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19/Jul/2022

Frango: Brasil amplia liderança global na exportação

Mesmo considerando que 69% das criações de frango são destinadas ao abastecimento interno, em duas décadas as exportações das aves renderam R$ 145 bilhões. Olhando para os embarques mais recentes, em junho a exportação de frango, suínos e ovos bateu pela primeira vez a casa de US$ 1 bilhão ao mês. E o frango respondeu por 80% desse montante. O Brasil devemos continuar nesse ritmo. A meta do setor era exportar 500 mil toneladas por mês. Esse projeto tinha maturação em um prazo muito mais alongado, mas já está acontecendo agora. Neste ano, o País só não exportou 500 mil toneladas nos dois primeiros meses. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), as projeções são de mais crescimento. Contam para a avicultura brasileira as condições favoráveis de solo, água e clima, que se traduzem em disponibilidade de grãos, como também a saúde dos planteis. Dentre os grandes produtores mundiais, o Brasil é o único que nunca registrou casos de gripe aviária e há mais de 20 anos não tem ocorrência da peste suína africana (PSA).

Essas doenças assolam atualmente a Europa e a Ásia, e a gripe aviária ressurgiu há poucos meses nos Estados Unidos, depois de sete anos, exigindo o sacrifício sanitário de quase 40 milhões de frangos. Por outro lado, logo após a pressão na demanda pela pandemia de Covid, veio a guerra da Ucrânia, que interrompeu o envio de grãos para alimentar milhões de frangos em outros países. O conflito abalou as próprias exportações ucranianas, de 440 mil toneladas por ano, que situavam o país na 5ª posição global. Todo esse contexto mostra ao Brasil que será preciso comprar de quem tem capacidade de aumentar a produção. A previsão é de que em cinco anos será preciso aumentar a oferta mundial de alimentos em torno de 12% a 15%, mas, do Brasil, espera-se 41%. Esse crescimento poderá vir tanto pelo incremento da produção na Região Sul do País, que já responde por 64% do total, como em novos empreendimentos na Região Centro-Oeste e no MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), que têm farta colheita de milho e soja.

Um avanço possível, por causa da competitividade da cadeia produtiva. Para o frango, não é preciso grandes áreas. É possível agregar valor ao milho e à soja, assim como o subproduto, que é a cama aviária, que pode ajudar como adubo, e os biodigestores para queima de gás e energia. São fatores que facilitam o comércio de proteína próxima a regiões consumidoras, principalmente o Nordeste. Vão pesar outros fatores, como clima, maior gasto com energia para refrigeração devido ao calor, tudo isso impacta. Mas, a capacidade produtiva e o fato de ser uma proteína barata, faz romper barreiras. Um mercado aberto recentemente foi o da Índia, que tem uma população de 1,38 bilhão de pessoas. Mas, na prática, os indianos inviabilizam a importação do frango brasileiro impondo uma taxa de 100% nos cortes e 30% na ave inteira. Neste ano, a exportação para a Índia se resumiu a irrisórios 2.820 Kg. Em todo o ano passado foram 121.000 Kg. É uma situação que tende a mudar por força do mercado.

Países como a Índia taxam visando proteger o mercado doméstico, mas infelizmente penalizam a população, o consumidor final. No longo prazo, isso tende a melhorar. O mercado globalizado vai buscar eficiência, e tendo produção mais eficiente no Brasil, invariavelmente chegará nesses países que criam taxas para proibir a entrada. No curto prazo, são os europeus que devem correr atrás de mais frango. Na Europa, quando chegar o inverno haverá um problema sério de gás e energia. No ano passado, os abatedouros do País processaram 6,18 bilhões de cabeças de frango, quase um frango para cada habitante do planeta. A liderança nas exportações é algo consolidado. O total de embarques anuais para clientes em 151 países chega a 4,6 milhões de toneladas, um milhão à frente do segundo colocado, os Estados Unidos, e mais de três milhões adiante do terceiro lugar, a União Europeia. Lideram as compras a China (14,33% de participação), Japão (10,04%), Emirados Árabes Unidos (8,71%), Arábia Saudita (7,91%), África do Sul (6,64%) e União Europeia (4,32%).

Segundo a Embrapa Suínos e Aves, se um prato à base de frango é corriqueiro hoje à mesa dos brasileiros, não é preciso voltar muito no tempo para atestar uma realidade bem diversa. Em 1970, cada brasileiro consumia em média 3 Kg de frango por ano. Em 2000, eram 29,9 Kg e, hoje, já são 45 Kg. É uma conquista expressiva em muito pouco tempo. Hoje, o frango já é a principal fonte de proteína animal no Brasil, de boa qualidade e custo razoável. Atualmente, a pesquisa tem concentrado esforços para encontrar alternativas viáveis de alimentação para o frango, que ajudem a diminuir a dependência das commodities valorizadas de soja e milho. Na Região Sul, apenas o Paraná é autossuficiente em milho. A saída pode estar nos cereais de inverno (trigo, centeio, aveia e cevada, entre outros). Essa mudança de dieta, no entanto, ocorre a passos lentos. Porque o agricultor precisa confiar no mercado antes de plantar, e isso vem de uma relativa segurança quanto à demanda e ao preço.

Nesse ano, principalmente, com problemas na Ucrânia e Rússia, os cereais se valorizaram muito, então o produtor deve ter uma resposta muito grande, expandindo as lavouras. Há um enorme potencial para os cereais de inverno, até porque isso liberaria o milho para exportação. Para dar conta de alimentar milhões de frangos, outra fonte que ganha espaço é o DDG, que nada mais é que o grão seco após a destilação do etanol de milho. Tem alta taxa de proteína bruta e tem ainda composição de energia interessante, é altamente viável na dieta de frangos, suínos e bovinos. Hoje, o etanol de milho já consome 10 milhões de toneladas de grãos por ano, gerando um volume expressivo de disponibilidade de DDG. Ainda que haja preocupação em variar a dieta do frango por questões econômicas, não há risco de faltar milho para abastecer o mercado interno. A safra atual que está sendo colhida deve ser cheia, depois de dois anos com quebras por geadas. Não há risco de faltar milho. O que pode haver é um câmbio favorável para exportação.

Se o Brasil exportar tudo o que o mercado quer levar, pode ser que o milho fique caro no mercado interno. Será necessário pagar a paridade com o preço de exportação, mas não haverá falta. A elevação dos custos dos combustíveis, e, por extensão, dos fretes, tornou mais difícil neste ano movimentar o milho dentro do País. Se pegar milho em Mato Grosso, que é um grande produtor, para trazer ao Paraná o valor é acrescido de R$ 20,00 por saca de 60 Kg de devido à distância, o que acaba inviabilizando. Essa competitividade fica evidente ao se comparar o preço do frango no início dos anos 90, época do Plano Real, com o custo atual para o consumidor brasileiro da população de mais baixa renda. O frango resfriado custava R$ 1,00 por Kg, em torno de 1,4% da renda, que girava em torno de R$ 70,00. Hoje, o frango abatido é comprado por R$ 10,00 por Kg, em cima de uma renda de R$ 1.200,00. Ou seja, abaixo de 1% do comprometimento da renda. Mesmo com os custos altos, o frango tem ganhado eficiência produtiva. Fonte: Gazeta do Povo. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.