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08/Jun/2021

Boi: frigoríficos ainda dependem da Amazônia Legal

A dependência do setor de carnes da região da Amazônia Legal é grande: das 22 milhões de cabeças de gado abatidas no ano passado no País, de acordo com o Ministério da Agricultura, 10,2 milhões (46%) tiveram origem nessa área. Apesar de existir correlação direta entre a Amazônia e o setor, as grandes produtoras de carnes no País admitem que, ao menos por enquanto, não conseguem garantir que sua produção não contribua indiretamente para a destruição da floresta. A pressão de organismos internacionais sobre o Brasil por causa do aumento da velocidade da destruição da Amazônia é cada vez maior. Os dados mostram, porém, que o problema só cresce. Em maio, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), a destruição da floresta teve alta de 40% em relação ao mesmo período de 2020, um recorde para o mês.

Com dados como esse - que se repetem há alguns anos -, a indústria da carne sabe que está na berlinda. Prova disso foi uma ação conjunta dos três maiores bancos privados do País - Itaú, Bradesco e Santander - voltada ao desenvolvimento sustentável da Amazônia. Segundo executivos do próprio setor, há pressão dos distribuidores de alimentos (como redes de supermercados) e de alguns importadores para que a carne produzida no País tenha “selo verde”. As três principais produtoras de carne bovina do País - JBS, Marfrig e Minerva - correm contra o tempo para garantir a origem de todos os seus produtos. Mas, por ora, admitem que isso ainda não é possível. Embora todas tenham criado sofisticados programas de monitoramento via satélite para vigiar cada um de seus fornecedores diretos, todas esbarram no mesmo “ponto cego”: as fazendas de novilhos e de engorda pelas quais o gado passa antes de chegar às suas parceiras diretas.

Nesse momento, JBS e Marfrig têm uma meta ambiciosa: garantir que, até 2025, todo o histórico do gado possa ser monitorado. O desafio que é a identificação dos fornecedores indiretos, segundo Paulo Pianez, diretor de sustentabilidade da Marfrig. Ele aponta falta de políticas públicas sobre o tema. Ao contrário de Austrália e Uruguai, não há implantação da identificação de origem desde o nascimento. E tudo o que é voluntário tem adesão baixa. Foi uma oportunidade perdida, segundo ele. Pianez diz que, hoje, o “ponto cego” da Marfrig ainda é de 40% do rebanho processado nas fábricas. Para conseguir garantir que o boi abatido pela empresa jamais tenha pisado em uma área com ilegalidades, a empresa criou um sistema de cadastro de fornecedores indiretos, nos quais as informações passam por uma série de validações de órgãos ambientais.

Caso haja “não conformidade”, a propriedade pode ser orientada e financiada pela própria Marfrig para se adequar à legislação. O mesmo ocorre na JBS. A empresa tem 100 mil fornecedores em seu sistema, dos quais de 25 mil a 30 mil são ativos, de acordo com o diretor de sustentabilidade, Márcio Nappo. Dentro desse universo de propriedades, 11 mil são bloqueados atualmente por pendências ambientais. Para garantir a origem de todo o gado, porém, a JBS terá de cadastrar um total de fazendas bem maior. Para isso, a empresa montou 13 escritórios em que os pecuaristas podem prestar informações e ser orientados a sanar pendências - a JBS vai financiar essa adequação à legislação nos próximos anos. Na Minerva, que recentemente concluiu o cadastramento de seus 8 mil fornecedores diretos de gado, o próximo passo é implantar o sistema em fazendas de outros países da América do Sul.

Segundo Fernando Queiroz, presidente da Minerva Foods, essa é uma exigência cada vez maior dos clientes, tanto no Brasil quanto no exterior. A empresa já tem uma linha de carnes em que o consumidor pode rastrear o histórico dos bois por meio de um QR-Code. As ações de gigantes não são, porém, capazes de garantir o controle a todo o mercado. Isso porque o setor de bovinos funciona no sistema “spot”. Ou seja: uma fazenda vende hoje para um frigorífico e amanhã, para outro. A verdade é que são esses grandes frigoríficos que não querem correr o risco de ter sua produção ligada à destruição da floresta. Já os pequenos frigoríficos vão continuar trabalhando com produtos de áreas com problemas. O Ministério da Agricultura informou que tem atribuições sobre a implementação do Código Florestal nos imóveis rurais. No tocante às infrações ambientais, a legislação pertinente é a Lei de Crimes Ambientais que traz diretrizes para combater a ilegalidade. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.