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12/Ago/2021

Leite: momento é para avaliar gestão do rebanho

O ano de 2021 segue bastante desafiador aos produtores que se dedicam à pecuária leiteira. De janeiro a junho, o Custo Operacional Efetivo (COE) da atividade acumula forte avanço de 11,49%. Essa alta é observada mesmo após o custo ter subido expressivos 23,24% ao longo de todo o ano passado. O insumo que mais vem pesando no bolso do produtor tem sido o concentrado, que se valorizou 11,34% na “Média Brasil” (Bahia, Goiás, Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo) no primeiro semestre de 2021. Esse cenário é resultado dos elevados preços da soja e do milho que nos últimos doze meses se valorizaram 35,19% e 85,72% respectivamente, o atual cenário é resultado da forte demanda tanto no mercado interno quanto externo e os baixos estoques nacionais. Apesar do recente movimento de recuperação nos preços do leite pago ao produtor em função da entressafra, este ainda está longe de compensar o contínuo avanço nos custos de produção.

De janeiro a junho, a receita do produtor variou positivamente 3,52% para a “Média Brasil”, cotado em R$ 2,201 por litro. Esse cenário por sua vez exige muita atenção de produtores que, na maior parte dos casos, encontram margens apertadas na atividade leiteira. Diante disso, muitos pecuaristas leiteiros se mostram preocupados quanto ao futuro da atividade. O cenário é mais crítico nas propriedades leiteiras menos eficientes, o que exige suporte de um profissional capacitado para auxiliar na análise da produção de forma técnica e assertiva. Ressalta-se que uma análise rigorosa do sistema produtivo é capaz de avaliar se os possíveis resultados insatisfatórios são reflexo das condições do mercado ou de pontos de ineficiência técnica dentro do sistema. A identificação desses pontos é fundamental para o sucesso da atividade, pois permitem ao produtor adequar sua estratégia às condições de mercado, gerando eficiência dentro da porteira e reduzindo os custos desnecessários. Dados do Projeto Campo Futuro (CNA/Senar) mostram que dentre os gargalos nas propriedades leiteiras, alguns acabam sendo recorrentes.

Um caso é a estrutura de rebanho, que muitas vezes está longe de ser a ideal, ou seja, poucos bovinos contribuindo com a receita e muitos apenas gerando custos, como aqueles em recria. Em um cenário de alta nos custos de produção como o atual, propriedades com rebanhos desestruturados e menos produtivos tendem a sentir mais os efeitos em suas margens. Como consequência, tendem a investir ainda menos nas categorias de reposição, uma vez que os gastos se concentram nos bovinos em produção, que geram renda. O Brasil possui uma pecuária leiteira extremamente heterogênea, apresentando, portanto, modelos distintos de cria e recria. Muitas propriedades típicas das Regiões Sudeste e Centro-Oeste avaliadas pelo Projeto Campo Futuro (CNA/Senar) praticam a recria de maneira extensiva, com pouca ou quase nenhuma suplementação dos bovinos. Nestes casos, as fases finais do crescimento e da primeira gestação dessas vacas jovens são realizadas em regime exclusivamente a pasto, recebendo apenas sal mineral.

Não raras são as vezes em que esses pastos possuem uma alta lotação e uma produção forrageira insuficiente para atender às necessidades nutricionais dessas categorias. Propriedades mais intensivas acompanhadas pelo Projeto Campo Futuro (CNA/Senar), além de utilizarem as pastagens fornecem suplementação proteica e energética, no intuito de obter um desenvolvimento mais rápido e garantir a precocidade sexual das fêmeas em recria. Isso faz, com que as jovens matrizes se tornem produtivas mais cedo e passem a gerar renda ao sistema. A diferença entre uma prenhez e outra é de nove meses, ou seja, quando a novilha do sistema semi-intensivo estiver parindo, a do sistema intensivo estará se aproximando do período final de sua primeira lactação. Essa diferença aumenta a produção total do sistema e traz mais retorno financeiro, dado que cada uma dessas fêmeas mais precoces tem maior capacidade de gerar receita ao longo de sua vida produtiva. Os custos maiores com a nutrição e o aumento da necessidade de mão de obra na fase do nascimento à desmama podem ser fatores apontados como impeditivos para a adoção de sistemas de recria mais intensivos.

Essa questão torna-se ainda mais crítica quando a recria das propriedades está mais “inchada”. Entretanto, comparando os dois sistemas, o benefício econômico do modelo aparentemente mais oneroso, que contemple metas de ganho de peso e de redução da idade a primeira cria, torna o sistema mais eficiente e mais rentável. Ao analisar o indicador de Margem Líquida (ML) por litro de leite, ou seja, a receita menos o Custo Operacional Total (COT), que considera o COE acrescido das depreciações e o pró-labore do produtor, o sistema mais intensivo tem uma ML que representa 17% da receita por litro de leite. Já o sistema semi-intensivo apresenta uma ML negativa, o que demonstra que a propriedade não possui capacidade remunerar suas depreciações e estará em processo de descapitalização se nada for alterado. Sendo assim, o sistema intensivo mesmo tendo mais desembolsos se mostra mais eficiente na conversão do capital investido em margem para o produtor, pois é mais produtivo.

É importante salientar que as propriedades leiteiras podem ser mais intensivas e produtivas em diferentes realidades ou perfis de manejo, seja realizada a pasto, semiconfinamento ou confinamento. Alguns indicadores zootécnicos das propriedades analisadas também expressam essa maior eficiência, dentre eles o percentual de bovinos em lactação sob o rebanho total. Analisando os dois sistemas quanto a proporção do seu rebanho nota-se a diferença já que o mais intensivo apresenta 40,2% de vacas em lactação em relação ao rebanho total e o semi-intensivo 31,9%, ou seja, uma proporção menor de bovinos gera receita em relação ao todo. Nas propriedades em que o período de recria é mais longo, é comum observar situação em que o produtor, mesmo com um rebanho estável, retenha o maior número possível de fêmeas jovens, a fim de testá-las na produção leiteira. A retenção de todas as fêmeas é compreensível, no caso em que os trabalhos de melhoramento genético estão presentes na propriedade. Entretanto, se realizados sem critérios técnicos, acabam por aumentar excessivamente os bovinos em fase de recria, onerando o sistema como um todo.

Em regiões de propriedades mais intensivas, as novilhas excedentes também são uma importante fonte de receita para a propriedade leiteira. Diferentemente de países como Estados Unidos, o Brasil ainda tem poucas iniciativas de terceirização da recria de fêmeas, e essa pode ser uma boa solução para algumas regiões, especialmente para as propriedades que são menores e a área é um fator limitante. A terceirização consiste na transferência das bezerras para uma propriedade especializada na recria desses animais. Nesses locais, as bezerras recebem uma dieta adequada até atingirem sua maturidade sexual e serem inseminadas, depois desse período voltam para a propriedade de origem para iniciar a vida produtiva. Para o produtor as despesas geralmente são pagas por desempenho de ganho de peso ou através mensalidade. A maior vantagem está em ter a garantia do retorno de um bovino já produtivo à propriedade. Assim, o produtor poder concentrar seu tempo e seus esforços exclusivamente para os bovinos em produção. Fonte: Cepea. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.