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23/Fev/2022

Pecuária: ganhos com a recuperação de pastagens

Estudo de pesquisadores da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (Esalq/USP) apontou que a recuperação de pastagens degradadas no Brasil na última década contribuiu para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro em 0,31%, ou quase R$ 17 bilhões. A recuperação também gerou contribuições socioeconômicas e ambientais, como altas da produtividade nas pecuárias de corte e de leite, mitigação da emissão de carbono na atmosfera e aumentos da renda do produtor rural, do consumo das famílias, dos empregos, dos salários e da arrecadação tributária. Os dados podem ser um importante aliado dos pecuaristas brasileiros na tentativa de desfazer a imagem negativa perante a opinião pública do ponto de vista ambiental. Para o governo, podem orientar o estabelecimento de novas políticas. O estudo avaliou dois cenários. O primeiro levou em consideração toda a área de pastagens degradadas recuperada no País (19,4 milhões de hectares entre 2010 e 2018), de acordo com dados do Laboratório de Processamento de Imagens e Geoprocessamento (Lapig) da Universidade Federal de Goiás (UFG).

O segundo cenário avaliou apenas os 4,1 milhões de hectares recuperados por meio da linha de crédito do Programa ABC específica para essa finalidade, com aplicação de R$ 8,1 bilhões em financiamentos entre 2013 e 2020. A linha de base da análise levou em consideração as variáveis macroeconômicas a partir de 2015. Uma vez que o PIB da economia brasileira em 2015 foi de aproximadamente R$ 6,05 trilhões, a elevação observada, acumulada em 2021, de 0,31% do PIB no cenário 1 e de 0,07% no cenário 2, representa, computados sobre o valor de 2015, um ganho social de, respectivamente, R$ 16,9 bilhões no cenário 1 e de R$ 4,2 bilhões no cenário 2. No recorte específico da linha de crédito do Programa ABC, foi possível calcular a taxa de retorno social. Cada Real investido na técnica sustentável gerou R$ 0,56 à sociedade. É uma taxa de retorno social de 56% no período, de 6,5% em termos reais ao ano. É um valor alto mesmo se comparado a outras políticas, como o uso de etanol e biodiesel, com impacto de 0,03% no PIB. É isso que permite a produção crescer mesmo com a área menor.

O estudo também levou em conta o acúmulo de carbono no solo pela atividade pecuária, tema ainda sem consenso no mundo científico, mas que cada vez mais entra na mira dos pesquisadores. Nessa análise, a pecuária de corte desenvolvida em áreas de pastagens recuperadas teve redução de 9,67% das emissões por unidade produzida. Para a pecuária de leite, a queda foi de 5,86%. Sem considerar o estoque, a mitigação ficou em 2% e 1,3%, respectivamente. Foi utilizado um modelo de equilíbrio geral computável (EGC), sistema complexo de equações que avalia a atuação de 122 setores econômicos e permite analisar os impactos de uma política em toda a economia por meio de simulações de cenários. Dessa forma, foi possível “isolar” o efeito dos ganhos de produtividade decorrente da melhoria das pastagens na economia brasileira, na sociedade e no meio ambiente. A elevação da produtividade gerada pela recuperação das pastagens degradadas contribuiu para um incremento adicional significativo na produção pecuária nos locais pesquisados.

A variação chegou a 25,8% na produção de carne e a 13,8% na cadeia leiteira de Rio Grande do Sul e Santa Catarina no cenário mapeado pelo Lapig. Outros incrementos importantes foram observados em Rondônia, Paraná e Mato Grosso do Sul. No cenário da área recuperada com financiamento da linha do ABC, a produção da pecuária de corte aumentou 5,2% em Goiás e a de leite evoluiu 1,71% no Paraná. O melhor rendimento pecuário nas áreas recuperadas aumentou a oferta de alimentos e pressionou os preços, que caíram 0,77% em termos reais no cenário 1 e 0,19% no cenário 2. Além da redução sentida no bolso dos produtores e consumidores, o efeito também é processado nos mercados, já que libera recursos para outros setores da economia, podendo se expandir mais facilmente. Os ganhos tecnológicos na agricultura em geral são transferidos para a sociedade através dos mecanismos de preços na economia. Todas as classes ganham renda. O aumento da produtividade resultou em aumento da renda interna, com as famílias podendo consumir 0,46% a mais do que se essa tecnologia não tivesse sido adotada.

A adoção da tecnologia ainda demandou mão de obra mais qualificada e elevou os salários pagos. Segundo o Ministério da Agricultura, o uso de mais tecnologia emprega mais pessoas, usa mais insumos e produz mais carne e mais leite. Isso movimenta muito mais a economia, antes, dentro e depois da porteira, gerando externalidades positivas, sociais e econômicas. A mensuração dos impactos socioeconômicos é uma das diretrizes do Plano ABC+, a segunda fase do programa, com metas até 2030. Os efeitos de outras tecnologias, como irrigação, também serão verificados em breve. O objetivo é usar as informações de maneira estratégica na elaboração de novas políticas públicas para o setor. O estudo mostra um efeito multiplicador da tecnologia sustentável na economia brasileira. Se não tivesse o programa ABC, não haveria o crescimento apontado. Um dos apontamentos feitos no estudo é que os trabalhadores com menor grau de instrução são os menos beneficiados com a mudança tecnológica na pecuária, diminuindo a renda e o consumo reais dessas famílias.

O cenário indica a necessidade de capacitação e assistência técnica para integrar melhor esse público aos avanços socioeconômicos gerados pela técnica sustentável. Os números mostram que não existe lógica econômica em aumentar a produção em novas áreas desmatadas e que a recuperação de pastagens dinamiza as regiões com campos já abertos. A intenção é que os dados ajudem a conter o avanço do desmatamento ilegal para introdução da pecuária. Os resultados do estudo sobre as contribuições socioeconômicas e ambientais da recuperação de pastagens no Brasil podem servir de base para que as agroindústrias estimulem cada vez mais a adoção das técnicas sustentáveis pelos seus fornecedores diretos. A parceria com a iniciativa privada será capaz de acelerar o uso dessa técnica no campo e complementar o financiamento, cada vez mais apertado com recursos públicos. Frigoríficos e laticínios que querem melhorar o ESG podem incentivar o fornecedor a adotar essas tecnologias e conseguirão medir o impacto econômico e social, o quanto foi evitado de carbono.

É uma estratégica importante. O Brasil tem metodologia para fazer o ESG. É possível criar fundos público-privados para financiar a adoção das tecnologias. A capilaridade das empresas do agro será fundamental para aumentar a assistência técnica e capacitação dos pecuaristas. As empresas que serão neutras em carbono terão que fazer esse caminho. O engajamento do setor produtivo é fundamental, pois a agroindústria é parte do ganho desse processo. A mensuração dos resultados em números ajudará o Brasil a sair da defensiva nas discussões sobre os impactos ambientais da produção agropecuária. O Ministério da Agricultura quer avançar na apuração de dados do setor. A Pasta vai assinar, nesta quarta-feira (23/02), um acordo de cooperação técnica com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a avaliação do ciclo de vida da pecuária de corte e de leite. O objetivo será avaliar a pegada de carbono em toda extensão da atividade, desde o plantio de sementes forrageiras para formação de pasto até o consumo do produto final. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.