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03/Mai/2022

Boi: bloqueios da China afetam os preços no Brasil

A volta da China às compras rendeu ao Brasil exportações recordes de carne bovina no primeiro trimestre deste ano, com embarques totais de 545,7 mil toneladas, ou quase US$ 3 bilhões. Mas, o fim do embargo de três meses imposto pelo governo chinês (de setembro a dezembro de 2021) devido à identificação de dois casos atípicos do “mal da vaca louca” em Minas Gerais e Mato Grosso não devolveu tranquilidade à cadeia produtiva. A política de “Covid zero” na China deflagrou uma onda de suspensões temporárias às exportações de frigoríficos brasileiros. Ao menos seis plantas já foram bloqueadas desde março. Algumas delas estratégicas, como a unidade da JBS em Mozarlândia (GO), no Vale do Araguaia, uma das principais do País. O movimento deve ter pouco impacto sobre o volume a ser exportado pelo Brasil, mas afetou o preço do boi gordo nas regiões das unidades suspensas e atrapalhou os planos de pecuaristas. Na região de Mozarlândia (GO), o boi gordo caiu cerca de R$ 40,00 por arroba em pouco mais de um mês, de R$ 320,00 por arroba para perto de R$ 280,00 por arroba.

A planta local da JBS é uma das maiores da América Latina, com capacidade de abate de até 80 bovinos por hora. A empresa não comentou os motivos da decisão chinesa. Em Mozarlândia, produtores e intermediários especulam a possibilidade de uma “paralisação programada” para a troca de máquinas e adaptação do frigorífico para abate de até 2,2 mil bovinos por dia. Há rumores de que o bloqueio, que inicialmente era de uma semana e passou a não ter prazo determinado, foi imposto devido à detecção de ácido nucleico do novo coronavírus em embalagens de carne congelada exportada. Segundo o Sindicato Rural de Mozarlândia, os pecuaristas perderam dinheiro. O “boi-China”, bovino com menos de 30 meses de idade para atender às exigências da China, precisou ser negociado ou solto no pasto. Alguns venderam o suficiente para cumprir a folha de pagamento e honrar despesas, e outros tentam negociar fora. A saída do pecuarista, principalmente do invernista, é pouca. Se está com bovino pronto, normalmente perde.

A expectativa é que o retorno dos abates e das vendas à China derrube ainda mais o preço pago pelo boi gordo, pelo aumento da oferta na região de confluência entre Goiás, Mato Grosso e Tocantins. O frigorífico é dominador do preço. Ainda vai chegar à situação mais crítica, quando vai forçar mais baixa. Em São Miguel do Araguaia (PA), o Masterboi foi surpreendido com a suspensão das vendas para a China por razões desconhecidas. Sem notificação oficial da China ou do governo brasileiro, a empresa informou que segue um rigoroso protocolo sanitário contra Covid-19 e já concluiu todo ciclo vacinal em suas unidades no Brasil. Na unidade suspensa pela China, o último caso de Covid-19 foi em janeiro. A surpresa desagradável pode pesar sobre as contas dos frigoríficos de menor porte, já que a habilitação para a China é um diferencial das plantas, ainda mais em épocas de consumo doméstico enfraquecido. É um grande impacto, já que existe uma diferença abissal entre os que exportam para a China e os que são voltados ao mercado doméstico.

Sem a habilitação, as contas entram no vermelho e o planejamento é afetado. Os contratos para China são de volumes significativos, cotados em dólar, e acabam puxando o preço do boi. Com a suspensão, os bovinos vão ter que ser redirecionados. Como podem ter custo maior, a rentabilidade não é a mesma. Além dessas plantas, a Administração-Geral das Alfândegas da China (GACC) também interrompeu por uma semana, a princípio, outra da JBS em Barra do Garças (MT), os frigoríficos da Marfrig em Várzea Grande (MT) e Promissão (SP) e o abatedouro da Naturafrig em Pirapozinho (SP). A China pediu à diplomacia brasileira informações e para que as empresas investiguem a causa do problema e o corrijam. Outras três plantas de abate de aves foram impedidas de exportar para a China este ano, duas em janeiro e uma em março: a da São Salvador em Itaberaí (GO), a da Bello Alimentos em Itaquiraí (MS) e a da BRF em Lucas do Rio Verde (MT). A planta da BRF de Marau (RS) também foi suspensa, em dezembro de 2021.

O Ministério da Agricultura tem recebido os comunicados sobre a suspensão dos frigoríficos por detecção de vestígios do coronavírus e precisa enviar relatórios à China para informar quais ações as empresas têm adotado para evitar novas contaminações. Com isso, a retomada automática das atividades, prevista para ocorrer em sete dias, nem sempre acontece. A avaliação do governo brasileiro é de que o avanço da Covid-19 na China elevou a pressão sobre as autoridades do país. O bloqueio aos frigoríficos funcionaria como uma resposta à população pelo aumento de casos. Não tem nenhuma razão técnico-científica para a China continuar com as suspensões, afirmam os especialistas. Os bloqueios não são apenas a frigoríficos do Brasil; outros países também têm sido afetados. No entanto, a realidade é diferente para os Estados Unidos, que conseguiram recentemente centenas de habilitações no sistema de “pre-listing”, que tem exigências sanitárias menos restritivas e prevê até permissão para abate de bovinos com mais de 30 meses de idade.

Alguns técnicos e representantes da indústria acreditam que um acordo político de alto nível com o governo chinês melhoraria a situação para o Brasil. Mas, com as restrições impostas pela pandemia, como a necessidade de quarentena para visitar a China, uma reunião presencial está longe de acontecer. Além disso, há mudanças políticas que podem ter influência sobre novos bloqueios. Ni Yuefeng, ex-chefe da Administração-Geral das Alfândegas da China (GACC) foi nomeado secretário do Comitê Provincial de Hebei (província onde fica Pequim), um cargo superior ao de governador. Alguns analistas não acreditam que as suspensões sejam parte de uma estratégia chinesa para diminuir os preços da carne. É muito pouco provável que se consiga reduzir preços com liberações ou bloqueios a plantas. O setor é pulverizado. Muitas empresas privadas tomam a decisão de compra e venda. É o tema sanitário que está no cerne das suspensões. Fonte: Valor Econômico. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.