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26/Jul/2021

‘Carne vegetal’: investimentos de grandes empresas

O mercado de proteínas feitas à base de plantas, ou plant-based, cresce de forma acelerada no Brasil e no mundo, atraindo investimentos de gigantes do setor alimentício, como BRF, JBS e Marfrig. A perspectiva é de que o mercado atinja entre US$ 100 bilhões e US$ 370 bilhões no mundo até 2035, com participação nos negócios globais de carnes de 7% a 23%, segundo projeções de instituições financeiras compiladas pelo The Good Food Institute (GFI). Um estudo feito pela empresa afirma que o brasileiro está diminuindo o consumo de carnes tradicionais e optando por proteínas alternativas, em um movimento conhecido como flexitarianismo. Este se consolidou como um influente grupo de consumo, crescendo de 29% dos brasileiros em 2018 para 50% em apenas dois anos e fazendo com que a indústria de proteínas alternativas brasileira se desenvolvesse rapidamente no último ano.

No Brasil, de 2015 a 2020 as vendas de produtos vegetais substitutos de proteína animal cresceram a uma taxa anual de 11,1%, de acordo com levantamento da empresa de pesquisa Euromonitor publicado no início deste ano. No período, o faturamento passou de R$ 246,7 milhões para R$ 418,7 milhões e a perspectiva é de que alcance a marca de R$ 666,5 milhões até 2025. De olho nessa oportunidade, empresas de alimentos começaram a investir na tecnologia, por meio da aquisição de foodtechs do setor ou mesmo com desenvolvimento próprio, contando com parcerias e estudos conjuntos com centros de pesquisa. É o caso da BRF, que anunciou ainda no ano passado, como parte do seu plano de triplicar o faturamento até 2030, a meta de liderar o desenvolvimento do mercado de plant-based no Brasil nos próximos anos. Para isso, a principal estratégia adotada pela companhia é estimular um ecossistema de inovação e colaboração na cadeia como um todo.

Existe uma crescente demanda por proteína no mundo, e isso leva o mercado a revisitar as soluções existentes hoje. A única certeza é de que as tendências de consumo ainda vão mudar bastante e a empresa quer estar pronta para liderar essas mudanças. A BRF entrou no mercado de proteínas alternativas em março do ano passado, com o lançamento de uma opção de hambúrguer e de nuggets feitos à base de plantas. O primeiro passo foi importar esses produtos da Holanda para agilizar os lançamentos, enquanto a tecnologia nacional estava em desenvolvimento. A produção começou com um parceiro externo, mas não dá para ser competitivo trazendo isso de fora do Brasil. Por isso, agora, toda a produção é feita no País, com os produtos similares ao frango sendo fabricados em Cotia (SP), e a carne moída, quibe e hambúrguer vegetais produzidos em Blumenau (SC). Embora a base de vendas do ano passado ainda seja pequena para fins de comparação, a BRF espera, em 2021, multiplicar por nove o volume de produtos plant-based vendido em 2020.

No ano passado, a categoria girou entre 500 toneladas e 1 mil toneladas por mês. A meta será viabilizada não apenas pela maior penetração dos produtos nas casas dos consumidores, mas também com o lançamento de mais variedades. A BRF lança, neste mês, o quibe e a carne moída à base de plantas, que vão completar o número de oito produtos no portfólio da companhia, dentre opções de alimentos preparados e outros que podem ser utilizados como ingredientes. O crescimento ainda é de três dígitos, mas já não está na mesma velocidade que no último ano. A curva começa a ser achatada por causa da crise econômica. A baixa disponibilidade de capital para consumo de produtos com maior valor agregado limita o avanço dessas vendas, até mesmo porque os preços de proteínas vegetais ainda superam os da proteína animal. Contudo, o momento pode não ser tão favorável quanto 2020, quando o auxílio emergencial aumentou o capital disponível na base da pirâmide, mas o hábito existe e a tendência mostra que isso é irreversível.

A empresa tem investido em tratamentos de ingredientes e no perfil nutricional dos produtos para avançar em entrega sensorial e sabor, os principais pontos de resistência dos consumidores. Um exemplo é a combinação entre a soja e a ervilha. Além de ampliar as vendas, para este ano os objetivos são consolidar a linha Veg&Tal da Sadia, com o lançamento de mais produtos e aumento da produção, o que tende a trazer como consequência novos investimentos em expansão da capacidade produtiva. As apostas de crescimento vêm, naturalmente, acompanhadas de investimentos em estrutura. No quesito de proteínas alternativas como um todo, a BRF vai seguir trabalhando para colocar no mercado produtos de carne cultivada até 2024. No início do mês, a empresa anunciou um aporte de US$ 2,5 milhões em rodada de investimentos da startup israelense Aleph Farms, que desenvolve a tecnologia. No caso da JBS, a estratégia é apostar na parceria ou aquisição de empresas do mercado de carnes alternativas.

A JBS identificou o segmento como tendência global há alguns anos, o que a levou a ser a primeira no Brasil a lançar produtos de carnes de origem vegetal: a linha Incrível, da Seara, lançada em dezembro de 2019. Hoje, a operação está também nos Estados Unidos, por meio da Planterra, com a marca OZO, e na Europa, com a Vivera, recém-adquirida pela brasileira por um valor de mais de R$ 2 bilhões, é a maior companhia independente de plant-based do continente. As marcas concentram três grandes centros de produção, inovação e distribuição, com a venda dos produtos para outros países via exportação. A Seara espera um forte crescimento no mercado de plant-based nos próximos anos e a internacionalização da operação permite uma antecipação das tendências de consumo pela empresa. Há troca de conhecimento e acompanhamento do desenvolvimento de tecnologias nessas três regiões. É uma forma de ter uma noção mais global, antecipar mudanças no consumo e melhorar a aplicação local das inovações.

O segmento de carnes vegetais tem um papel importante de ajudar a prover todas as proteínas que serão demandadas nos próximos anos, conforme as estimativas de aumento populacional. Novas opções de proteínas vão ganhar cada vez mais relevância nos próximos anos. Com o consumo aquecido, a JBS está ampliando o portfólio para crescer no mercado. Na Seara, com a linha Incrível, por exemplo, há opções plant-based similares às quatro proteínas: peixe, carne bovina, de frango e suína. Essa é uma forma de quebrar as objeções dos consumidores e estimular o conhecimento desses produtos. O foco é continuar puxando uma agenda de inovação nas quatro proteínas, em produtos preparados. Além disso, a companhia decidiu apostar nas vendas do varejo, mas também em parcerias com estabelecimentos de food service, para estimular a experimentação. O food service também foi o canal escolhido para o lançamento de produtos de carnes à base de plantas produzidos pela PlantPlus Food, que nasceu de uma joint venture entre a Marfrig Global Foods e a Archer Daniels Midland Company (ADM).

A decisão de ter lançado o portfólio em redes como Outback, Burguer King e Subway tem funcionado bem. A estratégia se baseou em dados recentes, que apontam que 80% da população na América do Sul tem interesse em consumir produtos à base de plantas, mas menos de 10% dos lares acessam esse mercado. A parceria entre as empresas dá fluidez na produção da PlantPlus. Isso porque o fornecimento de matéria-prima, principalmente proteína de soja, começa na ADM, por meio da planta da empresa em Campo Grande (MS). Já a produção e finalização do produto ocorre em Várzea Grande (MT), uma unidade de processamento que já foi construída com um potencial de expansão. Essa unidade poderia suprir o equivalente ao mercado total de plant-based do Brasil. O desenvolvimento da tecnologia, da mesma forma, é fruto dessa colaboração, com equipes das duas empresas no Brasil e nos Estados Unidos trabalhando a inovação. Em 2021, a empresa expandiu o portfólio, com o lançamento de quatro produtos no estado de São Paulo.

Em dois a três meses, a expectativa é expandir para outros Estados, ainda não definidos. Em seguida, a operação deve ser iniciada em outros países da América do Sul e alcançar o mercado consumidor dos Estados Unidos, com uma base produtiva local. A sede da PlantPlus é justamente em Chicago porque a ideia é trabalhar as Américas, onde está concentrada 40% da oportunidade global no mercado de carnes vegetais. A empresa estará nos Estados Unidos o mais rápido possível, com clientes potenciais já no radar. A companhia, que nasceu como startup, tem o objetivo de trazer mais variedades de produtos de proteína vegetal para o mercado consumidor, com a missão de ter quase uma versão análoga de qualquer tipo de produto animal. Os crescimentos na demanda por esses produtos foram exponenciais até o momento e cálculos internos apontam que a categoria pode chegar a US$ 6,5 bilhões em termos globais em 2021. A estimativa é de que haja uma alta de 15% nos próximos anos, com a possibilidade de chegar a US$ 25 bilhões em 10 anos. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.