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09/Mar/2022

Carnes: Brasil poderá substituir Ucrânia e Rússia

O ataque da Rússia à Ucrânia causou uma disparada nos preços globais de grãos que afeta os custos da indústria de carnes brasileira, mas um eventual recuo nas exportações ucranianas de carne de frango abre uma lacuna que pode ser ocupada pelos frigoríficos do Brasil. Há chance de aceleração nas negociações para retirada de suspensões a unidades do Brasil embargadas pelos europeus desde 2018, uma vez que a União Europeia é uma das principais compradoras de proteína animal da Ucrânia. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), o setor produtivo tem se preparado para suprir lacunas e apoiar a segurança alimentar de nações que possam vir a ser desabastecidas pela provável suspensão ou diminuição das exportações de carne de frango e suína da Rússia e da Ucrânia. Os dois países em conflito são players relevantes e concorrentes do Brasil em importantes mercados do Oriente Médio e da Europa. O Brasil, contudo, não estaria sozinho na disputa por mercados que eventualmente deixem de ser atendidos pela Ucrânia.

Abre-se uma oportunidade para o Brasil, mas abre também para todos os produtores globais. Os Estados Unidos também podem sair beneficiados. A exportação de carne de frango da Ucrânia gira em torno de 430 mil toneladas por ano, volume que representou cerca de 10% da exportação brasileira em 2021. A Europa enfrentará um grande desafio, caso os exportadores ucranianos deixem de embarcar carnes diante das dificuldades impostas pela guerra. Há cerca de 20 unidades brasileiras suspensas pela Europa, que já cumpriram todos os requisitos necessários para retomada da habilitação. A suspensão veio diante de denúncias investigadas pela operação Trapaça, da Polícia Federal. Se a Europa tiver necessidade da carne brasileira, esses frigoríficos suspensos pela Operação Trapaça vão ser revistos com velocidade. A Ucrânia implementou licenças de exportação para produtos como frango e ovos, informou a Interfax no dia 6 de março, após o país suspender embarques de commodities importantes, como açúcar, centeio, aveia.

Os impactos da guerra ainda estão sendo analisados, mas a questão das despesas com insumos, que já preocupava a indústria, é um ponto de atenção. O maior efeito no curto prazo é o aumento de custo e o reflexo nos grãos. De tudo o que é comercializado globalmente, 34% do trigo e 15% do milho partem do Mar Negro, por isso, uma interrupção desse fluxo levaria os preços dos grãos a se valorizar globalmente, elevando consigo os custos de produção especialmente de frangos e suínos, mas também de bovinos. Cerca de 65% a 75% dos custos de produção de frangos são associados ao milho, enquanto nos suínos esta relação está entre 60% e 70%, e na pecuária intensiva entre 20% e 30%. Isso indica que a produção de frangos seria a atividade mais impactada pela redução do fluxo comercial global de milho e insumos correlatos, considerando ainda que os produtores já vêm de um período de impacto relevante e positivo com custos nutricionais. Desde o início da guerra na Ucrânia, os preços do trigo, por exemplo, chegaram a máximas de 14 anos e o milho foi negociado em picos desde 2012, na Bolsa de Chicago.

Internamente, o Indicador do milho Esalq/B3 mostra que as cotações do cereal, por exemplo, ainda não refletem a volatilidade vista no mercado internacional. Os preços não estão tendo grandes oscilações no mercado interno porque a indústria está relutante em aceitar pagar as valorizações refletidas no mercado internacional, considerando que o milho já está em patamares perto de máximas históricas no País. Vai depender muito da concretização da 2ª safra de 2022, caso tenha alguma quebra, é possível que o consumidor local aceite preços maiores. A ABPA alertou que seus associados têm relatado entraves já esperados para embarcar produtos para o mercado da Rússia. Porém as cargas que estão em transporte e próximas ao destino final estão sendo internalizadas sem maiores empecilhos nos portos da Rússia. A Rússia, entretanto, não é mais um destino tão importante para o Brasil. Em 2021, foram 106 mil toneladas de frango, enquanto os embarques de suínos somaram 9,29 mil toneladas, e as vendas de carne bovina atingiram 35,35 mil toneladas.