ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

20/Jul/2021

‘Carne vegetal’: Next Gen está mirando no Brasil

Ingressar em um mercado novo já não é fácil, fazer isso enquanto uma pandemia começa a assolar o mundo é mais complicado ainda. Contudo, a startup Next Gen Foods se arriscou e, agora, colhe os frutos da empreitada. A história da empresa criada pelo alemão Timo Recker e pelo brasileiro André Menezes iniciou em abril de 2020, em Singapura. O objetivo: inovar o setor de alimentos. Menezes é ex-executivo da BRF e diz que a oportunidade de trabalhar na companhia por seis anos o fez entender o mercado de carnes globalmente e os pontos positivos e negativos do ramo. Para ele, o sistema de produção ainda é ineficiente. A agropecuária foi importante para trazer a empresa para onde está hoje, mas, olhando para frente, daqui 20 ou 30 anos, não é a resposta para alimentar 10 milhões de pessoas com proteína de qualidade e com propriedades de gosto e sabor atraentes. Neste contexto surge a foodtech Next Gen Foods, que utiliza tecnologia para desenvolver produtos à base de plantas.

Em meados de novembro de 2020, a empresa fez uma rodada seed e despertou o interesse de investidores como Temasek e Venture Capital com base na Ásia K3 Ventures, tanto que a rodada se encerrou em US$ 10 milhões. Essa foi a maior rodada de todos os tempos para uma startup de alimentos à base de plantas. A intenção dos executivos era utilizar o montante para fazer o lançamento da marca em 2021, evoluir na região para captar recursos e, assim, entrar nos quatro mercados principais: Estados Unidos, Europa, Brasil e China. O sistema de produção de alimentos não é sustentável. Isso significa que existe uma indústria de US$ 1,4 trilhão no mundo, que é a indústria de carne, que está usando uma tecnologia de dois a três mil anos de idade que é a agropecuária que, embora tenha evoluído, é restrita pela questão biológica dos animais. Os animais não foram feitos para ser comida, não evoluíram para se tornar o melhor alimento para a gente.

Isso também tem relação com a questão de saúde e sanitária. Por conta da aposta de que isso precisa mudar, os investidores estão muito interessados neste setor. Os grupos querem aplicar capital em companhias que tenham capacidade de crescimento e de produção com diferenciais, seja no produto, na marca ou na tecnologia. A Next Gen teve um início promissor, e os fundadores pretendem continuar a jornada da startup com os pés no chão, sem se apressar nas etapas. Com isso, em março de 2021 foi lançada a marca Tindle, de frangos feitos à base de plantas. O produto atualmente é comercializado em Singapura, Hong Kong e Macau e, até o final de 2021, o objetivo é que ele esteja em mais cinco mercados. Em uma segunda rodada de capitação, a foodtech recebeu aporte de US$ 20 milhões de novos investidores, que incluem a GGV Capital, Bits x Bites, Yeo Hiap Seng, Chris Yeh, e o jogador de futebol Dele Alli, do Tottenham.

O valor será usado para impulsionar a entrada do Tindle nos Estados Unidos, principal mercado de carne vegetal do mundo. A empresa já está estabelecendo bases no país para estar no mercado nos próximos 12 meses, à medida que acelera na meta de se tornar o líder mundial da categoria de frango a base de plantas. O processo de produção do alimento começou com o entendimento de o que o frango significa para o consumidor e os clientes (que são os chefs de cozinha e restaurantes). Eles concluíram que o produto teria como base três elementos: o aspecto fibroso da carne, o gosto característico do frango, que vem da gordura, e a versatilidade da proteína. Para desenvolver a fibra, foi feito um processo de isolamento e extrusão; a gordura foi elaborada por meio de um método de emulsão baseado em óleo de girassol com o sabor de frango criado naturalmente, sem elementos de origem animal. Já a versatilidade não teve tanto segredo.

Basicamente, foram trazidos outros elementos, produtos e processos, desde a água que vai no processo de produção até a fibra de aveia, que fazem com que seja possível conseguir um produto como se fosse um frango cru e os chefs de cozinha podem fazer o que eles quiserem. Os produtos orgânicos, feitos à base de plantas, tem um desafio com relação à acessibilidade, visto que a escala ainda é reduzida e, portanto, os preços são mais elevados. Contudo, a longo prazo, a tecnologia é mais eficiente. Nada é considerado pior do que os meios utilizados pela agropecuária. Porém, a escala de produção grande e otimizada faz com que o valor seja mais barato. Os fundadores estudaram os consumidores dos produtos da Next Gen e analisaram que o público principal tem entre 18 e 35 anos e “cabeça global”, preocupados com o meio ambiente. Após essa faixa etária, o grupo percebeu que as pessoas são menos propensas a abandonarem o consumo de carne animal.

Não é natural o que fazemos hoje, é um gosto adquirido com a maneira que somos ensinados, com que as culinárias se desenvolveram e com a maneira que se fazer agropecuária se desenvolveu no mundo. As pessoas foram ensinadas assim por seus pais que não tinham nenhuma outra possibilidade, mas provavelmente, a geração vai passar para a próxima um ensinamento diferente. O Brasil é uma potência agrícola e agropecuária, e tem capacidade para ser o líder global do setor assim como é na produção de carnes e grãos. Para que isso ocorra, no entanto, é importante que o País tome decisões estratégicas no ramo, de modo a facilitar investimentos e desenvolver ciências e tecnologias. Neste caso, o Brasil teria que se desafiar a sair do tradicional e apostar na inovação. Além disso, focar em meios de reeducar o consumidor para os impactos das escolhas feitas na sustentabilidade.

O produto à base de vegetal, comparado com o frango animal, apesar de proporcionar a mesma experiência e gosto, tem 88% menos emissão de gás carbônico, 82% menos consumo de água e 74% menos consumo de terra para fazer nutricionalmente a mesma coisa. Após lançar neste ano sua carne de frango à base de plantas em Singapura, onde está sediada, e também em Hong Kong e Macau, a Next Gen está de olho no Brasil. A ideia é começar a operar no País entre 2022 e 2023. O País deverá representar de 15% a 25% das vendas da empresa dentro de 10 anos. O mercado de plant-based hoje está concentrado nos Estados Unidos e na Europa, mas, em 10 a 15 anos, Brasil e China também vão estar muito acelerados. O mercado chinês também está nos planos. A empresa não pretende ter fábrica brasileira, mas estabelecer parceria com fabricante que tenha operação industrial e atue sem marca própria. A Next Gen traria a tecnologia, ingredientes e processos para essa fábrica produzir sob a marca da empresa. A pandemia retardou as conversas com possíveis parceiros. Fonte: Época Negócios e Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.