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21/Jul/2022

Boi: aftosa na Austrália poderia beneficiar o Brasil

Os focos de febre aftosa detectados recentemente em bovinos na Indonésia, a 100 Km da Austrália, preocupam o país da Oceania, que não registra a doença há décadas e nem mesmo vacina mais o rebanho. Caso a aftosa atravesse a fronteira, o Brasil, concorrente da Austrália em exportação de carne bovina, pode se beneficiar, e receber a demanda de outros e nobres mercados, como o do Japão e Coreia do Sul. Sob a hipótese de ausência da Austrália nas exportações globais de carne em caso de contaminação dos rebanhos, a demanda se voltaria para o Brasil, que poderia vender para mercados que almeja há algum tempo.

O movimento impulsionaria o volume embarcado do Brasil ao mercado chinês e norte-americano, pois a Austrália também vende carne bovina para estes destinos. A febre aftosa é considerada a maior ameaça de biossegurança para o gado australiano e um surto pode levar ao abate em massa de animais infectados, além de fechar o lucrativo mercado de exportação de carne bovina da Austrália por um período. Hoje, a Austrália é o quarto maior exportador mundial de carne bovina. Dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) indicam que o país foi responsável por 11% das exportações globais em 2021, sendo que em 2019 a participação foi de 15%.

Apesar da forte queda no rebanho bovino australiano nos últimos dois anos, o Rabobank vê com expectativa a recuperação na produção neste ano, com a maior disponibilidade de gado pronto para abate. Levantamento do banco mostra que a produção deva atingir o nível de 1,9 milhão de toneladas, alta de 4,2% com relação a 2021. Do lado das exportações, o banco projeta recuperação nos embarques em 6% em volume. A maior oferta e preços menores de 'loan trimmings' (para produção de hambúrgueres) devem guiar a recuperação nos embarques principalmente para Estados Unidos e China.

Porém, apesar das expectativas de incremento na demanda brasileira, caso a Austrália encontre dificuldades em exportar a proteína animal, o Brasil não ganharia automaticamente esses mercados. A começar pelo fato de o Brasil ainda não ter autorização para embarcar carne bovina in natura para o mercado japonês, por exemplo. A expectativa de que o Japão liberaria os embarques surgiu quando o Brasil conseguiu abrir o mercado dos Estados Unidos, considerado bastante exigente. Segundo o Rabobank, há uma tendência histórica de o mercado japonês confiar bastante no selo sanitário dos Estados Unidos.

Mas, até agora, não há nenhuma movimentação para que ocorra a abertura do mercado japonês. Uma eventual saída da Austrália poderia acelerar esse movimento, mas sem grandes expectativas no curto prazo. O Japão tem uma política sanitária mais rigorosa e acaba importando carne bovina de países que têm status livre da febre aftosa sem vacinação, o que ainda não é o caso do Brasil, que pretende obter esse certificado para todo o País em 2026. Para o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), na onda dos países que são bastante cobiçados para exportação de carne bovina, pois pagam bem, o Brasil poderia atender, ainda, Indonésia e Filipinas.

São mercados que o Brasil deseja há algum tempo. Se a febre aftosa entrar na Austrália, os olhos desses players se voltariam para o Brasil. O País possui posição estratégica se for demandado por outros mercados, pois conta com uma produção robusta de carne bovina. No início de julho, uma carta do Ministério da Agricultura da Indonésia confirmou a entrada da febre aftosa em Bali, importante ponto turístico do país, com testes apontando a contaminação em 63 vacas, em três locais ao redor da ilha.

As infecções em Bali somam-se aos mais de 230 mil animais contaminados em 22 províncias da nação desde que o surto foi relatado pela primeira vez, no início de maio. Há mais de uma dúzia de voos de Bali para a Austrália todos os dias e esse número deve aumentar nas próximas semanas, à medida que o turismo se recupera após o fim das medidas restritivas ocasionados pela Covid-19, causando forte preocupação das autoridades australianas quanto à possibilidade de o vírus da aftosa ingressar no país. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.