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21/Jul/2021

Leite: cenário exige cautela e boa gestão de custos

O último leilão da Global Dairy Trade, do dia 6 de julho, indicou novo recuo nos preços dos lácteos, com o leite em pó integral cotado a US$ 3.864,00 por tonelada, 4,9% menor que em início de junho. Esse recuo está relacionado a maior oferta de leite de países exportadores, em virtude de crescimento da produção no primeiro semestre do ano nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Argentina e Uruguai. No Brasil, o custo de produção de leite, representado pelo ICPLeite/Embrapa, segue em elevação, com alta de 39% nos últimos 12 meses encerrados em junho. O concentrado subiu 68% no mesmo período. O milho, que vinha com preços em elevação, registrou recuo ao longo de maio em função da valorização cambial naquele mês e da maior oferta no mercado interno. Todavia, o clima frio com geadas no Paraná, São Paulo e parte de Mato Grosso do Sul em junho, causou perdas adicionais à 2ª safra de milho 2021, prejudicando ainda mais a oferta do cereal, que já tinha sido afetada negativamente por um plantio tardio e clima seco. Como resultado, as cotações voltaram a subir em julho.

O farelo de soja, também com trajetória declinante de preço, reverteu a direção no início de julho, após a desvalorização mais recente do real frente ao dólar. Dessa forma, não há, neste momento, alívio em custo de produção. Em termos de produção de leite, neste período já há um crescimento na safra da Região Sul que tradicionalmente coloca um certo freio nas cotações. As Regiões Sudeste e Centro-Oeste, por outro lado, seguem com produção mais baixa, ajudando na sustentação dos preços. A produção de leite, mais fraca na entressafra, deu fôlego aos preços do produto, que registraram alta ao produtor em junho e julho. Isso ajudou um pouco na melhoria das margens do produtor, mas que continuam pressionadas pela alta nos custos de produção. No mercado atacadista de derivados lácteos, houve valorização a partir de maio, em razão da menor disponibilidade interna de leite. O leite UHT em São Paulo passou de R$ 3,00 por litro no início de maio para R$ 3,60 por litro em meados de junho.

Movimento parecido de valorização ocorreu no queijo muçarela, saindo do patamar de R$ 22,00 por Kg para R$ 28,00 por Kg no mesmo período. Nas últimas duas semanas, no entanto, o mercado atacadista perdeu fôlego, com UHT a R$ 2,50 por litro e queijo muçarela a R$ 27,00 por Kg, mostrando alguma dificuldade para novos repasses. Portanto, o momento é de cautela e com preços mais fracos. Pelo lado das importações, tem-se observado um aumento, ainda que modesto nas compras. Como há uma boa oferta de leite no Mercosul, com preços competitivos, é provável que a importação aumente. Uma perspectiva de preços mais firmes dos lácteos vai depender sobretudo do comportamento da demanda. Alguns laticínios têm sinalizado que as compras enfraqueceram. No entanto, apesar de contar com menos recursos do auxílio emergencial, espera-se um impacto positivo da recuperação econômica em curso.

As projeções de crescimento PIB para 2021 já superam 5% ante previsões em torno de 3% no início do ano. Marginalmente também é esperado uma recuperação no mercado de trabalho, já que o avanço no processo de vacinação e maior abertura do setor de serviços poderá auxiliar na geração de emprego e renda. Desde julho/2020, o saldo de admissões menos demissões têm sido positivo. Com o esperado retorno das aulas presenciais na maior parte do país em agosto, a retomada dos eventos e viagens, a normalização do food service, entre outras atividades, paulatinamente, o cenário de restrições imposto pela pandemia vai se dissipando. Isso certamente é positivo para a economia brasileira. Mas, como o setor lácteo passa por momento complicado em termos de margens, custos altos, e dificuldade para repasses de preços, é importante continuar com mais cautela neste momento e com uma boa gestão de custos.

Nos últimos meses, tanto os produtores como a indústria têm enfrentado um enorme desafio frente aos crescentes custos de produção. Infelizmente, pela demanda ainda baixa, esse aumento de custos não está sendo repassado na ponta, ao consumidor final. Dessa forma, todos os elos têm trabalhado com margens apertadas. O avanço da vacinação, a retomada da mobilidade urbana e as melhores expectativas dos indicadores econômicos, como o PIB, cria perspectiva para uma demanda mais aquecida neste segundo semestre do ano, o que não tem acontecido até agora. Mesmo com o preço internacional do leite mais competitivo, e a boa oferta do Mercosul, ainda não é um cenário totalmente favorável para importação. A Argentina e o Uruguai já estão com suas exportações de curto prazo comprometidas para outros mercados. A partir de agosto, deve haver maior disponibilidade para vendas ao Brasil, sendo essa disponibilidade ampliada em setembro e outubro. Fonte: Centro de Inteligência do Leite/Embrapa Gado de Leite. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.