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13/Jan/2022

Plant-based: Fazenda Futuro no mercado dos EUA

A Fazenda Futuro, startup brasileira de alimentos à base de plantas (ou plant-based), começou 2022 com um desejo ambicioso: tornar-se uma das maiores empresas do segmento nos Estados Unidos. Para isso, levantou em novembro um investimento de R$ 300 milhões, valor que vai, em sua maior parte, alimentar o sonho no mercado norte-americano. As prateleiras devem começar a ser abastecidas em abril. Com produtos como “carne” moída, “linguiça”, “hambúrguer” e “atum”, Marcos Leta, fundador e presidente da Fazenda Futuro, tem como desafio enfrentar rótulos consolidados no país, como Impossible Foods, que no fim de 2021 recebeu um aporte recorde de US$ 500 milhões e se prepara para abrir capital ainda neste ano, e Beyond Meat. Em entrevista, Leta contou sobre a expectativa de lançar a startup em um país novo, ao mesmo tempo em que gerencia o crescimento na Europa e no Brasil (são 28 países). Segue a entrevista:

O que muda com o aporte de R$ 300 milhões?

Marcos Leta: As nossas rodadas de investimento sempre têm um objetivo. Na série A, a meta foi aumentar o espaço da fábrica e a capacidade produtiva. A série B foi destinada a continuar o crescimento fabril e focar na operação na Europa. A série C vai ser para continuar fazendo investimentos no crescimento do nosso mercado europeu e a maior parte desse capital, para começar o trabalho de operação nos Estados Unidos.

Qual é a estratégia para expandir nos Estados Unidos?

Marcos Leta: São alguns pontos em que a gente cria uma vantagem competitiva em relação a marcas americanas, como a Impossible Foods e a Beyond Meat. Um grande desafio dessa categoria é o preço. Chega uma hora em que, se você não diminui o preço, você chega em um limite de crescimento. Vamos ser entre 15% e 20% mais baratos do que a Beyond Meat nos Estados Unidos. Um outro ponto é que essas empresas ainda não conseguiram aumentar o portfólio. A gente consegue oferecer mais produtos para o varejista. Isso faz diferença, porque ele quer uma só empresa com um portfólio amplo.

Vocês chegam aos Estados Unidos com a proposta de preços mais competitivos, mesmo com a fábrica localizada no Brasil. Como vão gerenciar a logística de importação sem impactar no preço?

Marcos Leta: O custo de produção no Brasil, de fato, é mais barato do que o custo de produção nos Estados Unidos. Ainda, como você está exportando a produção, você acaba não incluindo alguns impostos internos, isso facilita a conseguir preços mais competitivos e fazer frente com marcas americanas.

Qual é a estratégia para se diferenciar em um mercado que está atraindo diversas marcas para o setor?

Marcos Leta: O consumidor decide se o produto é gostoso ou não, se é mais próximo da carne ou não. Se o principal foco do frigorífico não é o plant-based, e sim continuar matando e vendendo animal, não existe um foco tão grande. A gente vive 100% do plant-based, então, existe um foco de capacidade intelectual muito maior do que outras marcas ou frigoríficos.

E como se diferenciam em tecnologia?

Marcos Leta: A gente não acredita que uma só tecnologia consiga desenvolver o produto. Inteligência artificial é uma parte do processo, mas é uma parte pequena. Ela não dá a fórmula precisa. Com múltiplas tecnologias, é possível ter um processo industrial mais único, onde você consegue dar características mais reais e mais próximas da carne. Existem vários tipos de tecnologia: língua artificial que mede textura e testes de extratos naturais para medir o nível de proximidade do sangue do boi, por exemplo.

O que falta para colocar a carne vegetal na mesa do brasileiro?

Marcos Leta: Só o tempo vai construir essa categoria. Isso inclui ter o desenvolvimento de bons produtos, não deixar que outras empresas "estraguem" esse mercado com produtos ruins, e dar tempo para o consumidor experimentar e conhecer.

Isso passa por reduzir os preços dos produtos vegetais em relação aos produtos de origem animal?

Marcos Leta: A cada fórmula nova que você desenvolve, é importante diminuir o custo, para passar isso para o consumidor. O segundo ponto é a escala. A categoria ainda é muito pequena. À medida que vai ganhando escala, você consegue ter eficiências e passar isso para o consumidor, mas leva tempo. Um outro ponto é que a carne animal vai aumentar de custo ao longo do tempo, então os incentivos para a carne animal vão acabar. Carne é uma categoria que precisa ser revista e, basicamente, os preços das duas categorias (carne animal e vegetal) vão ficar cada vez mais próximos.

Fonte: Agência Estado.