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27/Abr/2022

Suíno: China reduz compras e afeta setor no Brasil

A China está recuperando seus plantéis de suínos em um ritmo mais acelerado do que previa o setor no Brasil e a consequência disso é a menor exportação de carne suína nacional. O cenário preocupa o setor porque o grande comprador do produto vem adotando restrições mais severas à circulação de pessoas após o aumento de casos de Covid-19, o que sinaliza mais dificuldades quanto à demanda. No Brasil, os números da balança comercial mostram os efeitos sobre os preços da carne com o menor apetite do país asiático no mercado global. Em março, a queda da receita do Brasil com exportações foi de 28%, ainda que o volume tenha recuado menos, 16%, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex). No ano passado, a China adquiriu 48% de toda a carne suína exportada pelo Brasil, ou 533,7 mil toneladas das 1,137 milhão de toneladas enviadas ao exterior, segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA).

Segundo o Rabobank, pelos dados deste ano até março, a participação chinesa nas vendas de carne suína do Brasil caiu para 38% do total. De janeiro a março, foram 237,5 mil toneladas da proteína, 6,3% a menos que as 253,5 mil toneladas exportadas no mesmo período do ano passado, conforme a ABPA. Até fevereiro, o Brasil estava positivo em relação ao volume comercializado para a China, mas por causa da menor demanda já se observa queda. O Sindicato das Indústrias da Carne e Derivados no Estado de Santa Catarina (Sindicarne-SC) afirma que a situação na China tem trazido certo desequilíbrio. O mercado brasileiro está um pouco mais ofertado do que o normal. Com a crise de peste suína africana (PSA) na China e a abrupta queda dos plantéis, que levou à demanda reforçada do gigante asiático por carne suína, os produtores brasileiros se mobilizaram para ampliar a produção. Foi criada uma expectativa muito grande, de que a China demoraria mais de cinco anos para repor os estoques, afirma a Associação Brasileira dos Criadores de Suínos (ABCS).

O setor foi chamado a crescer, mas a China recuperou o seu rebanho rapidamente e este é o motivo da crise no Brasil. Os criadores chineses conseguiram repor uma perda de 40% nas matrizes suínas por causa da PSA em apenas dois anos. Porém, ainda assim, a China deve continuar importando a proteína brasileira, mas em menor quantidade. A China não é autossuficiente. O Rabobank avalia que os embarques externos de carne suína para a China tendem a reagir apenas no segundo semestre. Deve haver recuperação um pouco mais forte da economia chinesa e consequente melhora na demanda doméstica. Dados parciais das exportações do mês de abril apontam recuperação de volume (+10%), mas o faturamento ainda pressionado (-11%). No fechamento do mês, será possível encerrar acima de 100 mil toneladas, o que seria uma recuperação interessante ante março. Essa perspectiva se deve, especialmente, ao aumento da participação de outros destinos nas compras de carne suína brasileiras.

No primeiro bimestre de 2022 destacou-se o aumento significativo das compras realizadas pelas Filipinas, com 6,8 mil toneladas (+255,2%), Singapura, com 5,2 mil toneladas (+36,4%) e Argentina, com 5 mil toneladas (+71,5%), segundo dados da ABPA. A ABCS vê um volume maior do produto brasileiro sendo destinado ao Japão, Coreia do Sul e México. Nenhum desses países vai substituir a China, mas a expectativa é de que o setor consiga entrar mais nesses mercados. Porém, haverá concorrência da Europa. A União Europeia exportava grandes volumes de carne suína à China e busca novos destinos. Para a suinocultura brasileira, a menor demanda chinesa e a reação ainda incipiente do consumo interno trazem desafios em um momento de forte alta dos custos, por causa sobretudo dos preços do milho e do farelo de soja. Em Santa Catarina, maior produtor de carne suína no País, a despesa cresceu 15% em março ante março de 2021, conforme a Embrapa.

O custo de produção do suíno vivo em sistema do tipo completo, aumentou R$ 0,26 por Kg no mês, para R$ 7,90 por Kg. Somente nos primeiros três meses do ano, o ICPSuíno subiu 12,87%. As margens estão negativas. Essa relação de troca é bem difícil para os pequenos produtores. Grandes empresas, por outro lado, conseguem fazer essa relação ficar mais favorável. A produção leva mais tempo para começar a diminuir. O Rabobank ressalta a expectativa de que no segundo semestre poderia haver um movimento de baixa nos preços dos grãos, mas o cenário, especialmente, em relação à guerra na Ucrânia, mantém um balanço entre oferta e demanda apertado. As chances de uma queda nos preços dos grãos caem dia após dia. Os valores mais altos desestimulam quem produz para o mercado doméstico. Será um segundo semestre desafiador, com eleições, o que gera um cenário de instabilidade adicional e tira um pouco da previsibilidade em torno das estratégias.

Em contrapartida, a ABCS espera que, com a queda das importações por parte da China, o movimento gere preços mais competitivos no mercado interno, o que pode beneficiar o setor. Na média parcial de abril, os preços do suíno vivo no atacado de São Paulo estão em R$ 5,90 por Kg, de acordo com o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP). Nos últimos seis meses, os preços em São Paulo acumulam desvalorização de mais de 15%. Em contrapartida, nos últimos 30 dias há recuperação, com alta de 9,2% em São Paulo. O cenário altista é impulsionado pelo aumento na demanda pela proteína no mercado doméstico, uma vez que o preço da carne suína está mais competitivo em comparação com a carne de frango e a bovina. O preço mais atrativo fez com que os consumidores migrassem para essa carne. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.