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22/Jul/2021

Suíno: suinocultor opera com margens negativas

O primeiro semestre de 2021 foi bastante desafiador para a suinocultura independente, com balanço financeiro negativo na maioria das regiões, em função do alto custo de produção e do desequilíbrio entre oferta e demanda da carne suína. Já no quesito exportação, o mês de junho fechou com recorde de embarques de carne suína brasileira in natura em um só mês, totalizando 97,76 mil toneladas exportadas. No balanço do primeiro semestre deste ano, quando comparado com o mesmo período do ano passado, houve um aumento de 18,83% (+79,3 mil toneladas) no volume de carne suína brasileira in natura embarcada no total e de 27,06% para a China (+61,2 mil toneladas). Para o segundo semestre existe uma certa apreensão do setor, em função da queda acentuada dos preços do suíno no mercado chinês, o principal destino da exportação brasileira e que já beira 60% do total embarcado.

Porém, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), em relatório recente, estima que a China deverá fechar o ano com uma importação ao redor de 5 milhões de toneladas de carne suína, mais do que as projeções anteriores (4,85 milhões de toneladas). O crescimento percentual das exportações brasileiras observado no primeiro semestre não deverá se repetir até o final do ano, pois o segundo semestre de 2020 já apresentava patamares mais elevados e seria preciso a habilitação de mais plantas para ultrapassar consistentemente a barreira de 100 mil toneladas mensais de carne in natura exportada. Mas, ainda projeta-se fechar o ano com crescimento superior a 10% em relação a 2020. A princípio esta questão de baixo preço do suíno na China não deve ser motivo de preocupação, mas é preciso acompanhar a demanda nas próximas semanas para que esta tendência se confirme. No mercado doméstico, a retração econômica agravada pela persistência da pandemia de Covid-19, além da queda do poder aquisitivo e da pressão inflacionária, determinou oscilações na demanda por carne suína.

Embora o preço das carcaças e o valor pago ao produtor ao longo de todo primeiro semestre de 2021 tenha sido superior ao do mesmo período do ano passado, este aumento não foi suficiente para determinar margens positivas, em função de que o custo de produção, puxado pela alta dos preços do milho e do farelo de soja, subiu proporcionalmente muito mais que o suíno. Em junho, houve um pequeno recuo no custo, em função da expectativa do início da 2ª safra de milho 2021. Porém, as condições reais da safra e as últimas projeções fizeram com que o milho retomasse o viés de alta em julho, fazendo com que o custo de produção se mantenha acima de R$ 7,00 por Kg produzido na maioria das regiões produtoras. Com relação ao mercado doméstico, para o segundo semestre de 2021, dois fatores devem contribuir para que o preço do suíno seja bem superior ao do primeiro semestre.

O primeiro é a ampliação da população vacinada contra Covid-19, determinando a recuperação paulatina da atividade econômica e o segundo fator é o aumento sazonal da demanda, especialmente com a aproximação dos festejos de final de ano. Outro fator que chama a atenção neste momento é o crescente preço do frango. Em valores nominais, a carcaça resfriada de frango nunca esteve tão cara, atingindo, no dia 19 de julho, o valor de R$ 7,67 por Kg em São Paulo, enquanto, no mesmo dia, a carcaça suína especial era cotada a R$ 9,73 por Kg, um spread inferior a 30%, bem abaixo da diferença histórica entre as duas carnes no atacado. Porém, é preciso atentar que o spread do varejo em relação ao atacado no frango é o mais baixo dos últimos anos, indicando que as margens dos supermercados estão bastante reduzidas frente ao aumento sucessivo do preço da carcaça de frango ao longo de 2021. O País está diante de uma das maiores quebras de safra de milho dos últimos anos, em função da falta de chuvas na Região Centro-sul.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) divulgou no dia 8 de julho o 10º levantamento da safra 2020/2021, com uma redução ainda maior na projeção de colheita em relação ao levantamento anterior. A redução foi de quase 3 milhões de toneladas, determinando um total na 2ª safra de 2021 da ordem de 67 milhões de toneladas que somadas a primeira e terceira safras totalizariam 93,4 milhões de toneladas na safra 2020/2021. Mantendo a projeção de exportação de milho em 29,5 milhões de toneladas e as importações em 2,3 milhões de toneladas a Conab prevê um estoque final do ano-safra 2020/2021, em janeiro do ano que vem, de 5,4 milhões de toneladas. Alguns analistas acreditam que a quebra deverá ser maior do que a projetada pela Conab, pois a onda de frio ocorrida no final de junho comprometeu muitas lavouras, especialmente no Paraná. A perda potencial por geadas está estimada entre 2,2 e 4,5 milhões de toneladas de milho, projetando a 2ª safra de 2021 entre 58 e 61 milhões de toneladas.

Num cenário de quebra ainda maior da safra, não haveria outro caminho para garantir o abastecimento do mercado doméstico senão a redução das exportações de milho. De fato, já se percebe o que se chama de washout, que é o cancelamento de contratos de exportação com a “recompra” do milho para o mercado interno. Segundo levantamento da Reuters junto a traders e corretores, grande parte do milho que seria destinado à exportação está sendo redirecionada para o mercado doméstico, já que os prêmios se tornaram atraentes devido à quebra de safra. Alguns dos negócios de exportação do cereal que agora estão sendo cancelados haviam sido fechados entre R$ 40,00 e R$ 45,00 por saca de 60 Kg, porém, os compradores domésticos estão dispostos a pagar de R$ 90,00 a R$ 95,00 por saca de 60 Kg, justificando os washouts. Diante deste cenário de escassez, ainda relativamente longe do início da safra norte-americana, o milho voltou a se aproximar do valor de R$ 100,00 por saca de 60 Kg em várias regiões.

Como uma alternativa para auxiliar os produtores nesse cenário, todas as medidas no sentido de garantir o abastecimento de milho devem ser tomadas e, portanto, as entidades representativas do setor de carnes pleiteiam, além da retirada das tarifas de importação do grão da América do Norte (já em vigor), a isenção do PIS/Cofins do milho importado com destinação para a alimentação animal, em especial para os produtores que não operam na modalidade de Drawback. Para o segundo semestre, apesar da quebra de safra do milho que manterá os custos em alta, há uma expectativa de recuperação do preço de venda do suíno, em função do esperado controle da pandemia através da vacinação e a maior demanda sazonal de carne suína, com a proximidade do final do ano. Fonte: ABCS. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.