22/Out/2021
A determinação do Ministério da Agricultura para que os frigoríficos suspendam quaisquer novas produções de carne bovina destinadas à China e a autorização para que empresas com vendas habilitadas àquele mercado possam estocar os cortes produzidos antes do embargo nas exportações tiveram reflexos no mercado pecuário brasileiro. Após a divulgação da notícia, na noite de terça-feira (19/10), o contrato do boi gordo para novembro na B3 recuou 0,56% na quarta-feira (20/10), a R$ 267,50 por arroba. O vencimento com entrega para novembro cedeu 1,77%, para R$ 274,00 por arroba. Embora o Ministério da Agricultura garanta que não está emitindo a certificação para exportação desde 4 de setembro, quando suspendeu as vendas para a China voluntariamente após identificar casos atípicos do “mal da vaca louca”, as indústrias não paralisaram totalmente a produção, confiando na retomada rápida dos negócios com os chineses. Os frigoríficos seguiram com a produção para a China com a ideia de manter “a roda girando”.
O histórico de 2019, quando a suspensão durou apenas 13 dias, e a dificuldade de se encontrar contêineres podem ter pesado na decisão. As empresas continuaram produzindo para não perder a oportunidade de venda e o booking do navio. Justamente por essa dificuldade de contêineres. Essas empresas embarcaram cerca de US$ 600 milhões para a China (após a suspensão) sem ter certeza de que as cargas seriam recebidas. O Ministério da Agricultura afirmou que não houve nenhuma nova orientação aos frigoríficos e que o ofício apenas atendeu ao pedido formalizado pelo setor produtivo para estocar os cortes produzidos antes de 4 de setembro. Mas, uma fonte da Pasta admitiu que o documento não seria necessário se as empresas tivessem sido mais cautelosas. A exportação foi suspensa por causa da ‘vaca louca’ e as empresas continuaram produzindo sem saber quando retornariam a exportar. E ainda correndo o risco de a retomada da exportação poder ser com produtos produzidos apenas a partir da data de reabertura da exportação. Hoje as empresas estão abarrotadas de cortes produzidos para a China e não há onde estocar, querem armazenar em condições precárias.
Se tivessem feito um planejamento melhor, teriam parado a produção e retomado somente quando voltassem as importações. A medida ainda poderá ser benéfica para as margens dos frigoríficos enquanto a suspensão continuar. O preço do boi gordo caiu mais do que o da carne bovina no atacado. Com isso, a margem doméstica melhorou para a indústria. Agora (com a decisão do governo), o frigorífico consegue tirar o ‘prêmio China’ das negociações e consegue pagar menos pelo bovino. No longo prazo, a forte interrupção chinesa poderá atrapalhar o planejamento de pecuaristas e frigoríficos. Isso porque os números de confinamento estão caindo desde o embargo. Caso a suspensão demore mais, o fornecimento de carne tenderá a cair e os preços poderão disparar no começo de 2022. Essa queda assustou muito o pecuarista, que não mandou o boi para confinamento e o deixou apenas no pasto. Só que as chuvas só voltaram agora e, em janeiro, não haverá tempo para ter bovino de pasto para abate. Existe o risco de uma queda dramática de oferta e isso pode firmar novamente os preços do boi. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.