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12/Jul/2022

Leite: dificuldade em repassar custo ao consumidor

O período atual é de forte alta conjuntural de custos de produção de leite. Mas, uma análise mais criteriosa mostra que há um processo de pelo menos doze anos de elevação dos custos de produção acima da inflação geral da economia. A partir de 2011, os valores começaram a descolar, atingindo o descolamento máximo nos últimos 5 anos. Os ganhos de produtividade, que estão existindo, não estão sendo suficientes para compensar os custos de produção em ascensão. Se o preço dos lácteos teve uma trajetória de queda por um longo período a partir da década de setenta (1970), essa realidade mudou nos últimos 15 anos. Nesse cenário, a retração econômica e a perda de renda dos mais pobres dificulta o repasse dos custos ao consumidor. A inflação dos lácteos ao consumidor ficou abaixo da inflação de custos. Ainda que não se tenha nesta análise o comportamento dos custos de produção industrial e distribuição, a tendência de margens em que da indústria sugere que esta arcou com esse ajuste. Mesmo com os preços ao produtor acompanhando os custos, o setor produtivo como um todo não tem conseguido manter as taxas de crescimento do passado.

Neste ano, o primeiro trimestre apresentou uma queda inédita de mais de 10%, e é provável que o ano termine com uma retração de 7% a 8%. Muitos fatores devem estar relacionados a esse cenário: competição com outras atividades agrícolas, principalmente em regiões com estrutura fundiária marcada por áreas de porte maior e com baixos índices de produtividade do leite, onde a migração para soja, cana-de-açúcar e outras atividades é mais fácil (ex: Goiás); dificuldade de fazer a transição de uma estrutura setorial marcada por pequenos produtores com baixa tecnologia, para uma estrutura de maior escala e com tecnologia compatível com a necessidade competitiva; problemas climáticos frequentes; coordenação da cadeia produtiva e ambiente de negócios; acesso a crédito barato; etc. Nesse processo, muitos produtores estão deixando a atividade. Custos em alta estrutural e corrosão da renda do consumidor mudam as perspectivas do crescimento da atividade. De 2000 a 2014, houve uma forte expansão da base de consumo de leite, motivada pelo aumento da renda e por custos de produção que mantinham o produto competitivo para o consumidor.

Esse período acabou e não há mais o leite barato do passado. O resultado é um novo equilíbrio entre oferta e demanda. Foi-se o tempo em que o setor mirava os 200 Kg de leite/habitante/ano. As estimativas sugerem que 2022 deve encerrar com pouco mais de 150 Kg de leite/habitante/ano (mesmo valor de 2009). O mercado total por volume, que inclui o aumento populacional, retorna a níveis de 2010-2011. Esse é o tamanho do ajuste. É possível recuperar o consumo anterior, mas isso depende de uma série de fatores, como o aumento da renda e a busca por maior eficiência por litro e principalmente por sólidos produzidos, além do efeito dos substitutos, sejam eles os de baixo custo (análogos, misturas lácteas), sejam os que focam o topo da pirâmide (plant-based). Essa maior eficiência passa por aumento de produtividade, melhora logística, aumento de sólidos e inteligência de dados na produção e na indústria. É preciso haver qualidade operacional e eficiência. Talvez, nos próximos, o setor fique menor, mas mais competitivo e alinhado às demandas do consumidor. Fonte: Freepik. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.