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29/Abr/2021

“Carne” vegetal: Beyond Meat x Impossible Foods

Quando a Beyond Meat abriu o capital em maio de 2019, suas ações dispararam 163% em seu primeiro dia de negociação, tornando-se a grande IPO de melhor desempenho nos Estados Unidos em mais de uma década. Aquela sensacional estreia no mercado de ações pode ter levado muita gente a imaginar que a Beyond Meat teria alguma dificuldade no mercado de carne-sem-carne. Mas, não diga isso ao Bareburger, uma rede de hambúrgueres de luxo com 38 lojas e sede em Nova York, com um mix de carnes e oferece opções veganas. A empresa tirou os produtos da Beyond Meat de seu cardápio em 2020, enquanto continuava a servir os da arqui-inimiga, Impossible Foods. A rede vinha servindo comida da Beyond e da Impossible por mais de dois anos e decidiu que não valia a pena manter os hambúrgueres da Beyond em estoque quando recebiam tão poucos pedidos de seus clientes. Há alguns anos, a grande questão era se a carne artificial iria decolar. Agora, está se tornando popular. O mercado global está projetado para chegar a US$ 450 bilhões em 2040, de acordo com a consultoria global, Kearney.

A nova questão é: Quem irá comandar esse segmento? Nos Estados Unidos, a disputa tem sido em grande parte entre a Beyond e a Impossible. Só pelos números, a Beyond é, sem dúvida, a líder: está em mais varejistas nos Estados Unidos (28.000 em comparação com os 20.000 da Impossible), em mais restaurantes (42.000 nos Estados Unidos em comparação com mais de 30.000) e em mais mercados internacionais (mais de 80 contra 5). A empresa relatou um aumento de 36,6% na receita líquida em 2020 e em 2021 anunciou novas ou ampliadas parcerias com o McDonald’s, a Yum! e a PepsiCo. Tem uma forte presença na China e na União Europeia, onde as portas permanecem fechadas para os produtos da Impossible, devido ao heme (o ingrediente geneticamente modificado que eles contêm). Mas, a liderança da Beyond pode estar diminuindo. Suas vendas de serviços de alimentação caíram vertiginosamente durante a pandemia, por causa dos bloqueios e da forte dependência da empresa em pequenas cadeias de restaurantes e independentes.

Embora esses restaurantes tenham sofrido grandes perdas com a restrição do serviço de refeições fora de casa, as redes maiores se saíram melhor graças à sua tecnologia de pedidos por aplicativo e drive-thrus, criados em função da Covid-19. Isso causou uma mudança no perfil da Beyond. Sua separação dos grandes restaurantes para pequenas operadoras, hotéis, faculdades etc., passou de 30% a 70% no final de 2019 para 42% a 58% no verão de 2020, e não por ter acrescentado grandes redes. Essa mudança de receita que está ocorrendo é predominantemente impulsionada pelo declínio nos negócios de contas menores. A recém-introduzida expansão de itens no café da manhã como a salsicha Beyond para as redes Peet’s Coffee e Caribou Coffee deveria ajudar a elevar os resultados da empresa de serviços de opções de alimentação, assim como as parcerias com a McDonald’s e a Yum! à medida que se juntam à Dunkin’ como grandes empresas de restaurantes que vendem produtos da Beyond. Mas, esses grandes negócios de fast-food não produzirão resultados antes do final de 2021.

Nesse cenário, a Impossible vem aumentando sua presença em restaurantes. Em junho, anunciou que um sanduíche servido no café da manhã seria vendido na maioria das lojas Starbucks dos Estados Undos, a famosa cafeteria parceira da Beyond na China. A rede de café juntou-se a grandes players como Burger King, White Castle, Red Robin e Qdoba na venda de produtos da Impossible. Isso resultou na maioria dos restaurantes clientes da Impossible sendo grandes redes com opções de entrega, drive-thru e comida delivery que são resilientes à pandemia, que são exatamente os tipos de restaurantes onde a Beyond é mais fraca. Em janeiro, a facilidade de fazer pedidos por aplicativo estava melhorando o crescimento das vendas dos produtos da Impossible. Mesmo em supermercados, há muito um reduto da Beyond, a Impossible fez significativas incursões. Durante a pandemia, a Impossible aumentou sua presença nos supermercados dos Estados Unidos de cerca de 150 para mais de 20.000.

Isso elevou a Impossible de uma participação de mercado de 5% em hambúrgueres frescos à base de vegetais vendidos no varejo para 55%, em grande parte às custas da Beyond, de acordo com uma análise da consultoria AllianceBernstein. A Beyond ainda está em mais lojas e comercializa salsichas, mas a diferença de locais diminuiu para apenas alguns milhares, e a salsicha da Impossible certamente chegará aos supermercados em algum momento. Neste ano, a Impossible diminuiu os preços de restaurantes e mercearias, forçando a redução dos preços da Beyond e ficando mais perto do custo da carne bovina. A Beyond, por sua vez, ofereceu seu preço promocional mais agressivo no varejo até agora. Seus hambúrgueres e bifes de carne moída mantêm os dois primeiros lugares na categoria de alternativas de carne, mas as marcas ainda estão em pé de igualdade. A Beyond diz que todas as promoções foram planejadas meses antes do corte de preços da Impossible. Os concorrentes também estão abrindo caminho.

A Livekindly Collective, empresa internacional com US$ 335 milhões em novos financiamentos, vende uma variedade de carnes artificias, incluindo uma crocante pepita de “frango” que usa um slogan perto do discurso de marketing da Beyond. “Coma o que você quer”, que vem escrito na parte de trás da embalagem do produto, quase um eco do slogan “Coma o que você ama” da Beyond. A Beyond vende frango crocante por meio de testes com restaurantes da KFC, mas ainda não vende o produto em supermercados. Os varejistas também estão adotando substitutos de carne produzidos a partir de insumos vegetais em seus produtos de marca própria, que muitas vezes oferecem preços mais baixos do que produtos de marca e se beneficiam de espaço de prateleira garantido. A marca Simple Truth, da rede de supermercados Kroger, lançou mais de 50 alternativas de carne e laticínios veganos, incluindo molhos, sobremesas e, é claro, carnes artificiais. A Wegmans, a Albertsons e redes regionais menores também vendem suas próprias versões. Os principais produtores de carne, a Smithfield Foods e a JBS lançaram seus produtos.

Todos eles estão se beneficiando da divulgação que a Beyond e a Impossible estão criando para todo o setor. A Beyond está agora com produção na Europa (com um parceiro local) e na China (com sua própria fábrica recém-inaugurada), com o objetivo de um alcance internacional significativamente mais amplo do que a Impossible. Mas, existem players locais em todo o mundo, alguns com seus próprios contratos lucrativos de fast-food, que não podem ser ignorados. Até mesmo a McDonald’s, que em fevereiro nomeou a Beyond como seu “fornecedor preferencial” para o McPlant, disse que os restaurantes que já vendem carnes artificiais concorrentes podem continuar a fazê-lo. O apetite insaciável do mundo por carne deve deixar muito espaço para todos que tentam vender seus substitutos. As vendas de carnes vegetais representam apenas 2,7% das vendas de carnes embaladas nos Estados Unidos. Mas, isso não significa que a Beyond possa ficar tranquila. A Beyond Meat e a Impossible Foods continuarão sendo líderes de mercado, mas há um alerta para Beyond: as guerras de refrigerantes produziram contínuo campeão de vendas: a Impossible pode se tornar a Coca-Cola da categoria, e a Beyond, a Pepsi. Fonte: Bloomberg. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.