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18/Jul/2022

Boi: frigoríficos reduzindo as negociações a termo

A negociação de bois a termo (modalidade na qual a indústria "encomenda" ao pecuarista determinado número de bovinos para entrega num prazo combinado e com valor prefixado no mercado futuro do boi gordo na B3) parece ter mudado este ano em relação a anteriores. Os frigoríficos têm modificado sua estratégia para garantir animais para abate no segundo semestre. Uma das fontes reconhece que este ano, de fato, não está normal no que diz respeito aos contratos fechados entre as partes. Um fator para essa mudança tem a ver com a suspensão, no ano passado, das vendas de carne bovina para a China por cerca de três meses, que deixou frigoríficos mais cautelosos na hora de encomendar bois para abate futuro. Recentemente, aliás, o gigante asiático tem suspendido várias unidades de abate de bovinos no Brasil, o que também gera apreensão. Na ponta produtora, os pecuaristas relatam que, de fato, as condições de negociação de bois a termo com a indústria mudaram, além da dificuldade e redução dos contratos, outro movimento que vem sendo observado é que os frigoríficos têm preferido arrendar, eles mesmos, unidades de confinamento para engordar boiadas próprias.

De fato, os frigoríficos vêm verticalizando a produção e ido atrás do arrendamento de estruturas de confinamento. Esse movimento concentrou a engorda em grandes produtores. Mas, trouxe outra solução aos frigoríficos, que é a padronização de carcaça. Os compradores se tornam responsáveis pela terminação do bovino e controlam a padronização dessa carcaça, que é algo desejável. A Fazenda Santa Fé, localizada em Goiânia (GO), que confinou 72 mil bovinos no ano passado, de bois padrão exportação, confirma a queda nas "encomendas" de boiadas por parte da indústria neste ano. O número de negociações da modalidade de boi a termo caiu 90% de 2021 para 2022. O proprietário da fazenda também acha que o mercado está diferente este ano. Não está mais tão fácil travar o preço do boi gordo no mercado futuro da B3 com a indústria. Se o pecuarista "pedir muito" para a indústria travar preços na B3, ela aceita, mas as condições mudaram.

No ano passado, era possível, por exemplo, travar o preço do boi gordo de São Paulo em Goiás, sendo que a arroba em Goiás é mais barata do que a de São Paulo. Mas, hoje, os frigoríficos estão mais receosos com os preços futuros e o referencial. Sobre o referencial, no ano passado, os pecuaristas negociavam com os frigoríficos com base nos preços futuros da B3, em São Paulo, para um referencial (ou seja, desconto) que poderia alcançar R$ 8,00 por arroba. Se o valor negociado no futuro estava em R$ 330,00 por arroba quando o contrato foi fechado, o pecuarista receberia um desconto de R$ 8,00 por arroba ou R$ 322,00 por arroba na data de entrega da boiada. Hoje, se o pecuarista forçar a negociação com a indústria), o referencial vai ser menos R$ 15,00 ou R$ 20,00 por arroba. Assim, se a Fazenda Santa Fé confinava 72 mil bovinos por ano, este ano pretende reduzir um pouco a aposta, engordando no cocho entre 69 mil e 70 mil bovinos.

O Boitel São Lucas, localizado em Goiás, que confina cerca de 15 mil bovinos por ano, vem realizando, ao longo das últimas semanas, volume considerável de negócios a termo. Mas, não com todos os frigoríficos. As operações têm sido feitas, na maioria absoluta, com a Minerva. É o único frigorífico que tem dado abertura para o pecuarista nesta modalidade de venda de bois gordos. JBS e Marfrig não têm oferecido a opção a termo, mas aceitam pagar as boiadas com base no índice Cepea de Mato Grosso, somente no dia de entrega dos lotes ao frigorífico. Porém, a modalidade proposta por essas indústrias não fica interessante, porque perde a função de proteção. Para confinar os bovinos, os pecuaristas costumam, para se proteger de oscilações de preços da arroba, tomar como base os preços sinalizados no mercado futuro do boi gordo na B3 no momento de entrega dos lotes prontos. Assim, conseguem uma previsibilidade de lucro a partir do cálculo de todos os custos de produção e do preço da arroba futura, na hora de entrega do boi para abate.

É este preço futuro que os pecuaristas costumam fechar com os frigoríficos na negociação de bois a termo. JBS e Marfrig contam com confinamento próprio, enquanto a Minerva ainda trabalha com confinadores parceiros. Mesmo assim, com a tradicional oferta restrita de boiadas no segundo semestre, por causa da seca nos pastos, a quantidade de negociações a termo pode subir. Pode surgir uma certa urgência entre os frigoríficos em fazer negócios antecipados, mas não muito, porque eles têm se abastecido por meio de outros mecanismos. Do lado das indústrias, a Marfrig confirma que a modalidade de negociação de boi a termo perdeu um pouco de força nos últimos anos. Existem produtores que faziam esse tipo de operação, mas, com a alta dos preços da arroba, que ficou acima do previamente combinado, eles acabaram deixando de ganhar em algum momento. O boi a termo tem perdido a atratividade ao produtor. Em alguns momentos, o mercado opera (bois a termo), em outros não. É analisado caso a caso, depende muito do momento. Nos últimos anos, a Marfrig já operou boi a termo, mas deixou de operar.

A Frigol avalia que a demanda pela "trava" de preços futuros na B3 pode aumentar, caso os valores dos contratos futuros do boi gordo na bolsa apontem tendência de alta. A negociação garantirá ao pecuarista a cobertura dos custos com o confinamento, eliminando o risco de se deparar com a volatilidade do mercado físico. Apesar da resistência de algumas empresas, a Frigol defende que a negociação a termo é interessante aos frigoríficos, já que traz a garantia de fornecimento de bois prontos para abate e uma previsibilidade de custos de aquisição. JBS e Minerva não comentaram sobre o assunto. O Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq/USP), comenta que a adoção dos contratos a termo é mais demandada quando há oscilações frequentes de preços da arroba no mercado físico do boi gordo. Neste momento, com o mercado mantendo o preço do boi em um nível mais elevado, o pecuarista começa a se movimentar na busca dessa ferramenta. No mercado há um dilema sobre se os frigoríficos estão realmente abastecidos apenas pelos mecanismos que adotaram ou se vão recorrer de forma imponente às negociações a termo no segundo semestre do ano.

Para a B3, diante dos riscos da manutenção do cenário de escassez de oferta de bovinos, indústrias operam negociações associadas aos preços futuros e somando um bônus de prêmio na precificação para entrega de bois entre julho e setembro deste ano. Os frigoríficos atuam para garantir uma oferta mínima de bovinos na segunda metade do ano, justamente quando a demanda externa é mais aquecida. Buscam de forma antecipada, junto à cadeia de produção, reduzindo, em parte, o panorama pessimista atual quanto ao segundo giro de confinamento neste ano. Os frigoríficos que estão fazendo o contrato a termo, estão pagando além do valor futuro, um valor de prêmio. Há casos de R$ 5,00 R$ 7,00 e até R$ 10,00 por arroba como um prêmio de garantia de oferta lá na frente. Ainda assim, os custos elevados podem pressionar as margens do produtor. Quem tem caixa vai conseguir segurar e aproveitar as altas. É uma questão de ponderar o risco-retorno, só que para o curtíssimo prazo os preços estão em uma toada significativa por causa da oferta reduzida de bois prontos para abate. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.