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10/Mai/2021

Carnes: previsão de preços firmes no 2º semestre

Com a queda no poder aquisitivo, a crise provocada pela pandemia de Covid-19 e os alimentos mais caros, os consumidores brasileiros colocaram as carnes no fim da lista de prioridades na ida ao supermercado. E isso não deve mudar no médio prazo. As exportações desses produtos seguem aquecidas, estimuladas pelo dólar forte, e fatores ligados à produção, como a oferta restrita de bois e o encarecimento dos custos, manterão os preços da proteína animal firmes nos próximos meses. Eles chamam a atenção para a inflação em alta, puxada em parte pelo setor de alimentos, com destaque para as carnes bovina, suína e de aves. No segundo semestre deste ano, as proteínas animais tendem a continuar negociadas em altos patamares de preços. Essa inflação está associada a uma pressão de custos, principalmente por causa da apreciação do dólar ante o Real, e que as fontes de incerteza que influenciam o câmbio não parecem próximas de acabar.

No Brasil, o cenário é de demora na vacinação, agravamento da pandemia, além do déficit orçamentário gigante do governo e a ausência de uma estratégia para que isso seja controlado no curto prazo, o que deixa uma falta de clareza sobre a retomada da atividade econômica. Nos últimos doze meses, o preço das carnes, incluindo cortes suínos e bovinos, já subiu 29,51%, conforme dados do Índice de Preço ao Consumidor Amplo (IPCA), que mede a inflação oficial. Em 2020, a elevação foi de 17,97%, enquanto em 2019 o impacto da alta de carnes (32,40%) no IPCA foi de 20% do índice geral (4,31%), que tem mais de 400 itens. Parte importante desse impulso veio do exterior. Em 2019, as exportações de proteína animal do Brasil explodiram para atender à maior necessidade de importação da China. No país asiático, a peste suína africana (PSA) havia dizimado, desde o ano anterior, quase metade do rebanho de suínos. E como os países fornecedores, incluindo o Brasil, não conseguiam atender a essa demanda específica em volume suficiente, a exportação das proteínas concorrentes saltou, limitando a oferta para o mercado interno e encarecendo o produto para os brasileiros.

Desde então, o Brasil não saiu mais da pauta chinesa. Somente nos primeiros três meses deste ano, a China respondeu por 59,9% dos volumes exportados de carne bovina in natura e processada nacional, 52,4% dos embarques de carne suína e 14,3% de carne de frango, conforme dados da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA) e da Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo). Na ordem cronológica, ao mesmo passo em que os chineses continuaram comprando volumes relevantes de carnes brasileiras, a pandemia de Covid-19 trouxe uma forte desvalorização do Real no mercado internacional, o que fez com que o País virasse uma grande vitrine em promoção. O dólar mais apreciado ante o Real até ajudou a balança comercial, mas, por outro lado, elevou a inflação, por estimular um aumento ainda maior das exportações. Além dos fatores China e dólar, o setor de carnes enfrenta o desafio imposto pelo aumento brutal nas cotações de grãos no mercado internacional, principalmente em razão da retomada econômica em boa parte do mundo.

E isso acaba influenciando nas cotações domésticas, fornecendo um peso sobre a carne suína, avícola, e, em menor intensidade, a bovina. É por isso que os produtores seguem monitorando os preços do milho e do farelo de soja, utilizados para ração animal. Somado a questões inerentes aos diferentes ciclos produtivos, a valorização dos grãos tem levado a uma alta considerável no valor dos animais vendidos por produtores à indústria. Os frigoríficos até conseguem repassar alguns desses custos ao consumidor final, dado o fato de as carnes serem produtos de primeira necessidade de consumo. Não por acaso, o preço subiu mais de 20% nos últimos 12 meses, por essa maior eficiência no repasse de custos para produtos essenciais. Para uma pessoa abrir mão completamente do consumo de carne, significa que ela não tem mais renda para nada mesmo. A expectativa é de que não haja novas altas expressivas nos preços da carne, particularmente a bovina, mas dificilmente as cotações cairão, justamente porque a indústria está com as margens achatadas.

Com esses insumos base muito caros para uma unidade produtiva ter rentabilidade, os frigoríficos precisam manter o preço final elevado. O consumo também entra nessa conta. Afinal, o mercado doméstico registra, desde o ano passado, um movimento de substituição da carne bovina por proteínas mais baratas. Dessa forma, os preços das carnes de frango e de suínos sobem acompanhando não apenas os grãos, mas embalados também pela concorrente mais cara. E é esse o mesmo cenário desenhado para os próximos meses. A carne bovina acaba sendo menos consumida, mas, ainda assim, o preço não tem espaço para cair porque a produção permanece mais baixa, com uma queda na quantidade de abates. Por isso, mesmo se a demanda pela proteína bovina se recuperar, é possível que apenas o volume de vendas cresça, não o preço. O que poderia reverter parte desse cenário seria uma valorização repentina do Real, o que é improvável. Se isso acontecesse, seria possível ver muitos cortes que antes estavam destinados para a exportação sendo negociados no mercado doméstico.

No momento, o mercado interno não aceita volume, mas aceita preço. No tocante ao peso desses custos maiores na inflação, não apenas as proteínas como outros setores da economia estão passando por um processo de pressão, com o encarecimento de insumos. O País precisa desenvolver outros mecanismos para controlar o aumento de preços, como práticas que possam estimular a concorrência e os produtos domésticos, a exemplo do corte temporário das tarifas de importação de milho e soja de países de fora do Mercosul. Ajustar a Selic é um remédio forte demais porque no fim das contas o aumento da taxa de juros acaba penalizando a indústria e contendo o aquecimento da atividade econômica. O mercado está atento à escalada de preços dos grãos e nas últimas semanas as expectativas para a inflação deste ano estão subindo para além do teto da meta, que é de 5,25%. Mas, para se ter um direcionamento mais claro sobre a participação das carnes na inflação até dezembro, é preciso ver o comportamento da demanda no segundo semestre e como a oferta vai reagir. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.