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01/Abr/2021

Carnes: PSA na China é risco à inflação no Brasil

Em meio a expectativas de inflação já perto do teto da meta (5,25%), um risco "novo" tem ganhado corpo nos cenários para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) deste ano: a possibilidade de uma outra rodada de encarecimento da carne no País, em meio a temores de que o retorno do surto de peste suína africana (PSA), na China, desacelere a recuperação do rebanho de suínos e force o país a continuar buscando proteína no exterior, como ocorreu no fim de 2019. Ainda é difícil dimensionar a gravidade do problema na China, considerando a falta de transparência do governo chinês. Mas, as notícias já existentes são suficientes para colocar esse fator como um dos principais riscos de alta para a inflação deste ano, junto com a gasolina. Está no radar e preocupa um novo ciclo global de alta de proteínas para o cenário de inflação este ano.

O Ministério da Agricultura e Assuntos Rurais da China admitiu, no início de março, que há um surto de peste suína africana em duas províncias importantes para criação de suínos, Hubei e Sichuan. Assim, estão sendo acompanhados os impactos sobre os preços de soja e carne, uma vez que há pouca transparência nas informações sobre o grau da doença no país asiático. Embora a cotação da soja em grão tenha resistido, com estoques baixos nos Estados Unidos e problemas climáticos na Argentina e no Brasil, a cotação do farelo de soja já caiu cerca de 15% do pico em meados de janeiro. O preço da soja em grão reage mais ao humor do mercado sobre a safra. O preço do farelo responde mais à demanda chinesa, por ser o insumo mais próximo para a ração animal. Nos preços da carne, o impacto ainda é "confuso", uma vez que o valor do suíno está caindo em virtude de uma correção, após alta significativa nos meses anteriores. O preço de bovinos, por sua vez, segue em escalada.

No ano, segundo o Indicador do Boi Gordo CEPEA/B3, a alta é de mais de 18%. Ante o mesmo mês do ano passado, o avanço é de 55,8%. Se a peste suína africana ganhar força, o boi gordo vai subir ainda mais e o suíno vai inverter a queda. Por enquanto, com as informações disponíveis, pode haver um choque, talvez não igual ao ocorrido de outubro a dezembro de 2019. Mas, isso está no radar. Esse fator e o preço da gasolina são os principais riscos de alta para a projeção atual de 5,0% para o IPCA de 2021. Em 2019, o impacto da alta de carnes (32,40%), que inclui os cortes de bovino e de suíno, no IPCA foi de 20% do índice geral (4,31%), que tem mais de 400 itens. Em 2020, os preços continuaram subindo e fecharam o ano com elevação de 17,97%. De outubro a dezembro de 2019, houve uma aceleração forte da demanda chinesa por proteínas no contexto do colapso da produção local de carne suína em razão do surto da doença, que se iniciou em 2018 e dizimou pelo menos 40% do plantel do gigante asiático.

Como o Brasil, e o mundo, não conseguiam dar conta de produção suficiente de suínos para responder a demanda da China, a exportação de bovinos avançou, limitando a oferta para o mercado interno e encarecendo o produto para os brasileiros. Nesse período, os pecuaristas brasileiros também iniciaram um movimento de aumento no abate de fêmeas. Essa é uma decisão que o produtor costuma tomar para não aumentar o custo de produção na fazenda quando o preço da arroba está mais fraco. Mas, desta vez, também foi influenciado pelo crescimento da necessidade de importação de carne pela China. Com um menor volume de fêmeas disponível, o mercado passou a registrar escassez de bezerros, o que levou os pecuaristas a iniciarem em 2020 um movimento de retenção de fêmeas para aproveitar os preços remuneradores da atividade de cria. Por trás do impulso da demanda externa, é essa característica do ciclo pecuário que corrobora para a inflação das carnes, já que a retenção de fêmeas torna escassa a oferta de bovinos prontos para o abate.

A inflação será maior no Brasil mesmo que a China não aumente as compras de carne bovina neste ano, já que a sustentação dos preços está calcada na menor oferta de bovinos. No início do ano, a perspectiva era de que o país asiático compraria menos carne bovina brasileira em 2021 do que no ano passado, mas as notícias referentes ao surto de peste suína africana geram questionamentos sobre quão menores seriam essas importações. Estão sendo levados em consideração sinais como a queda nos preços da carne suína e do suíno vivo no mercado chinês, o que pode indicar avanço na recuperação das matrizes. Entretanto, é preciso ficar atento para entender se a queda nos preços locais não é resultado dos abates preventivos que têm sido realizados pela China. Embora os novos focos da doença acendam um alerta para o mercado, a aposta é em um controle mais assertivo do vírus desta vez.

Um fator importante é a mudança no modelo de produção de suínos da China, que deixou de ser predominantemente caseiro e artesanal para um formato industrial e mais tecnificado. Agora, a China tem mais controle sobre a produção. E mesmo que não haja uma nova propagação desenfreada da doença, a expectativa é de alta de 2% a 4% nas compras de carne bovina brasileira pela China este ano, uma vez que a recuperação do rebanho segue em curso. "Se a doença não foi totalmente controlada, a tendência é que a China continue fazendo fortes compras do Brasil, resultando em um terceiro ano de preços elevados das carnes. Seria um fator a mais a pressionar a inflação, que já está sendo puxada pelos aumentos recentes da gasolina e de itens industriais em meio à falta de estoques e câmbio depreciado.

Por ora, contudo, os preços de alimentos não devem atingir as elevadas taxas de 2020 (18,15%, em alimentação no domicílio), mas também não tendem a ficar abaixo de 5%, como estimado no início do ano. O risco de um surto de peste suína africana na China encarecer muito os preços de carnes no Brasil existe, mas é menor do que em outros momentos. O mercado interno está mostrando bastante dificuldade de absorver os repasses, considerando o nível que alcançaram os preços. Não apenas a peste suína africana na China, mas a conjunção desse cenário, com a baixa oferta de gado no País e a crise do mercado interno, pode puxar a inflação do produto neste ano. Aliás, é o fato de o consumo doméstico estar patinando que limita novas altas nos preços da carne. Se a economia brasileira estivesse mais acelerada e o escoamento para o mercado atacadista fosse mais regular, a inflação seria ainda maior. O arrefecimento da demanda interna pode dar um alívio na inflação. Fonte: Agência Estado. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.