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05/Jul/2021

Carnes: mudanças no paradigma da alimentação

Nos Estados Unidos, as vendas de carne em supermercados caíram mais de 12% em relação ao ano anterior. Na Europa, a demanda global por carne bovina deve cair 1% este ano. E na Argentina, lar de uma das populações mais carnívoras do mundo, o consumo per capita de carne bovina caiu 4% desde 2020. Embora alguns desses números possam parecer pequenos, eles constituem uma raridade em um mundo 'carnívoro', que até a chegada da pandemia no ano passado viu o consumo crescer durante anos para atingir novos recordes. Agora, a demanda parece diminuir em todo o mundo, o que pode indicar uma clara mudança de paradigma na alimentação. Antes de analisar essa reviravolta, é preciso ter em mente que nem tudo está no paladar ou no desejo de hábitos mais saudáveis.

O maior impedimento para a demanda foi o aumento implacável dos preços que começou em outubro, impulsionado pela oferta global de ração e interrupções na cadeia de abastecimento. O indicador de preço da carne das Nações Unidas (ONU) subiu por oito meses consecutivos, a maior sequência desde 2011, e está perto de uma alta em vários anos. A crise de preços chega em um momento em que os consumidores continuam lutando com as consequências econômicas da Covida-19, forçando famílias a comprar menos e mudar para outras proteínas, como ovos, por exemplo. No entanto, historicamente, a demanda diminuiu com as recessões financeiras anteriores e depois se recuperou. O que mudou agora é a ascensão dos produtos vegetais.

Cada vez mais, os consumidores estão decidindo desistir da carne por preocupação com o meio ambiente, o bem-estar animal e a saúde. E essa mudança não se limita às dietas da moda. Está se tornando mais prevalente em todo o mundo e em todos os grupos de renda, a ponto de as forças gêmeas da inflação e das tendências alimentares se unirem para sinalizar uma mudança sísmica no consumo de carne em todo o mundo. Segundo o Euromonitor International, a carne está sob ameaça nunca vista anteriormente. Quando a carne é muito cara, o consumidor vai parar de consumir se não puder pagar. As mudanças fundamentais vêm mais da mudança de atitude do consumidor, em aspectos como saúde e impacto climático.

Em algumas partes do mundo, a mudança para uma dieta baseada em vegetais ocorre em meio à proliferação de mais alternativas, como os hambúrgueres vegetarianos da Beyond Meat. Mas, em outros, trata-se apenas de voltar ao básico: comer mais feijão e vegetais. A agricultura é responsável por mais emissões de gases de efeito estufa do que o transporte, graças em grande parte à produção de gado. Mas, desistir da carne está aumentando uma das desigualdades mais profundas do mundo: quem consegue comida suficiente com fontes suficientes de nutrição, e quem não consegue. O acesso insuficiente ao gado e a outros alimentos de origem animal é um dos principais fatores por trás das altas taxas de desnutrição que persistem em muitas partes da Ásia e da África, alertou a ONU Nutrição em junho.

A análise mostra que a carne e outros produtos de origem animal podem ajudar a combater a desnutrição, que causa retardo de crescimento em cerca de um quinto das crianças em todo o mundo. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), os vegetais, frutas, legumes e grãos são essenciais. Mas, os produtos de origem animal ricos em nutrientes são especialmente eficazes para tirar crianças da desnutrição aguda e crônica. É difícil encontrar dados que demonstrem o declínio da demanda mundial por carne. Isso ocorre porque as medições mais abrangentes estimam o consumo apenas em relação à produção. Supõe-se que quando o suprimento está disponível, tudo é consumido. E a produção de gado deve crescer este ano, à medida que a China se recupera de um surto de peste suína africana (PSA).

A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) estima que o consumo mundial de carne per capita crescerá 1,2% em 2021, após ter contraído 0,7% no ano passado. e sua previsão se deve principalmente à magnitude da recuperação na produção de suínos da China. Mas, mesmo na China, onde a inflação da carne está relativamente contida em comparação com outras regiões, as dietas à base de vegetais estão ganhando força. As gerações mais jovens estão cada vez mais preocupadas com a saúde e mais propensas a optar por menos carne, enquanto os restaurantes da moda e de luxo servem opções baseadas em vegetais. Fonte: El Economista. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.