ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

26/Nov/2021

Boi: reduzir emissão de metano e zerar o desmate

Protagonista de um acordo assinado por mais de cem países na 26ª Conferência do Clima (COP-26), o gás metano ganha espaço nas discussões internacionais sobre o aquecimento global. A meta é reduzir em 30% as emissões globais do poluente nos próximos dez anos, na comparação com 2020, trabalho este que já fazia parte do escopo do Brasil, um dos cinco maiores emissores de metano, por meio da pecuária, embora os lixões a céu aberto também contribuam para esta marca. Com o compromisso, especialistas comentam que o País tende a acelerar a modernização do setor, mas alertam sobre a necessidade de zerar o desmatamento. Dados do Sistema de Estimativas de Emissões e Remoções de Gases de Efeito Estufa, do Observatório do Clima, mostram que a agropecuária foi responsável por mais de 70% das emissões de metano no Brasil entre 1990 e 2019. Desse total, 97% das emissões foram por ruminantes.

Segundo a Embrapa Agricultura Digital, é daí que vem o destaque que o Brasil ganha lá fora quando se fala de emissão de metano. Pouco foi discutido sobre outras origens de emissão do gás, como por meio do carvão, muito utilizado nos Estados Unidos, na China e na Europa. É que, nesses outros países, as outras fontes de emissão são muito mais representativas do que a pecuária, enquanto no Brasil se observa o contrário. A nova meta não muda de forma significativa as iniciativas brasileiras para reduzir emissões, que vêm sendo aprimoradas há cerca de 25 anos. A opção mais utilizada é o aumento de eficiência na atividade, com a recuperação das pastagens, que leva o animal a atingir o peso de abate em menos tempo. Um boi adulto emite cerca de 70 quilos de metano por ano. Se o bovino for engordado mais rápido e abatido mais cedo, em um ciclo de 24 meses em vez de 36 meses, por exemplo, é um ano a menos de emissão do gás.

Outra opção, menos viável, seria aumentar o número de bois confinados no País. Nesse sistema, o bovino emite menos, cerca de 60 a 63 quilos de metano por ano, mas não faz muito sentido para a realidade brasileira. Isso porque a boa oferta de pasto faz com que apenas cerca de 5% do rebanho brasileiro seja confinado. Embora a meta do acordo firmado em Glasgow, na Escócia, abranja as emissões globais de metano, o Brasil conseguirá reduzir em 30% suas emissões, com a utilização de mais tecnologia, no mesmo prazo de dez anos. Além disso, um ponto importante é o esterco dos animais, também grande emissor de metano e que pode ser neutralizado com sistemas de biodigestores anaeróbicos, por exemplo, transformando o material em matéria-prima para geração de energia. Tais ações, trabalhadas de maneira acelerada, entretanto, não surtirão efeito no balanço de emissões do País se o desmatamento não for eliminado.

Cada hectare desmatado precisaria de 240 hectares de pasto recuperado para compensar. Se o desmate atinge 87 mil hectares, como no mês passado, teria que ter 20 milhões de hectares de pasto recuperado. A conta não fecha. A luta contra o desmatamento é concomitante à da redução das emissões de metano e o governo precisa de uma política séria para acabar com o desmatamento. Ainda nesse sentido, destaca-se a importância de o governo federal trabalhar novas políticas públicas para incentivar financeiramente a implementação de tecnologia na produção pecuária de pequenos e médios produtores. É preciso dobrar ou triplicar recursos para dar tração nesses avanços. A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) concorda com a necessidade de mais investimentos para viabilizar a transformação esperada no setor brasileiro. O acordo assinado na COP-26, assim como o Acordo de Paris, prevê parcerias para cooperação entre os países. A expectativa é de que, dentro da cooperação, o Brasil receba incentivo financeiro e mais acesso às tecnologias para contribuir com o grupo.

Além disso, não é apenas uma questão de acelerar as iniciativas já em curso no País, mas mudar as metodologias com base em um estudo que traga mais clareza sobre como o Brasil vai fazer parte desse movimento de redução de emissão de metano. O primeiro passo seria diagnosticar com detalhes as fontes de emissão de metano do País. O segundo passo seria trabalhar um método para reduzir a emissão, e não apenas trabalhar na compensação, com a recuperação de pastagens e a integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF). E, por fim, MRV: monitorar, verificar e reportar. É um processo de verificar, estudar e propor metodologias de fomento e de monitoramento dos novos métodos. A busca por eficiência deve aumentar consideravelmente no âmbito deste acordo. Contudo, não foram definidas metas individuais para cada país, por isso, é ainda maior a necessidade de medir as emissões brasileiras e entender qual método será mais eficiente. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.