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11/Abr/2022

Lácteos: cenário para o setor é desafiador este ano

Segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea-Esalq/USP), o cenário para o setor de lácteos no Brasil está mais desafiador atualmente do que no início da pandemia de Covid-19, há dois anos. A cadeia produtiva passa por uma fase complicada, influenciada por custos de produção elevados, dificuldade de repasse de preços para o consumidor e demanda reduzida. Nem mesmo com o preço do litro do leite pago ao produtor batendo recordes, a situação fica melhor para o pecuarista. No início da pandemia, em março de 2021, o Brasil vinha de dois anos de um cenário menos crítico. Houve, inclusive, injeção de dinheiro na economia, com o pagamento do auxílio emergencial. Havia maneiras de assegurar o consumo de lácteos pela população, mas não é o que está acontecendo hoje. Atualmente, há uma dificuldade dos consumidores em absorver o efeito inflacionário no campo e a alta nos preços com custos de produção.

Para complementar, há uma dificuldade ainda maior de entender como fazer frente a esse movimento. O leite e os seus derivados, de modo geral, têm uma variação do consumo diretamente ligada à renda. Se ela varia positivamente, há um repique na demanda, mas se há um efeito negativo, acontece o mesmo com o consumo. A renda do consumidor brasileiro tem sido depreciada ao longo dos últimos anos, ao mesmo tempo que há um movimento inflacionário nos custos de produção do campo por causa do encarecimento dos insumos produtivos. É um momento muito complicado, e o setor, como um todo, está reagindo a esse alto custo de produção. Observa-se uma movimentação muito forte da cadeia para tentar fazer esse repasse de preços para a ponta compradora. Nas duas últimas semanas de março, ocorreram movimentos importantes no mercado de derivados lácteos em relação à negociação que a indústria faz com os canais de distribuição.

O leite longa vida (UHT) negociado entre as indústrias do País, que mandaram o produto para os canais de distribuição em São Paulo, maior centro consumidor, se valorizou 12,3% para as indústrias nos últimos 15 dias do mês passado. Os preços pagos aos produtores de leite estão atingindo recordes, mas, ainda assim, a situação do setor é complicada, pois as cotações não cobrem os custos da produção de leite no Brasil. O principal motivo é o aumento dos valores da soja e do milho, que fazem a ração ficar muito mais cara. O produto chega com um preço maior para o consumidor, já que, além dos custos que os centros de distribuição precisam contabilizar, há o custo com combustível, que também disparou. Se o preço do leite chegar à prateleira próximo aos R$ 5,00 por litro, o consumo começa a ficar mais estagnado. Inclusive, a formação de estoques dos produtos começa a se elevar neste momento.

Se o consumo não reagir poderá ser observado o 'voo de galinha' (movimentos de preços que não se sustentam). Duram, se muito, um mês. Depois disso, há sinais de dificuldade do consumidor em pagar pelo preço cobrado, o que acaba aumentando a volatilidade das cotações. Esse movimento dificulta o planejamento dos agentes econômicos para fazer investimentos. A decisão do governo federal, de zerar a tarifa para importadores trazerem queijo muçarela de fora do Brasil, deixa a situação ainda mais conturbada. A queda no dólar vai tornar mais barata a importação de derivados lácteos. Como perspectiva, o setor começa a se preocupar com importação, pois o País não tem uma produção autossuficiente. Sempre tem um déficit na produção brasileira que precisa ser compensado com as importações. Nos últimos anos, a importação caiu muito porque o dólar estava valorizado, o que causava encarecimento dos produtos, mas, agora, o que se observa é uma valorização do Real.

Na avaliação da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), a medida anunciada pelo Ministério da Economia no dia 21 de março prejudica o setor leiteiro. O produto foi incluso na Lista de Exceções à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul até 31 de dezembro de 2022, estendendo a todos os demais países o benefício fiscal já concedido aos integrantes do bloco. O setor considera que a medida é totalmente errada, pois não vai interferir no aumento da inflação para a população. Se levada à frente, trará muitos danos ao setor agropecuário, principalmente à cadeia produtiva do leite nacional, que emprega milhões de pessoas no campo e nas cidades e que vem passando por graves problemas de alto custo com insumos, tendo tido aumentos muito superiores ao produto leite e seus derivados nesse período de pandemia e guerra no Leste Europeu. Quem pagará a conta a médio prazo serão os consumidores.

Quanto às perspectivas para o próximo trimestre de 2022, a Associação da Indústria de Lácteos (Viva Lácteos) pontua que a demanda ainda é incerta, já que depende, inevitavelmente, da renda da população brasileira. É um ano de eleição, o que gera incertezas quanto à economia. Hoje, a tendência é de que as margens do setor fiquem apertadas. Em relação aos preços, o Cepea aponta, ainda, que é um momento em que o setor começa a entrar na entressafra de produção, quando se é esperada uma alta nos preços. O problema é que esses preços já estão em um patamar muito elevado. Durante a entressafra, altas consecutivas são esperadas, com o pico de preços acontecendo entre julho e agosto. Em março, o preço já ultrapassou o patamar de preço do campo, e chega num nível que desestimula o consumo na ponta final da cadeia. Os preços dos produtos lácteos devem ter, ainda, alguns meses de valorização. Mas, a intensidade é muito difícil de prever. A capacidade da demanda está em xeque. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.