ANÁLISES

AGRO


SOJA


MILHO


ARROZ


ALGODÃO


TRIGO


FEIJÃO


CANA


CAFÉ


CARNES


FLV


INSUMOS

09/Mar/2021

Carne de laboratório: custos ainda são elevados

Um bife de laboratório, cultivado a partir de célula animal, ainda não sai por menos de US$ 1 mil por Kg, mas nenhuma empresa quer perder a primazia de assar o primeiro ribeye na grelha do consumidor. Entre as grandes empresas, JBS, BRF e Marfrig, que dominam o comércio global de proteínas, a BRF saiu na frente no Brasil ao anunciar uma parceria com a israelense Aleph, mas a disputa tecnológica já corre longe dos trópicos e ainda sem vencedor. Desde 2015, foodtechs trabalham no desenvolvimento de uma carne de laboratório que seja ao mesmo tempo viável e acessível. Afinal, a US$ 1 mil por Kg nem o mais suculento kobe beef convence. A previsão é chegar a ter um bife a US$ 5,00 por Kg. Num estudo feito há dois anos, a consultoria A.T. Kearney projetou que a carne de laboratório representará 35% do mercado global de carnes em 2040, um negócio de US$ 1,8 trilhão.

O posicionamento da BRF vai nesse sentido. A expectativa é que, em poucos anos, a produção será comercialmente viável. A companhia planeja uma fábrica de carne de laboratório para 2024, uma aposta ousada. A israelense Aleph é motivo de orgulho nacional no país importador de carne. Até o premiê Benjamin Netanyahu já provou a carne cultivada. Na corrida tecnológica, divide a liderança com as norte-americanas Memphis Meats, uma foodtech que já atraiu investimentos de Bill Gates, e Eat Just. A Memphis Meats é a que tem mais recursos. Além do fundador da Microsoft, trouxe para o cap table Softbank, Cargill, outra gigante da indústria da carne, o magnata Richard Branson e a Tyson Foods, maior companhia de carnes dos Estados Unidos. Após duas rodadas, a última realizada no ano passado, levantou US$ 161 milhões. A Cargill também investiu na Aleph. A multinacional participou do aporte de US$ 12 milhões feito em 2019.

Com uma tecnologia que pode fabricar a carne em impressoras 3D, a israelense que se tornou parceira da BRF apresentou em fevereiro o primeiro ribeye de laboratório. A primeira reação é de espanto, mas o produto não é transgênico, o que pode ajudar no convencimento. Na regulação, ninguém avançou mais que a Eat Just, a foodtech norte-americana que fez fama com o ovo vegano feito a partir de feijão mungo e busca um valuation de quase US$ 2 bilhões. O sucesso do scrambled eggs, aliás, é o que ajudou a startup a levantar mais de US$ 400 milhões de investidores como Bill Gates e Temasek, o fundo soberano de Cingapura. Em dezembro, Cingapura aprovou os nuggets cultivados pela Eat Just, na primeira autorização de um regulador nacional. No Brasil, as discussões com os reguladores estão apenas no começo, mas o movimento da BRF tem tudo para trazer avanços às conversas.

É um anúncio que revoluciona a visão dentro do Brasil. Ao apostar em uma tecnologia produzida por terceiros e não em um desenvolvimento próprio, o que tomaria muito tempo, a BRF avança algumas casas na fazenda de laboratório. Se ganhar escala comercial, será pioneira no País, algo que não conseguiu no mundo da plant based, pois Fazenda Futuro e Seara estão bem na frente, enquanto a BRF chegou atrasada e lançou uma linha de produtos importados da Holanda. Se der certo, a BRF ainda pode se tornar uma grande fornecedora de carne bovina, proteína que ironicamente não tem no portfólio por não saber operar o intrincado negócio de abate de gado. A companhia lidera a exportação de frango. É o momento que a BRF tanto aguarda para desafiar a Friboi: a carne de laboratório. Fonte: Valor Online. Adaptado por Cogo Inteligência em Agronegócio.