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29/Mar/2022

Boi: forte recuo do consumo interno de carne bovina

Com inflação, aumento do custo de produção dos alimentos e insegurança econômica advinda das consequências causadas pela pandemia de Covid-19, o poder de compra do consumidor caiu frente à firmeza dos produtos. A Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) gera indicadores para monitoramento do comportamento do mercado varejista. Entre janeiro de 2021 e janeiro de 2022 as vendas de alimentos, bebidas e fumo em supermercados estiveram pressionadas quando comparadas ao mesmo período no ano anterior. E, quando se fala em alimentos, o produto que tem perdido espaço devido ao preço elevado é a carne bovina. Se olharmos para 2021, a margem do mercado varejista para a comercialização do produto esteve apertada na maior parte do ano.

Somente no final do ano as margens foram recuperadas (com aumento de preços), e estiveram firmes no início de 2022, mas isso tem afetado o consumo doméstico de carne bovina. Sabendo que a fase atual do ciclo pecuário é de retenção de fêmeas e que em 2021 o número de bovinos abatidos foi 7,8% menor que em 2020, a produção de carne diminuiu. Com a firmeza do dólar frente ao Real favorecendo as relações comerciais com o mercado internacional em 2021, os embarques de carne ajustaram ainda mais a oferta do produto, sustentando as cotações. Sabe-se que se a variação do salário de um ano para outro for menor que a variação do indicador inflacionário, o poder de compra do consumidor cai. Assim, o ajuste no salário da população brasileira de 2020 para 2021 em 5,3%, frente à alta de 10,06% no IPCA e a consequente retração no poder de compra do consumidor, contribuiu para a menor demanda pela carne bovina.

Com poder de compra fragilizado, o consumidor procurou proteínas alternativas, como a carne de suínos, de frango ou ovos. Nos últimos três anos, o consumo per capita de ovos aumentou 10,9%, saindo de 230 ovos/habitantes/ano em 2019 para 255 ovos/habitantes/ano em 2021. Para 2022 a expectativa é que esse consumo alcance 262 ovos/habitantes/ano (ABPA). Analisando o consumo aparente de carne bovina é possível notar essa retração do consumo frente a demanda firme das proteínas alternativas. O consumo aparente pode ser obtido através da relação entre a quantidade de carne produzida, subtraindo a quantidade de carne exportada e somando a quantidade de carne importada. Como resultado dessa conta chega-se à quantidade de carne bovina que fica no mercado interno e, ao dividi-la pela população, se obtém o consumo aparente de carne bovina.

Com isso, chega-se a uma redução de 4,7% no consumo em 2021 frente ao ano anterior, em que novo recuo já havia sido registrado. Os preços da carne bovina no mercado varejista ao longo de 2021 subiram 26,3%. Em 2022, até a primeira quinzena de março a alta já estava em 2,7%. Considerando alguns dos cortes popularmente consumidos, é notável o impacto dessas altas. De janeiro de 2021 até a primeira quinzena de março de 2022, o coxão mole, por exemplo, subiu 47,8%. Desse modo, diante de um poder de compra prejudicado, da firmeza na demanda por proteínas de preços mais acessíveis e das altas expressivas do produto, o consumo de carne bovina no mercado interno diminuiu. Para 2022, o ajuste salarial foi de 10,2%. Segundo estimativas do Banco Central (18/03), o índice de inflação deve fechar o ano em 6,59%, um cenário mais otimista que no ano anterior.

No entanto, as estimativas têm sido desafiadas pela disparada nos preços das commodities diante do conflito entre Rússia e Ucrânia. Apesar da expectativa de recuperação econômica, a redução na inflação pode não ser suficiente para melhorar a renda da população, tendo em vista que o nível de desemprego segue elevado. Assim, melhoras significativas no poder de compra não são esperadas. Também não são esperados recuos nos preços da carne bovina, tendo em vista a oferta ainda comedida de boiadas projetada para este ano. Os preços ao consumidor devem seguir sustentados no mercado doméstico. O cenário é de custos de produção elevados pressionando indústrias e varejistas e, por outro lado, consumidores com poder de compra enfraquecido buscando por produtos mais acessíveis. Cenário que deve perdurar e afetar as vendas da carne bovina. Fonte: Alcides Torres. Broadcast Agro.