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08/Jun/2021

Carnes: demandas da China direcionam o mercado

Em 2020, os exportadores de carnes brasileiras comemoraram as vendas em alta. Os embarques de carnes de frango somaram 4,2 milhões de toneladas, de suínos foram 1 milhão de toneladas, e de bovinos, 2,3 milhões de toneladas. Juntos, tiveram um faturamento de aproximadamente US$ 16 bilhões. A tendência para este ano é que estes números sejam maiores. Não faltam motivos para que o Brasil bata um novo recorde de exportações e de faturamento, puxados, sobretudo, pelos vorazes apetites asiáticos. Na lista das demandas externas, há pés de frango, pescoços de peru e de pato, bochecha de suíno, miúdos e tripas de boi. São cortes que, no exterior, valem mais que partes nobres aqui, como peito de frango e pernil suíno. Há componentes culturais que justificam que, em alguns países, patas de frango ou orelhas de suínos sejam mais valorizadas que os cortes mais desejados no Brasil. Na China, em Hong Kong ou na União Europeia, são sempre as preferências gastronômicas dos importadores que ditam as regras do mercado. Hoje, é a Ásia quem dá as cartas.

Entre janeiro e abril deste ano, só de tripas de boi o Brasil exportou 10 mil toneladas, e de miúdos (que incluem até útero de vaca e testículos de boi) já foram outras 47 mil toneladas, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior, compilados pela Associação Brasileira dos Exportadores de Carne Bovina (Abiec). Até o final do ano, o cardápio vai ser incrementado. A China é o país que mais compra carnes do Brasil e a alta demanda por proteínas de origem animal vem crescendo há pelo menos 10 anos. Segundo a Fundação Getúlio Vargas (FGV), o crescimento econômico na China promoveu mudanças na dieta da população, que passou a consumir mais proteínas de origem animal. O crescimento econômico de países implica nessa transferência de consumo, de proteínas vegetais para proteínas animais. Vorazes consumidores de suínos, os chineses foram obrigados a importar muito mais carne nos últimos três anos devido a uma doença, a peste suína africana (PSA). A doença atingiu 60% do rebanho chinês, que foi sacrificado, e gerou um desequilíbrio no mercado global de carnes.

Apenas agora a China está repondo os suínos para formar um novo plantel. Mas, os consumidores compram carnes, principalmente do Brasil. Mesmo comprando tudo o que pode, a China precisa de cada vez mais e, por isso, também ampliou as importações de carne de frango e de boi. A carne bovina não era tradicional na China, mas os consumidores estão gostando muito. A China já importou, entre janeiro e abril deste ano, 250 mil toneladas de carne bovina. Deste volume, 208 mil toneladas (83,6%) eram de cortes in natura (carne fresca, apenas separada por partes, como a dianteiro ou o traseiro), 14,4 mil toneladas de carnes industrializadas (carnes defumadas, curadas ou salgadas) e 21,1 mil toneladas (8,47%) de miúdos, categoria que inclui todos os órgãos internos do animal, e 4,4 mil (1,79%) de tripas (intestinos). Com o aumento nos pedidos por carnes, cresceu também a lista das preferências alimentares "peculiares" dos asiáticos. Cortes que no Brasil são desvalorizados e considerados despojos frigoríficos, como pés de frangos, rosto de suíno, pescoço de peru, cartilagens e tripas, ganham na Ásia status de carnes premium.

Dos frigoríficos da BRF em Concórdia e Videira, em Santa Catarina, saem milhares de quilos de pés de frangos embalados para a China. No país, é uma iguaria, preparada como snack, muito popular. Os chineses consomem patas de frango como o brasileiro come pipoca, em qualquer lugar, vendo um filme, em casa, na rua. Esses pés são vendidos em máquinas, com sabores exóticos. O valor desse corte é tamanho que, em comunicado aos acionistas, a companhia detalha a valorização dos pés diante dos demais cortes. Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), o pé vale cerca de 70% a mais que outros cortes da ave e pode chegar a US$ 1.500,00 por tonelada dependendo do país de entrada. Nas ruas, o pacotinho com 10 unidades (cerca de 100 g) custa em torno de US$ 5,00 (R$ 26,00). O peito de frango no mercado custa em torno de US$ 4,00 por Kg e o pernil suíno, US$ 10,00 por Kg. Em São Paulo, por exemplo, um pacote 2 Kg de pés de frango, in natura, custa R$ 22,00.

Na Coreia do Sul, Hong Kong e Singapura, com hábitos gastronômicos parecidos com os da China, a demanda por miúdos e pertences (órgãos internos são miúdos e pertences são pés e asas, no caso de aves, rosto, patas e rabinho suíno e orelhas suínas) também são iguarias, bastante valorizadas. São consumidas como prato de entrada, fritas, crocantes, ou como ingredientes de sopas. Eles também apreciam a bochecha suína. Para atender esse público, os frigoríficos retiram a "máscara" do animal, um corte que vai da parte de trás das orelhas ao queixo, para depois desmembrar as partes, como a bochecha. Mas, a atividade não requer rituais especiais, como acontece com o mercado Halal, destinado aos muçulmanos. A única exigência é que o frigorífico tenha a habilitação para comercializar carnes para esses países, atendendo suas regras sanitárias. São cortes com valor agregado imposto pela culinária asiática e é uma tendência crescente. A BRF informou que pedidos especiais aumentaram 50% desde 2019.

Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), no passado, eram as demandas da União Europeia, de peitos de frango e pernis suíno, que ditavam as regras do mercado. Hoje em dia, é a demanda asiática por miúdos e pertences que determina a estratégia das empresas no Brasil. As empresas olham para essa demanda para criar as estratégias de vendas e a valorização destes cortes na Ásia faz a diferença na balança comercial. A ABPA estima que as exportações de miúdos e pertences, sobretudo de suínos, aumentarão em torno de 10% até o final do ano e 35% até 2022. O otimismo foi reforçado com a declaração, da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE), que concedeu, no dia 27 de maio, a seis Estados brasileiros, o status de zona livre de febre aftosa sem vacinação, uma das exigências de mercados asiáticos para a importação de carne. Apenas os frigoríficos de Santa Catarina estavam habilitados para exportar miúdos para a Ásia e agora, unidades do Paraná e Rio Grande do Sul também poderão se credenciar para exportar até seis tipos de miúdos.

O Rio Grande do Sul tem potencial para exportar, entre carnes com osso, miúdos e pertences, até 293 mil toneladas neste ano, e em 2022, as vendas podem ser de 350 mil toneladas. No Paraná, o potencial é que as exportações somem 145 mil toneladas em 2021 e 165 mil em 2022. As preferências gastronômicas dos países árabes também estão fazendo diferença para os setores exportadores, sobretudo de carnes de frango e boi. Os árabes não consomem carne suína, mas a demanda por carnes de aves e boi é alta e crescente. Os gostos destes consumidores também são culturais. Para as aves, a demanda é para um tipo de frango, menor que um galeto, consumido inteiro, no espeto, fígado de galinha, que segue para o Oriente Médio em bandejas, e um tipo de bacon preparado com as carnes do pescoço do pato. Em 2020, o Brasil exportou 1.017 toneladas de carne de pato para a Arábia Saudita, 1.085 toneladas para os Emirados Árabes, 378 toneladas para o Catar e 267 toneladas para o Kuwait. As carnes bovinas já são comuns no Oriente Médio. No ano passado, o Egito foi o terceiro principal cliente do Brasil e importou 484 mil toneladas. Desse volume, 7,16% foram miúdos e 1,61%, tripas. Fonte: UOL. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.