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22/Jul/2021

Leite: produção à pasto como alternativa aos grãos

A alimentação à pasto vem ganhando protagonismo nos últimos dois anos na produção leiteira diante da alta dos preços do milho e da soja e de duas estiagens sucessivas que prejudicaram a qualidade e a quantidade de milho silagem plantado nas propriedades. A alternativa, entretanto, não é para todos. Para incrementar as pastagens e se beneficiar de uma redução de custos de 50% ou mais, o produtor precisa de área para plantio de forrageiras, recursos para investir em insumos e assistência técnica que o oriente tanto na escolha das plantas quanto na composição de uma dieta balanceada para as vacas. Considerada uma das maiores cooperativas do Brasil, a CCGL (Rio Grande do Sul) vem conscientizando os seus cerca de 3,5 mil produtores de leite a priorizar o pasto desde 2005. Foi um longo processo, o qual passou pela melhoria da qualidade do solo nas propriedades, com novas práticas de adubação, e das formas de manejo.

A utilização das forragens como fonte principal de nutrição torna o sistema de produção leiteira mais resiliente e menos vulnerável a crises como a vivida hoje, quando o milho ultrapassa os R$ 90,00 por saca de 60 Kg e o farelo de soja (que compõe a parte proteica das rações) está cotado a R$ 2.300,00 por tonelada. Atualmente, 95% dos produtores que fornecem leite à CCGL, em 170 municípios, de Lagoa Vermelha, no norte do Estado, a Santa Vitória do Palmar, no sul, têm as pastagens como alimento principal do rebanho. Uma vaca come em média de 15 Kg a 17 Kg de matéria seca de pasto por dia. Este é o limite máximo de ingestão diária deste tipo de alimento e garante uma média produtiva de 15 a 20 litros de leite por dia, dependendo do animal. Para garantir uma produção considerada regular, de 25 a 30 litros, é preciso acrescentar à dieta da vaca em torno de 5 Kg de suplementação, composta pela silagem de milho e a ração com proteína.

Nesta proporção, o produtor gastaria por vaca cerca de R$ 14,75 ao dia. Quando a base alimentar é a silagem de milho e a ração, usadas nos sistemas de gado semiconfinado e confinado, o custo é maior (a produção também, de 10 a 15 litros a mais), tendo em vista que o milho silagem com planta inteira oscila de R$ 0,38 a R$ 0,45 por Kg. No caso predominante de uso do milho, é preciso plantar, ter quem colha, quem misture o alimento e quem leve até o cocho e isso tudo representa custo. No Rio Grande do Sul, conforme dados da Emater-RS-, 50,4 mil famílias, distribuídas em quase todos os 497 municípios, têm como fonte principal de renda a atividade leiteira. A instituição preconiza o uso de pastagens na produção de leite desde sempre. Contudo, o sistema tem limitações, tanto de oferta de pasto, dada a sazonalidade, como de possibilidade de aumento de área para este tipo de cultivo, uma vez que a maioria absoluta dos produtores está nas pequenas propriedades da agricultura familiar.

As dificuldades em equilibrar custo e renda vem tirando da atividade, gradativamente, as famílias produtoras. Na próxima Expointer, em setembro, a Emater vai divulgar uma atualização do relatório que faz a cada dois anos da produção leiteira no Estado. Ainda não há números, mas a percepção é de que o número dos produtores segue diminuindo. A produção de leite não sofre prejuízos quando a alimentação prioritária das vacas é a pastagem. Inclusive, o inverno é a estação na qual mais se produz no Estado graças à qualidade e disponibilidade das forrageiras (aveia e azevém). Anualmente, a Emater leva ao produtor informações para que faça um bom planejamento forrageiro, indicando as melhores espécies e épocas de plantio, de forma que garanta na sua propriedade a disponibilidade de pastagens.

A Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetag), que representa a agricultura familiar e o produtor de leite diretamente, vê na produção leiteira com base a pasto uma excelente alternativa para a diminuição dos custos. Porém, há uma limitação para os produtores conseguirem implementar esta prática, que é a área de terra que eles possuem. Nas pequenas propriedades, na maioria das vezes, a área disponível para plantio de pasto precisa ser semeada com o milho silagem, do qual o produtor também não pode prescindir. O Rio Grande do Sul já teve quase 66 mil produtores de leite, que foram desistindo da atividade pelo peso dos custos e das exigências qualitativas bastante elevadas nos últimos anos, segundo observações da Emater-RS. No rebanho atual, de quase 1 milhão de vacas leiteiras, as raças predominantes são a Holandês e a Jersey. A coleta média diária dos atuais 50,4 mil produtores está na faixa dos 150 litros de leite, mas pode variar de 50 a 2,5 mil litros por dia, dependendo da propriedade rural.

Ainda conforme o levantamento, que será atualizado neste ano, 94,4% das propriedades têm o sistema alimentar baseado em pastagens, 3,7% em semi-confinamento e somente 1,8% em confinamento total. Mesmo que já use o modelo das pastagens, essa maioria tem o desafio de ampliar a produtividade e a qualidade nutricional das forrageiras, até porque tem pouco espaço para expandir o cultivo. A alta dos custos tem realmente diminuído o número de produtores, mesmo que o preço do litro de leite pago pela indústria tenha avançado. O estímulo à alimentação com base no pasto é permanente, mas há dificuldades por parte de algumas famílias em melhorar sua performance. Há uma parcela dos produtores que garantiu a produtividade diária com a silagem, com pequenas áreas para o plantio de milho e até com uso de áreas arrendadas com este fim.

Nestes casos, com a alta recente no preço dos grãos e as estiagens em 2020 e 2021, quem vinha alimentando o gado com base na silagem e na ração concentrada teve mais dificuldades. A alimentação a pasto é a mais barata e, neste último ano, ela ficou muito mais barata; com isso, muitos começaram a se preocupar em ampliar o uso das forrageiras. Mas alguns, mesmo que quisessem, não teriam como ampliar a área com pastagens que mantêm ao longo dos anos. Por isso, a recomendação é melhorar as áreas existentes apostando, entre outras coisas, na busca pela qualidade do solo e por cultivares mais produtivas. A mais importante orientação é que o produtor tenha a certeza de que o gado vai ficar bem nutrido com o pasto e que a suplementação seja só para assegurar a produtividade nos momentos de escassez de forrageiras.

Segundo a Associação de Criadores de Gado Holandês do Rio Grande do Sul (Gadolando), mesmo em momentos como a troca de estações, quando a disponibilidade de pasto fica menor, é possível evitar essa queda de oferta. Uma estratégia é a sobressemeadura de espécies forrageiras de inverno em áreas ocupadas por espécies perenes de clima tropical para aproveitar o período em que estas ficam pouco produtiva ou mesmo dormentes. Além de preocupar-se com a produção, é preciso que o produtor preste atenção às exigências dos animais em pastoreio. O planejamento do sistema de produção de forragens é indispensável, pois o objetivo é equilibrar a máxima oferta de alimentos de alta qualidade com a exigência nutricional das vacas e evitar, ou pelo menos reduzir, períodos de déficit forrageiro e a necessidade de suplementação. Fonte: CP. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.