apenas nos 15% restantes. Alguns pontos fundamentais explicam estes números: o primeiro diz respeito ao perfil da produção (grãos X silagem, etc), o que nem sempre abre espaço para a introdução do componente florestal. Outro, diz respeito ao receio de muitos produtores em relação aos possíveis efeitos prejudiciais do componente florestal na produtividade das lavouras e/ou pastagem. Um terceiro ponto, ainda, se refere à percepção de que o componente florestal no sistema se destinaria apenas à produção de madeira, o que nem sempre é verdadeiro e nem sempre é objetivo do produtor. Na última década uma série de estudos foi conduzida com o objetivo de preencher as lacunas existentes e ampliar o conhecimento sobre o uso do componente florestal em sistemas integrados, particularmente àquelas relacionadas aos seus efeitos quando em associação com culturas anuais e as pastagens.

Entretanto, a espécie mais estudada ainda tem sido o eucalipto, dadas as suas caraterísticas de produtividade, plasticidade ambiental e facilidade de manejo. Com o crescimento da discussão sobre a necessidade de se ampliar o leque de opções de espécies arbóreas, bem como a possibilidade de introdução de espécies com objetivos que não sejam apenas a produção de madeira, tem crescido também o interesse da comunidade científica no desenvolvimento de sistemas integrados mais diversificados e focados na produção de serviços ambientais, tais como: sistemas de arborização de pastagens com espécies arbóreas/arbustivas leguminosas para sombreamento e/ou fonte de proteína para alimentação animal, a introdução de espécies fruteiras em áreas de pastagens como alternativa de renda e os sistemas integrados agroecológicos e regenerativos. Assim, didaticamente as árvores serão agrupadas em 3 grandes grupos:

Espécies Maderáveis: As espécies madeiráveis são aquelas que, além da função do sombreamento para os animais, também são utilizadas para a produção de madeira (uso na propriedade, venda, etc.). A principal espécie utilizada atualmente é o eucalipto, dada a sua grande plasticidade ambiental, crescimento rápido (proporcionando a entrada dos animais na área mais cedo), facilidade de manejo e proporcionar a produção de vários tipos de produtos (mourões, lenha, postes, madeira serrada, réguas, etc.). Outras espécies que têm ganhado atenção são o mogno africano e a teca por sua qualidade superior e uso mais nobre, proporcionando maiores receitas. Os arranjos de plantio utilizados devem ter como fundamento proporcionar um crescimento retilíneo do tronco das árvores, para melhor aproveitamento da madeira. Além disso, os espaçamentos devem proporcionar maior entrada de luminosidade para o sub-bosque a fim de não prejudicar a produção de forragem.

Espécies de Serviços: São espécies arbóreas introduzidas em áreas de pastagens visando a produção de serviços ambientais ou a produção de alimentos, tais como: proteção do solo, fixação biológica de nitrogênio, adubação verde, bem-estar animal, forrageamento, etc. As espécies mais difundidas para esta função são aquelas pertencentes à família das leguminosas, dentre as quais pode-se citar: leucena e gliricídia (fixação biológica de nitrogênio, adubação verde, proteção do solo, forragem e sombreamento); sansão-do-campo, albizia guachapele, jurema-preta, jurema-branca, algaroba (fixação biológica de nitrogênio, adubação verde, sombreamento, proteção do solo).

Espécies Fruteiras: Espécies fruteiras que sejam compatíveis com o convívio animal são aquelas que devem compor os sistemas. As condições de compatibilidade devem considerar a relação entre a parte da árvore e do animal, elementos tóxicos ou fisicamente deletérios aos animais, ou ainda, atratividade dos animais ao consumo das partes vitais das árvores. Algumas fruteiras apresentam palatabilidade de ramos, folhas e frutas que poderão ser fornecidos aos animais em caso de necessidade de alimento, desde que não comprometa seu desenvolvimento e capacidade produtiva. A opção do uso de espécies fruteiras como componente arbóreo do sistema ILPF possibilita ao produtor rural uma complementação de renda pelo autoconsumo e pela comercialização de frutas frescas e/ou processadas.

Renques de linhas simples da fruteira alternados com faixas de pastagem é a base dos arranjos de sistemas silvipastoris com fruteiras. A necessidade de elevada radiação para o bom crescimento das forrageiras tropicais sugere que o espaçamento entre renques e entre plantas em ILPF seja sempre maior do que o recomendado para formação de pomares homogêneos. Os espaçamentos poderão variar em função do posicionamento da área em relação ao sol, tamanho da copa, porosidade da copa, entre outros fatores. Normalmente, se o sentido de plantio coincidir com a disposição Leste-Oeste (em terreno declivoso deve-se respeitar as curvas de nível em primeiro lugar), o espaçamento entre plantas pode ser mantido, aumentando o espaçamento entre linhas.

Caso o posicionamento seja mais Norte-Sul, recomenda-se a abertura do espaçamento entre plantas também, esse procedimento melhora a iluminação geral da área sob as copas. Um exemplo prático pode ser dado considerando plantio de cajueiros em uma área de criação de bezerros. A recomendação de espaçamento em cultivo tradicional é 7 m x 7 m, considerando um cultivo Leste-Oeste, uma recomendação poderia ser 7 m entre linhas por 14 m entre renques. Se considerar um cultivo Norte-Sul, uma recomendação seria 10 m entre plantas e 10 a 15 m entre renques. Cabe ressaltar que o espaçamento deverá seguir um bom planejamento e bom-senso para a definição de qual a melhor disposição das plantas para cada situação. O pecuarista deve optar por espécies e variedades adaptadas às condições de solo e clima da região, de porte médio a alto e com baixa exigência em tratos culturais.

As mudas deverão estar no padrão para comercialização, isentas de pragas e doenças, vigorosas e obtidas em viveiros idôneos. Recomenda-se a aquisição de 5% a mais de mudas do que o necessário para possível replantio de plantas mortas. As mudas devem ser levadas ao campo no início do período chuvoso e com dias nublados. Durante a fase de formação, as árvores devem ser protegidas do alcance dos animais. Como no caso das espécies fruteiras esse período pode ser relativamente longo, recomenda-se o isolamento com cerca elétrica bem construída, para que a pastagem possa ser aproveitada sem danificar as árvores nesse estágio de fragilidade. Quando as árvores atingirem um diâmetro de tronco adequado para a categoria animal a ser associada, recomendando-se acima de 6 cm para bovinos jovens e 12 cm para bovinos adultos, as cercas podem ser removidas e os bovinos liberados para convívio direto com a árvores.

Adubações e podas de formação e produção devem ser realizadas conforme as recomendações para a espécie escolhida. Independente da forma de aproveitamento das frutas produzidas elas deverão ser colhidas ainda nas plantas, sob risco de os animais pisoteá-las ou mesmo consumi-las, caso caiam no chão. O início de produção, a época de colheita e o ponto de colheita variam com a espécie e o destino da produção e o isolamento ou não dos animais durante a fase produtiva da fruta deve ser analisada caso a caso. A escolha da melhor opção dependerá de uma boa análise técnica sobre o clima, o solo, o mercado, a categoria animal a ser associada, o objetivo da fazenda, entre outros fatores. Um bom estudo prévio garante uma escolha assertiva. Fonte: Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Transferência de Tecnologia em Intensificação Sustentável da Agropecuária Tropical. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.