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29/Jun/2021

Carnes: China pode reduzir importações este ano

Notícias recentes vindas da China e a conjuntura brasileira, com o dólar perdendo valor ante o Real, começam a suscitar dúvidas sobre se o apetite chinês pelas carnes produzidas no Brasil vai perdurar muito tempo. A queda da moeda norte-americana reduz a competitividade da proteína animal no exterior. Além disso, o preço da arroba bovina vem batendo recordes no Brasil, o que também encarece o produto para os frigoríficos exportadores. A China, por seu lado, trabalha intensamente para recompor o rebanho suíno, após a crise da peste suína africana (PSA), o que poderia reduzir sua busca por carnes no mercado global. O mercado vem notando que as cotações internas da carne suína no país asiático estão finalmente caindo, o que pode ser reflexo do aumento dos abates e da recuperação do plantel, após a trágica crise da peste suína africana, que dizimou metade do rebanho, além de a China estar liberando estoques estatais para controlar os preços.

Esses fatos reduzem a necessidade das importações recordes de carnes vistas nos últimos dois anos pelo gigante asiático. Além disso, as aquisições de milho da China (parte dele para alimentar os plantéis) também chama a atenção. Conforme a Administração Geral de Alfândegas da China (GACC), em maio, as importações chinesas do grão somaram 3,16 milhões de toneladas, volume 395,3% maior do que o adquirido em igual período de 2020. No acumulado do ano até maio, a alta foi de 323%, para 11,73 milhões de toneladas. De soja, que a China compra para produzir farelo e alimentar as criações de suínos e frangos, também houve aumento. Em maio, o país importou 9,61 milhões de toneladas, aumento de 2,5% ante igual mês do ano passado e de 13%, quando somados os cinco primeiros meses de 2021. Em relação às carnes, a China adquiriu de fora 3,3% menos carne em maio em relação a maio de 2020, ou 790 mil toneladas. Mas, na comparação com janeiro-maio de 2020, ainda há avanço de 12,6%, para 4,34 milhões de toneladas.

De fato, a China recupera rapidamente os plantéis de suínos, estruturando, desta vez, sistemas industriais de criação para minimizar riscos sanitários e abandonando as criações de "fundo de quintal". Mas não reduzirá, pelo menos no curto prazo, sua necessidade de adquirir carne do exterior, seja o produto ou não do Brasil. A expectativa da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) é de que a China continue demandando bons volumes de proteína animal em 2021 e pelo menos até 2022. Isso porque a retomada que vem ocorrendo no país é referente à composição de matrizes suínas. Quer dizer que, com a matriz pronta, para o leitão virar carne nas prateleiras dos supermercados ainda precisa de um período de mais ou menos 1 ano e meio. Outro fator que indica uma continuidade dos embarques brasileiros para China é a perspectiva para os concorrentes.

Segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), números apontam para uma redução de 3% nas exportações de carne suína pela União Europeia, praticamente estabilidade dos embarques dos Estados Unidos (+0,03) e do Canadá (+0,03%), enquanto a previsão para o Brasil em 2021 é de aumentar até 10% as vendas externas. O Brasil é sempre competitivo e isso não vai mudar, mesmo com o câmbio menos favorável. O recuo das compras de proteína animal da China se deve a uma redução sazonal do consumo, em função da chegada do verão no país, além do uso dos estoques públicos, conforme informado por Pequim no mês passado. A China voltará a comprar com mais força nos próximos meses, principalmente em outubro, com a retomada econômica pós-pandemia de Covid-19. Para o médio prazo, mesmo que o gigante asiático consiga recompor seus plantéis suínos para os níveis pré-peste suína africana, de 54 milhões de toneladas por ano, nesse período a população chinesa já terá crescido e, consequentemente, a necessidade de consumo também.

Será preciso abastecer o mercado chinês com 58 milhões de toneladas por ano, e não mais com 54 milhões de toneladas. Para o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/Esalq-USP), as carnes brasileiras, sobretudo a bovina, começam a ficar mais caras, inclusive para os chineses, por causa do preço interno da arroba em alta, além das recentes desvalorizações do dólar ante o Real. Mesmo o Brasil sendo o principal player de carne bovina no mercado global, a partir do momento em que o boi gordo supera os R$ 300,00 por arroba no País e com o câmbio abaixo de R$ 5,00, a carne brasileira fica cara, tanto no mercado interno como no externo. Isso faz com que os chineses, cujas compras de proteína animal vêm predominantemente do Brasil, comecem a olhar com mais atenção para outros fornecedores, como Estados Unidos, Argentina, Uruguai e até a Austrália. Apesar de a carne brasileira ser competitiva, já é a terceira ou quarta mais valorizada do mundo.

Hoje, o preço no Brasil só ganha da cotação nos Estados Unidos e na Austrália, e ambos têm custo logístico mais barato do o País. Assim, embora a China continue comprando volumes expressivos do Brasil, vai estar, cada vez mais, atenta a outros fornecedores. De maio de 2020 para maio de 2021, as importações chinesas de carne bovina do Brasil diminuíram com certa força, quase 20%, passando de 83,9 mil toneladas para 67,3 mil toneladas. Entre dezembro de 2020 e maio deste ano, a redução foi ainda maior, de 24% (no último mês de 2020, a China foi destino de 88,6 mil toneladas da carne brasileira). A China divulgou no dia 15 de junho que seu rebanho de suínos teria crescido 23,5% em maio ante igual mês de 2020. Do ano passado para cá, as compras globais chinesas de proteína animal vêm decrescendo. Apenas a carne bovina deve crescer em embarques para o gigante asiático, em torno de 11% a 12%; a de carne de frango cederá 16% e a de suína, 8% ou 9% de um ano para outro.

Em 2017, a China comprava 902 mil toneladas de carne bovina do mundo, mas hoje, a estimativa é de 3,1 milhões de toneladas, um número bastante alto. Em relação à proteína de frango, as aquisições globais em 2017 pela China foram de 311 mil toneladas e, em 2021, devem fechar em 840 mil toneladas, mesmo com a queda prevista de 16% de 2020 para 2021. Quanto à carne suína, em 2017 os chineses compraram 1,5 milhão de toneladas do exterior e, ao fim deste ano, deve fechar em 4,85 milhões de toneladas. As recentes quedas podem ser consideradas como ajustes sazonais, já que a questão da peste suína africana (PSA) ainda não está totalmente resolvida. A China deve se manter como o principal player mundial na compra de carnes pelos próximos anos, mesmo recuperando seus plantéis suínos. O país se firmou neste mercado e hoje importa quantidades exuberantemente maiores em relação há quatro anos. Está claro que a recuperação do rebanho chinês se acelerou, fato que pode ser constatado pela desvalorização do suíno no mercado doméstico do país.

Porém, há relatos de novos focos de peste suína africana, mas de menor proporção e, portanto, mais fáceis de serem controlados. Nesse sentido, os maiores efeitos da recomposição do plantel na China devem ser sentidos sobre a carne suína, mas a carne bovina pode sofrer um dano colateral. Isso corrobora para um cenário de possível queda nas exportações brasileiras para os chineses. A partir de agora, o mercado vai conseguir entender o tamanho da demanda chinesa pela proteína bovina em si, e não mais para substituição da carne suína, já que os plantéis estão em franca recuperação. O fato é que os chineses implementaram o consumo de carne bovina como um hábito nos últimos anos, mas só será possível ter certeza dessa tendência de consumo com as mudanças que estão por vir. Este ano, a exportação brasileira da carne bovina deve ficar em linha com a verificada no ano passado, sem surpresas positivas ou negativas. Outro fator que chama atenção é a variação cambial. Com a queda nos preços dos suínos na China e a valorização do Real frente ao dólar, a proteína brasileira perde competitividade no mercado internacional e a arroba pode apresentar maior volatilidade.

O Brasil vai continuar exportando, mas não vai ser como nos últimos anos. A tendência para este ano é de que o Brasil tenha uma leve queda nos embarques de carnes para a China, especialmente da suína. A base disso é o preço do suíno chinês, que já recuou ao menor nível desde 2018, no período anterior à peste suína africana. Já há, inclusive, relatos de cancelamento de contratos de carne suína brasileira pelos chineses. Parte do recuo nas cotações locais, de fato, se deve a um aumento na produção de animais. Porém, há também uma influência dos abates antecipados, realizados por suinocultores como uma forma de prevenção contra os novos focos da doença no sul da Ásia e na China. Isso trouxe um abate maior do que o esperado e derrubou os preços dos suínos. O medo da doença gerou um efeito colateral e indireto, e os preços baixos acabam até desestimulando a suinocultura chinesa neste momento. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.