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11/Abr/2022

Leite: relação de troca desfavorável ante insumos

O setor lácteo brasileiro teve um ano de 2021 com uma conjuntura desafiadora. O País passou por um processo inflacionário, com o patamar de 10,06% registrado pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), enquanto o índice de preço de Leites e derivados foi de 5,72%, mostrando que os produtos lácteos tiveram queda real de preços, ou seja, os preços subiram menos que a inflação. O processo inflacionário não foi exclusivo do Brasil, vários países tiveram elevações internacionais, fruto de um alto volume monetário injetado na economia global para combater a Covid-19, além da elevação do frete internacional e fatores climáticos adversos, o que causou problemas de produção nas cadeias produtivas. O fato é que diversos insumos essenciais na produção de leite tiveram elevação, tornando o cenário do setor bastante complicado. Um indicador que pode ser utilizado para medir o poder de compra do leite é a relação de troca.

A relação de troca do leite é o quociente do preço de uma certa quantidade unitária comercializada do insumo, pertencente ao processo de produção, pelo valor de um litro de leite. Essa razão retorna o resultado de quantos litros de leite são necessários para adquirir uma unidade do insumo. Assim, a relação de troca para o pecuarista de leite piorou quando comparado com o farelo de soja, milho, ureia e arroba do boi, tendo melhorado apenas frente ao salário-mínimo. A variação do preço médio do leite em 2021 em relação ao preço médio de 2020 teve resultado maior do que a variação percentual do salário-mínimo, no mesmo período, o que não foi observado diante dos outros insumos, os quais aumentaram os preços expressivamente nesses últimos 2 anos. Esse fenômeno pode ser explicado por quebra de safras, redução de oferta no mercado nacional e internacional, estoque mais baixos, efeitos climáticos desfavoráveis e câmbio desvalorizado.

Ademais, na relação de custo de oportunidade, a arroba do boi registrou aumento superior nos preços em comparação com o leite, aproveitando de um ajuste negativo na oferta, com redução do abate e crescimento vigoroso das exportações para a China. Essa relação se dá pela possibilidade de o produtor encaminhar o gado para o abate, modulando a atividade. Nessa conjuntura, ao analisar as perspectivas do mercado, de acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção da soja em grão para a safra 2021/2022 sofrerá queda de 12,3% na produtividade, e de 9,2% na produção e seu estoque final reduzirá em 50%. Para o farelo de soja, a produção será menor em 6% e o estoque final em 18%. A quebra na produtividade e produção da safra de verão de milho (1ª safra 2021/2022) decorrente de problemas climáticos foi estimada em -5,2% e -1,2% respectivamente. Como consequência, estes fatos poderão contribuir para manutenção do preço dessas commodities em patamar mais elevado.

Por fim, ao analisar o cenário internacional, os conflitos envolvendo Rússia e Ucrânia podem interferir no mercado de leite. O Brasil tem alta dependência de importação de fertilizantes (o País importa cerca de 85% do que consome) e o conflito pode levar a uma baixa oferta do produto no mercado internacional, o que tende a manter as cotações em alta. Há de se considerar ainda que, de todo fertilizante disponível no mercado nacional, 25% é oriundo da Rússia. As importações Russas para o Brasil representaram 60% do valor importado do insumo, totalizando U$ 3,5 bilhões. Rússia e China, importantes exportadores mundiais, já haviam colocado restrições nas vendas de fertilizantes devido à baixa disponibilidade. Após os conflitos atuais junto a Ucrânia e medidas de retaliação que surgem no mercado internacional, essa situação tende a ser agravada. Havendo restrição na oferta de insumos, notadamente fertilizantes, ou mesmo elevação de seus preços, haverá impacto na produtividade das lavouras brasileiras de soja e milho com possíveis repercussões no custo de produção de leite no Brasil. Fonte: MilkPoint. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.