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15/Fev/2022

EUA: repressão ao metano não atinge a pecuária

O governo Biden está tomando medidas agressivas para conter as emissões de metano pela indústria energética, endurecendo as regulamentações dos gasodutos e gastando bilhões de dólares para limpar minas de carvão abandonadas e outros geradores do poderoso gás de efeito estufa. Mas a agricultura, uma grande fonte de metano, não está recebendo esse mesmo tratamento rígido. O governo Biden disse que investiria mais dinheiro na pesquisa de dietas para gado e na expansão dos sistemas de descarte de esterco para os agricultores reduzirem voluntariamente suas emissões de metano, após alocar mais de US$ 200 milhões para tais projetos no ano passado. No entanto, ele não propôs nenhuma nova regulamentação de poluição atmosférica voltada para as fontes agrícolas. A Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (EPA) se limitou a afirmar que está verificando esta questão. O gado de corte e leite, juntamente com suínos e outros animais de fazenda, contribuem com cerca de 27% das emissões de metano nos Estados Unidos, de acordo com a EPA.

A maior parte dessas emissões vem do arroto do animal; o esterco da pecuária é responsável por outros 10% das emissões de metano. Isso coloca a agricultura em pé de igualdade com a indústria energética em emissões de metano, visto que o gás natural e o petróleo geram 30%, enquanto a mineração de carvão gera 10% de metano. Alguns ambientalistas dizem que o governo Biden está pegando leve com os grandes agricultores para evitar uma batalha política com o poderoso lobby agrícola. Os grupos agrícolas dizem que reduzir o metano gerado pelo gado não é tão simples quanto tapar vazamentos de oleodutos e poços de petróleo. Os grupos da indústria de petróleo e gás não têm pressionado por regulamentações de metano sobre a agricultura, em parte porque não querem confrontar legisladores em distritos rurais, que muitas vezes representam tanto empresas de energia quanto as de agronegócio, de acordo com pessoas familiarizadas com a situação.

A Associação Nacional dos Produtores de Carne Bovina dos Estados Unidos (National Cattlemen's Beef Association - NCBA), afirmou que o grupo faria lobby contra as regulamentações da Lei do Ar Limpo até que a medição das descargas de metano pelos animais seja mais precisa. Medidas voluntárias, como a da restauração de áreas de pastagem com plantas absorventes de carbono, são a melhor maneira de a indústria reduzir suas emissões de carbono. Regulamentações que tirem agricultores e pecuaristas do jogo não são a saída. Ambientalistas dizem que, apesar dos desafios, há uma necessidade urgente de conter as emissões de metano, um poderoso gás de efeito estufa. Embora o dióxido de carbono seja considerado o maior responsável pelo aquecimento global, o gás metano retém cerca de 85 vezes mais calor. Os líderes globais da cúpula climática de Glasgow no ano passado tornaram a redução das emissões de metano uma prioridade, com os Estados Unidos e dezenas de outros países se comprometendo a reduzir suas emissões em 30% até 2030.

Segundo o Programa de Direito, Ética & Animais da Yale Law School, o governo Biden tem falado, frequentemente, sobre a importância de reduzir o metano, e impôs novas restrições ao setor energético, mas está, ao mesmo tempo, dando um passe livre para a agricultura. O Sierra Club e outras organizações ambientais, lideradas pelo grupo de fiscalização sem fins lucrativos Public Justice, pediram à EPA no ano passado para regulamentar as emissões de metano de grandes propriedades rurais de laticínios e suínos. O metano proveniente do esterco e da digestão de animais cresceu 19,3% desde 1990, principalmente porque mais agricultores estão diluindo o esterco antes do descarte. As emissões do petróleo e do gás, que enfrentam novas regulamentações estimadas em US$ 1,5 bilhão até 2026, caíram 17%, de acordo com a EPA. Os legisladores a favor de regulamentações mais sérias de fiscalização podem enfrentar ventos adversos do poderoso lobby agrícola.

Esse consórcio de grupos conta com o apoio de produtores globais bem-preparados, como Tyson Foods Inc., Archer Daniels Midland Co. e Cargill Inc. O lobby da agricultura gastou cerca de US$ 704 milhões nos últimos cinco anos para influenciar os formuladores de políticas em uma série de questões, incluindo as emissões de gases de efeito estufa, de acordo com estatísticas compiladas pela OpenSecrets, um grupo de fiscalizadores apartidários. Segundo o Instituto de Agricultura e Política Comercial (IATP), o lobby também pode, rapidamente, mobilizar campanhas de base em quase todos os distritos rurais do Congresso onde a agricultura é, frequentemente, uma grande empregadora e motor econômico. Biden e os democratas estão relutantes em promover reais mudanças ao agronegócio e ao grande lobby agrícola, pois estão preocupados em prejudicá-los e, potencialmente, perder apoio da parte rural dos Estados Unidos.

O Congresso não está considerando nenhuma proposta que inclua regulamentações sobre o metano agrícola. Alguns legisladores apoiam incentivos financeiros voluntários para que fazendeiros e agricultores reduzam as emissões de metano. Agricultores e pesquisadores agrícolas dizem não haver soluções fáceis. A UC Davis (Califórnia) alertou a comunidade agrícola para não esperar uma fórmula mágica. Foram testados ingredientes naturais para reduzir o metano produzido pelo gado. Os órgãos reguladores de segurança alimentar da União Europeia aprovaram, em novembro, o uso do aditivo químico Bovaer, que pode reduzir a quantidade de metano que o gado de corte arrota em até 80%. O fabricante holandês, Royal DSM NV, espera conseguir a aprovação dos Estados Unidos. Outra solução possível exige a fixação de máscaras de borracha acima das narinas das vacas para neutralizar as emissões de metano.

A Cargill está se preparando para colocar os dispositivos da startup londrina Zelp Ltd. em vacas leiteiras na Europa ainda este ano. Mas, os dispositivos ainda não estão amplamente disponíveis. Quanto ao esterco, agricultores estão cada vez mais descartando resíduos em lagoas cobertas ou dispositivos semelhantes a silos chamados digestores, que capturam os gases metanos, que depois podem ser vendidos como combustível. Mas, esses sistemas podem custar milhões de dólares, e os registros da EPA mostram menos de 300 digestores em operação nas fazendas de laticínios dos Estados Unidos. A pergunta para a sociedade é: Vocês estão dispostos a pagar por isso? Devido ao custo extremamente alto desses projetos, a maioria dos fazendeiros não pode fazê-lo por conta própria. Funcionários do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) afirmam que estão contando com incentivos de mercado, financiamento e pesquisa, e não com exigências para controlar o metano produzido pelo gado. O USDA afirmou que está confiante de que pode fazer grandes progressos ao longo da década. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.