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10/Jan/2022

Boi: tendência aponta preços sustentados em 2022

O mercado de pecuária de corte no Brasil pode ser dividido em “antes da China” e “depois da China”. Se o setor vinha terminando o ano de 2021 desanimado, com o gigante asiático prolongando, desde 4 de setembro de 2021, a suspensão das compras de carne bovina brasileira, a notícia do fim do embargo chinês em 15 de dezembro de 2021, mudou para melhor as projeções de escoamento da produção nacional da proteína. Com a China de volta ao jogo como principal importadora de carne bovina do Brasil, a perspectiva de preços firmes para a arroba do boi gordo se reforça, trazendo mais rentabilidade aos pecuaristas e movimentando a cadeia produtiva como um todo. E, ainda no primeiro semestre de 2022, a oferta restrita de bovinos gordos para abate deverá persistir. O que garante uma arroba ainda firme nas praças pecuárias do País. Enquanto o mercado externo parece se ajeitar, o grande ponto de interrogação, porém, ainda é como vai se comportar o mercado interno, onde o consumidor há tempos não vê no seu prato um suculento bife - sendo obrigado a optar por carne de suíno, frango e até por ovos, em razão da crise econômica, da inflação galopante, do preço pouco competitivo da proteína vermelha em relação às carnes concorrentes, mas, principalmente, por causa do baixo poder aquisitivo de uma população desempregada e subempregada. A tendência é de que no primeiro e no segundo trimestres de 2022 a oferta de animais para abate permaneça restrita e, consequentemente, o preço da arroba estacione em altos patamares.

O mercado físico do boi gordo não deve ser surpreendido com nenhuma sobre oferta de gado. Já no segundo semestre de 2022, a depender do comportamento dos preços da arroba e, também, das safras de soja e milho, que, se estiverem baratos, estimulam o confinamento de bovinos, mais animais poderão ser produzidos em engorda intensiva. As projeções mais recentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) apontam nova safra recorde de grãos, com 291 milhões de toneladas - sendo 142,7 milhões de toneladas de soja e 117,2 milhões de toneladas de milho. Mesmo com a volta da China às compras, 2022 deve ser de acomodação dos preços da arroba – que continuarão firmes, mas não devem bater os recordes verificados em 2021 - o valor máximo nominal da arroba em São Paulo foi de R$ 324,35, em 2 de dezembro de 2021. Isso porque a indústria frigorífica tende a trabalhar com uma produção mais regulada à demanda, lembrando que ainda estaremos em uma conjuntura de consumo inconsistente de carne bovina no mercado interno. No Brasil, 33% da produção de carne bovina é exportada e 67% ficam no mercado interno - daí a importância de se levar em conta o comportamento dos consumidores brasileiros quanto às aquisições da proteína. Se a indústria trabalhar de forma cadenciada, é possível segurar o ímpeto de valorização da arroba - que acontece pela resistência do pecuarista em vender o animal, no aguardo de mais valorizações. Mas, a partir de fevereiro, quando a China começa a realizar grandes aquisições, o consumo doméstico volta também, então cria-se um cenário de demanda.

Se essa demanda for firme o suficiente, a indústria vai ser forçada a ir com mais apetite para as compras. Neste cenário, é provável que, em fevereiro, os preços da arroba do boi voltem a alcançar novas altas. Ainda é necessário, porém, avaliar qual será o real apetite chinês pelo produto brasileiro, tendo em vista que o gigante asiático vem recompondo rapidamente seu plantel de suínos, após a séria crise de Peste Suína Africana (PSA), que assolou os rebanhos no país. A China precisa importar carne, sim, mas com o preço da arroba firme aqui, a carne fica mais cara para eles também. Logicamente que a volta das compras chinesas é uma notícia excelente, já que eles importavam, até antes da suspensão, mais de 50% de toda a carne bovina que o Brasil vendia para o exterior. O retorno das aquisições chinesas deverá ocorrer, principalmente, após o ano-novo lunar chinês, a partir de fevereiro. O "fator China" deve ser o fiel da balança em relação à sustentação dos preços internos tanto da arroba do boi gordo no mercado físico quanto da carne bovina para o consumidor brasileiro, pelo menos no início de 2022. Com um cenário deprimido no consumo interno, a China pode contribuir, sim, para segurar a desvalorização da proteína animal, a partir do momento em que retomar as importações com força.

Já no mercado interno, há mais dúvidas do que respostas em relação à retomada do consumo da carne bovina. Ao mesmo tempo em que a China pode contribuir para segurar a queda interna de preços, temos o governo pagando o dinheiro do novo Bolsa Família. Há queda de renda e concorrência com as demais carnes. Já em relação ao novo Bolsa Família, o mercado dependerá da capilaridade desse auxílio. Quando o governo distribuiu o auxílio emergencial, 100 milhões de pessoas receberam R$ 600. Agora este número se reduziu e o valor também. Devemos lembrar, ainda, que o Bolsa Família será direcionado a outras despesas essenciais, como compra de gás e também a carnes mais baratas, que poderão ser adquiridas pela população em maior quantidade do que a carne bovina. Outra incerteza é quanto ao fato de 2022 ser um ano eleitoral, para cargos majoritários - presidente e governadores -, o que também pode interferir no consumo de carne bovina. O que pode favorecer a produção de carne bovina no primeiro trimestre e, consequentemente, baratear um pouco o custo ao consumidor final pela maior oferta, é o fato de que, até agora, a estação das chuvas tem se comportado dentro do esperado, recuperando as pastagens no Centro-Oeste e Sudeste e garantindo uma engorda mais barata para o produtor. Mesmo assim, a oferta maior de bovinos para abate deve ocorrer somente em 2023, tempo suficiente para recompor o plantel após a forte retenção de fêmeas para reprodução no ano passado e neste. Fonte: Broadcast Agro. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.