21/Fev/2022
Desde setembro de 2021, observa-se que o enfraquecimento do consumo por lácteos tem ditado os movimentos de preços para toda cadeia produtiva. As consecutivas quedas nos valores dos derivados nas negociações entre indústrias e canais de distribuição vêm sendo transmitidas também para o produtor no campo. O preço do leite captado em dezembro/2021 e pago aos produtores em janeiro/2022 chegou a R$ 2,10 por litro na “Média Brasil” líquida (Bahia, Goiás, Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul), recuos de 1,1% em relação ao mês anterior e de 6,1% frente ao mesmo período de 2021, em termos reais (deflação pelo IPCA de janeiro/2022). Contudo, pesquisas apontam para a inversão desta tendência dos preços a partir da captação realizada em janeiro.
As consecutivas baixas nos preços ao produtor nos últimos meses têm comprometido os investimentos dentro da porteira e reduzido a oferta de leite. O Índice de Captação de Leite do Cepea (ICAP-L) registrou queda de 1,9% de novembro para dezembro. Dados recentes da Pesquisa Trimestral do Leite do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontam que a captação das indústrias caiu 3,6% do terceiro para o quarto trimestre de 2021, recuo de 5,7% em relação ao mesmo período de 2020. Os efeitos do fenômeno La Niña, com fortes chuvas na Região Sudeste e estiagem na Região Sul, têm impactado diretamente a produção de leite, visto que a baixa qualidade das pastagens e da silagem prejudica a alimentação do rebanho.
Além disso, é preciso considerar que a oferta de grãos também tem sido afetada negativamente pelo clima, o que também eleva o preço deste insumo. Em janeiro, o poder de compra do pecuarista frente ao milho diminuiu 9,7%. Para piorar, os preços de outros insumos, como suplementos minerais, antibióticos, adubos e corretivos, continuaram se elevando, corroendo a margem do produtor de leite. Nesse contexto, os investimentos na pecuária leiteira têm sido comprometidos, com perda no potencial produtivo do País. Ao mesmo tempo, as importações em baixa e as exportações de leite em pó em volumes 15 vezes acima do registrado em dezembro/2021 ajudaram a controlar os estoques de lácteos das indústrias. Não é de surpreender que, apesar da queda nos preços do UHT e da muçarela, o leite em pó (400g) tenha se valorizado em janeiro.
Nesse sentido, o preço do leite captado em janeiro e pago aos produtores em fevereiro pode refletir esse novo cenário de valorização da matéria-prima. O acompanhamento do Cepea do mercado spot (leite negociado entre indústrias) mostra que a disputa das indústrias por matéria-prima se acirrou fortemente nas últimas três quinzenas. Em Minas Gerais, o preço médio saltou de R$ 2,03 por litro na segunda quinzena de janeiro para R$ 2,43 por litro na segunda metade de fevereiro, valorização de 19,6%. Os resultados sugerem, assim, um adiantamento do período da entressafra e a tendência de alta nos preços ao produtor para os próximos meses. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.